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25 November 2024

AVC É A DOENÇA QUE MAIS MATA NO BRASIL, CONHEÇA MEDICAMENTO DIMINUI PROBABILIDADE DE SEQUELAS DE AVC.

O AVC (Acidente Vascular Cerebral) é a doença que mais mata no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, o número de mortes por essa causa chega a quase 100 mil por ano. Em dez anos, os óbitos por AVC passaram de 84.713 (em 2000) para 99.726 (em 2010).

MEDICAMENTO DIMINUI PROBABILIDADE DE SEQUELAS DE AVC

Desde a década de 1990, as doenças cerebrovasculares, especialmente os acidentes vasculares cerebrais (AVCs), são a principal causa de mortes no Brasil.

 

Cerca de 84% dos AVCs correspondem ao tipo isquêmico. Ele ocorre quando uma artéria cerebral entope, reduzindo ou interrompendo o fluxo sanguíneo e, consequentemente, a oxigenação do cérebro. Essa falta de oxigênio resulta na perda repentina de funções neurológicas. Os AVCs são responsáveis por quase 100 mil mortes e por milhares de pessoas incapacitadas todos os anos no País.

Geralmente, a obstrução da artéria cerebral ocorre em pessoas com mais de 40 anos e é causada por um coágulo, ou trombo, isto é, uma massa sólida de componentes sanguíneos, que se forma dentro de um vaso.

Em certas circunstâncias, o coágulo pode ser dissolvido com o uso de um medicamento trombolítico. O Alteplase é o único autorizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para o tratamento do AVC

isquêmico.

Em São Paulo, o Alteplase é utilizado desde 2008 em cinco hospitais da rede pública municipal. “O medicamento reduz o número e a gravidade de sequelas em 60% dos casos”, afirma o Dr. Domingos Costa Hernandez Junior, coordenador do Sistema Municipal de Atenção às Urgências e Emergências de São Paulo. O tratamento exige a aplicação de duas ampolas, cada uma ao custo de R$ 1.700.

Além de reduzir as sequelas, esse medicamento também ajuda a diminuir o número de mortes, pois muitos óbitos acontecem por problemas que se instalam em decorrência da fragilidade do organismo após o acidente. “Muitas pessoas sobrevivem ao AVC, mas acabam morrendo depois por complicações como pneumonia e trombose venosa”, explica a Dra. Sheila Martins, neurologista coordenadora da Unidade Vascular do HC de Porto Alegre.

Apesar do alto índice de sucesso, o Alteplase só pode ser usado se a aplicação for feita até 4h e 30 min após o AVC isquêmico. Reconstituir o fluxo depois desse tempo pode piorar o quadro.

 

“O coágulo interrompe a irrigação não só de uma região do cérebro, mas também do segmento do vaso que está depois da obstrução. A partir do local da interrupção, esse vaso já começa a morrer, ficando mais frágil. Restabelecer o fluxo sanguíneo nesse momento pode romper a artéria, causando um AVC hemorrágico”, explica Domingos Hernandez.

Uso restrito

Entre 2008 e 2010 foram realizadas mais de 80 aplicações desse medicamento na cidade de São Paulo, todas com redução das sequelas. Segundo Hernandez, o número corresponde a aproximadamente 8% dos casos de AVC que chegam aos hospitais. Esse resultado, o mesmo alcançado em outras cidades do País onde o medicamento é usado, é baixo devido a uma série de fatores.

 

Alguns pacientes apresentam condições particulares que impedem o uso do medicamento, como histórico de sangramento ou cirurgia recente na região cerebral. Outros acabam progredindo naturalmente para a recuperação sem sequelas dentro de 24 horas. É o chamado Acidente Vascular Transitório, que acontece quando a redução ou interrupção do fluxo sanguíneo para o cérebro é momentânea.

 

O principal motivo para o Alteplase ser pouco usado, entretanto, é que a maioria dos pacientes chega para atendimento depois de ter sofrido o AVC há mais de quatro horas e trinta minutos. Somente entre 30% e 40% chegam dentro do prazo.

