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26 November 2024

Bahia tem quase 8 mil suspeitos de crimes procurados pela polícia

Dados do Conselho Nacional de Justiça colocam a Bahia na 4ª posição entre os nove estados do Nordeste em número de procurados

“Autor de latrocínio contra assessor da Prodeb é preso em Santa Catarina”, “Noivo é preso uma semana antes do casamento por ligação com facção”, “Líder do BDM na Bahia é capturado em São Paulo”, e “Empresário é preso em Salvador por sonegação de impostos”. Apesar das manchetes do CORREIO atestarem os esforços da polícia para prender os criminosos, a Bahia ainda tem quase 8 mil mandados de prisão em aberto. O número equivale à população inteira do município de Nova Fátima. No Brasil, são 294 mil pessoas nesta situação.

Os dados são do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e colocam a Bahia  na 4ª posição entre os nove estados do Nordeste em número de procurados, atrás do Ceará (15.003), Pernambuco (11.350) e Maranhão (8.958). Na comparação nacional, o estado fica no 14º posto no ranking.

Em abril deste ano, Cléber Santos da Silva, 36 anos, estava fazendo os últimos preparativos para o próprio casamento que seria realizado na semana seguinte, mas precisou adiar os planos. Por volta das 6h, ele  levou um susto ao abrir a porta do apartamento em que morava, no Morumbi, em São Paulo, e dar de cara com investigadores da Polícia Civil da Bahia.

Segundo os investigadores, ele e outro preso no mesmo condomínio lideravam um braço da facção Bonde do Maluco (BDM) e estavam foragidos do Complexo Penitenciário da Mata Escura.

Até o dia 7 de dezembro, 7.947 pessoas eram consideradas fugitivos ou foragido (aquele que já foi preso) por suspeita de cometerem crimes na Bahia. Em 2011, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) criou o Baralho do Crime,  uma ferramenta que reúne os 52 criminosos mais perigosos do estado que ainda estão à solta. A intenção é contar com a ajuda da população para reduzir esse número.

As cartas registram os nomes, os apelidos com que os bandidos são conhecidos, os crimes pelos quais eles respondem e as regiões do estado em que atuam. O material fica disponível no site do Disque Denúncia e quem tiver informações sobre o paradeiro dos criminosos pode ajudar a polícia através do (71) 3235-0000 ou 181. O sigilo é garantido.

Homens
Entre os listados, dois se destacam por serem os únicos entre os 52 mais perigosos a não terem uma área de atuação definida. O poder deles sobre as facções criminosas é tamanho que a polícia não conseguiu delimitar até onde vai a influência dos bandidos. É o caso do 3 de Ouros, Antônio Moreira de Costa Júnior, o Tentem ou Junior do Gás.  Há registros do envolvimento dele no tráfico de drogas em cidades como Sapeaçú, Castro Alves, Conceição do Almeida e Feira.

O outro é José Francisco Lumes, mais conhecido como Zé de Lessa, o Às de Ouro do baralho do crime. Em agosto do ano passado, o CORREIO contou como a facção Bonde do Maluco surgiu de dentro do Pavilhão V do Complexo Penitenciário da Mata Escura, em Salvador.

Liderado por Zé de Lessa, o grupo se ramificou por diversos bairros da capital e municípios da Região Metropolitana de Salvador. O bandido entrou para a lista dos mais perigosos em outubro de 2015 e ainda não foi capturado.

O caso com repercussão mais recente envolvendo um procurado do Baralho do Crime é do Rei de Espadas, Anselmo Santos da Conceição, conhecido também como Sel, Chico, Seu Barriga ou Negão. Segundo a polícia, ele participou do latrocínio (roubo seguido de morte) do professor universitário Danilo Fortuna Mendes de Souza, ocorrido em setembro no bairro da Boca do Rio.

Mulheres
Entre as mulheres procuradas, três se destacam, sendo a mais famosa Dona Maria. Há quem diga que o crime vem de berço. A mãe dela responde por tráfico de drogas e foi esposa de Antonilton de Jesus Martines, o Nenzão, um dos maiores traficantes de Vitória da Conquista. Jasiane Silva Teixeira, 29, a Dona Maria, seguiu os passos da mãe e se envolveu com o traficante Bruno de Jesus Camilo, o Pezão, fundador do Bonde do Pezão. Os dois tiveram um filho que tinha 4 anos quando Bruno morreu em confronto com a polícia, em 2014. A viúva resolveu então assumir os “negócios” da família.

