O soldado Leandro Prior, 28, apresentou à Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo a denúncia de que estaria sendo alvo de ameaça e crime de racismo desde que se tornou pública a intenção dele em pedir o namorado em casamento.

O pedido foi feito no último domingo (23/6) com Prior fardado e próximo à base em que estava de plantão, nos arredores da Cracolândia (região central de São Paulo). Ele havia solicitado à corporação na semana passada que pudesse fazer o pedido, de farda, na 23ª Parada do Orgulho LGBT, mas não obteve autorização – a negativa veio horas depois de o ofício de Prior à PM vazar em grupos de policiais no WhatsApp.

À Corregedoria, o soldado apresentou cópia de ameaça que recebeu via mensagem direta no Facebook. A ameaça teria sido feita por um policial reformado que atuou no 39º Batalhão da Capital. Na ameaça recebida via Facebook, à qual a reportagem teve acesso, o homem usa xingamentos e ameaças de conteúdo homofóbico ao se dirigir ao soldado.

“Bichona filha da put* pede baixa [ou seja, pede exoneração] seu viadão do caralh*, vou te caçar atrás te catar te encontrar e vou te quebrar todo seu viado do caralh* (sic)”, diz a mensagem, que enfatiza a Prior que ele não vai “desonrar a minha gloriosa PMSP [Polícia Militar do Estado de São Paulo].” Em tom direto, finaliza: “VOU TE CAÇAR E TE ENSINAR A VIRAR HOMEM NA PORRADA”.

A reportagem também teve acesso a outras mensagens que circularam em grupos de WhatsApp de policiais desde ontem, após o pedido de casamento ser consumado.

Em áudios, por exemplo, supostos policiais afirmam que Prior estaria “ofendendo a dignidade” da classe “e a instituição”, enquanto “mártires estão na rua caçando ladrão, prendendo, trocando tiro”. “Eles não fazem nada”, reclama o suposto PM sobre o comando da polícia a respeito do caso.

Também nesses grupos circularam fotos de Prior com o noivo e memes ridicularizando o pedido de noivado. Já no sábado (22/6), de acordo com o próprio soldado e com vizinhos do noivo dele, na Grande São Paulo, um homem teria fotografado e monitorado a área em que Silva mora.

A ameaça e as hostilidades não são exatamente uma novidade para o policial. Ano passado, após ser filmado, sem seu conhecimento, dando um selinho no então namorado, trajando farda e no metrô, Prior recebeu ameaças de morte e as levou à Corregedoria. Uma delas era contra um policial da Rota, a tropa de elite da PM paulista.

A investigação não gerou nenhuma punição. O caso de agora está em sigilo no órgão interno. Além de ameaça, será investigada também prática de racismo -sob o qual a prática de homofobia foi criminalizada, este mês, pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

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