“Essa taxa é verificada em locais em que houve um trabalho de conscientização sobre a doença. Onde não houve, é ainda menor: apenas entre 20% e 25% procuram ajuda a tempo”, explica a Dra. Shirley Martins. A demora para buscar socorro, na maioria das vezes, acontece por causa do desconhecimento generalizado sobre os sintomas do AVC.

Socorro imediato

Pesquisa realizada na USP de Ribeirão Preto, em 2008, com 800 pessoas, mostrou que pouco mais de 15% dos pacientes sabiam o que significa a sigla AVC, e a maioria identificava os sinais da doença como sintomas de outras 32 ocorrências, entre elas, a paralisia e a trombose. Dependendo do local e do tamanho da lesão, a intensidade dos sintomas pode variar. No entanto, os sinais do AVC isquêmico

Aparecem subitamente e são bastante característicos:

 

* Perda repentina da força muscular e formigamento em um dos lados do corpo;

 

* Cegueira ou dificuldade para enxergar;

 

* Paralisia facial (muitas vezes, os sinais são “boca torta” e pálpebra superior caída);

 

* Tontura;

 

* Dificuldade de fala e de entendimento.

 

Tão logo algum desses sintomas se instale, o paciente deve ser levado imediatamente para um hospital, pois os tecidos cerebrais começam a morrer assim que é interrompida a oxigenação.

 

Quanto mais rápido for o atendimento, maior a chance de reduzir as sequelas, que podem envolver perda de movimentos e de sensibilidade, dificuldade para falar ou entender, deficiência cognitiva e alterações de memória. Segundo a OMS, cinco milhões de pessoas ficam incapacitadas por sequelas do AVC anualmente em todo o mundo.

 

Atendimento organizado

 

O paciente com suspeita de AVC precisa imediatamente fazer uma tomografia. Como muitos hospitais e prontos-socorros não oferecem o exame, é preciso que o paciente seja levado o mais rápido possível até um hospital que o disponibilize.

 

O hospital para onde ele será levado, aliás, deve estar preparado também para, caso se confirme o diagnóstico, oferecer o tratamento na sequência, evitando novos deslocamentos.

 

Em Porto Alegre, a organização do atendimento e o treinamento de serviços pré-hospitalares como o SAMU fizeram o número de pacientes tratados na cidade subir de 65 para 206 por ano. “Nos locais em que a rede já está bem articulada, conseguimos tratar de 15 a 20% dos pacientes com AVC isquêmico”, afirma a Dra. Sheila Martins.

 

Feita a tomografia, surge outro ponto-chave no atendimento: é necessário um neurologista para avaliar o resultado, e não há profissionais suficientes nos setores de emergência. “Uma das saídas é a implantação da telemedicina, que pretendemos sistematizar em São Paulo”, afirma o coordenador Domingos Hernandez. “Dessa forma, um neurologista pode analisar resultados de tomografia sem estar fisicamente no local do atendimento”, explica.

 

O modelo é usado em países desenvolvidos para auxiliar hospitais de menor complexidade, que não possuem especialistas, inclusive em áreas rurais. No Brasil, o primeiro hospital a usar a telemedicina para tratar vítimas de AVC com Alteplase foi o Hospital de Pronto Socorro de Canoas, em julho de 2008. “Os excelentes resultados, além dobaixo custo, demonstraram que essa tecnologia pode ser usada no Brasil”, comenta Sheila Martins.

 

O atendimento completo de um paciente de AVC termina com a especialização dos cuidados pós-emergência. As chamadas Unidades de AVC são setores hospitalares com instalações adequadas e equipe treinada para fazer o tratamento do paciente quando ele já está estabilizado. “Após o atendimento de urgência, é preciso fazer um controle rígido da pressão arterial e da glicemia, assim como evitar o surgimento de pneumonia. O atendimento direcionado diminui em 19% a mortalidade, e em 25% o risco de o paciente ficar dependente de outras pessoas devido a sequelas”, afirma a Dra. Sheila.

 

 

Fonte Dr . Drauzio varela