Depois da morte de Pezão, houve um racha entre vários grupos que eram ligados a ele e isso desencadeou uma disputa acirrada, com muitas mortes, em Conquista. Dona Maria assumiu a liderança de uma das organizações, articulou alianças e ampliou a atuação para Jequié, onde mudou o nome da facção para Bonde do Neguinho (BDN). Com o título de Dama de Copas no baralho do crime, ela é procurada por tráfico de drogas e homicídio.

Já Cláudia de Jesus Santos, a Gagai, ganhou o status de perigosa em novembro. Segundo a SSP, ela é uma das principais traficantes de drogas de Feira de Santana e, por isso, ocupa a posição de 2 de Paus no Baralho do Crime. A terceira  é Marisangela Soares de Sousa, a Mari ou Coroa. Segundo a polícia, ela está entre os dez criminosos de alta periculosidade que atuam em Salvador, liderando o tráfico de drogas na região da Cidade Nova.

Polícia
Segundo o presidente do Sindicato dos Policiais Civis da Bahia (Sindpoc), Eustácio Lopes, o principal entrave para os investigadores cumprirem os mandados de prisão é a falta de pessoal.

“Hoje a Bahia tem efetivo de 7 mil policiais quando deveria ter, no mínimo, o dobro, segundo um estudo feito pelo sindicato. Sendo que 2 mil deles estão aptos para se aposentar. A situação é mais crítica nas delegacias de bairro e no interior. O policial não tem como investigar e fazer prisões quando a delegacia malmente tem um escrivão. Sem pessoal, não tem como se fazer investigação e sem investigação não é possível reduzir a criminalidade”.

A Polícia Civil informou que hoje  existem 5.752 policiais na ativa, entre delegados, escrivães e investigadores.

Número de foragidos chega a 657
Dos 7.947 procurados, 657 deles entraram para a lista de foragidos depois de serem liberados das unidades prisionais durante saídas temporárias e não retornarem. Segundo dados da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), no ano passado, 852 detentos foram contemplados com o benefício de Natal e Ano-Novo, mas 78 deles não retornaram para as unidades prisionais.

A saída temporária é um direito dos presos que cumprem pena em regime semiaberto. Quando ele é primário é preciso que já tenha cumprido um sexto da pena total para receber o benefício. Caso seja reincidente, é exigido um quarto da pena. Além disso, é necessário ter boa conduta carcerária, porque antes de conceder a saída temporária, o juiz consulta os diretores do presídio.

A Seap informou que o benefício deve ser pedido ao próprio diretor-geral do presídio, que encaminha ao juiz a relação dos presos que têm direito à saída temporária. Caso o nome do preso não esteja na relação, o advogado dele precisa fazer a solicitação diretamente ao juiz.

A instituição frisou que apesar de alguns presos não retornarem para as unidades prisionais, esse direito é importante porque visa a reinserção gradual dos internos, e que existem vários critérios objetivos e subjetivos que influenciam na decisão de conceder ou não a saída temporária.

Já a Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que a população pode ajudar os investigadores a localizar os foragidos através do Disque Denúncia, do 190, e dos perfis da SSP nas redes sociais (Facebook, Twitter e Instagram). O sigilo é garantido.

SSP  aposta em trabalho conjunto
Na manhã do dia 19 de novembro, Gabriel Bispo dos Santos, 24 anos, estava se preparando para sair de casa, no interior  de Santa Catarina, quando foi surpreendido por um grupo de policiais da Bahia. Ele estava sendo procurado por envolvimento no latrocínio do assessor da Prodeb Michel Batista de Sá, 35 anos, ocorrido em agosto deste ano, em Salvador, e foi localizado após uma investigação conjunta entre policiais da Bahia e de Santa Catarina.

As parcerias nas apurações têm sido uma das estratégias adotas pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) para encontrar os procurados que estão escondidos em outros estados. A instituição informou, em nota, que o objetivo do trabalho conjunto é cumprir mandados de prisão e busca e apreensão.

“Essas ações, na maioria das vezes, contam não só com o efetivo das forças estaduais, como também, com o apoio da Polícia Federal, seja no cumprimento dos mandados ou no compartilhamento de informações. Nos casos de quadrilhas com atuação interestadual, também há parcerias com as polícias de outros estados”, diz a nota.