Bariátrica não é milagre: cirurgia requer cuidados antes e depois
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Cirurgia está longe de ser um tratamento estético
O que o apresentador André Marques, o diretor Boninho e o ator Leandro Hassum têm em comum? Todos apostaram na redução de estômago para ajudar a conquistar corpo dos sonhos, assim como muitos brasileiros no ano passado. Tanto que os números da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) mostram que esse tipo de cirurgia cresceu 6,25% em relação a 2014.
No entanto, e apesar dos vários casos de sucesso, o procedimento pode dar problemas. Filho de Estevam e Sônia Hernandes, fundadores da igreja Renascer, Felipe Daniel Hernandes morreu na última quarta-feira (14) após ficar cinco anos em coma vegetativo. Em 2005, ele passou por uma cirurgia bariátrica e emagreceu mais de 40 quilos, segundo informações publicadas pela imprensa na época. Contudo, meses depois, teve fortes dores abdominais e precisou ser operado para remover um pedaço obstruído do intestino. Uma das suturas se rompeu, causando hemorragia interna e uma forte infecção, que o levou ao quadro com o qual permaneceu até o dia de sua morte.
Caetano Marchesini, presidente eleito da SBCBM, nega que este seja um procedimento perigoso. “Atualmente, a bariátrica é reconhecida como a forma mais eficaz de tratar obesidade mórbida. Ela também possui os mesmos riscos que qualquer outro tipo de cirurgia e pode ter complicações – como sangramento ou trombose. Ou seja, problemas não necessariamente relacionados a esta técnica”, explica o médico.
Segundo o profissional, o paciente precisa compreender que esta é uma decisão para a vida inteira e representa a cura para uma doença, a obesidade. Por isso mesmo, passa longe de ser um tratamento estético ou uma solução mágica.
Os cuidados pré e pós-cirúrgicos incluem apoio nutricional, psicológico e até psiquiátrico — caso seja necessário — além de um acompanhamento multidisciplinar permanente e anual para que a pessoa permaneça saudável e bem longe dos antigos hábitos.
Outra dica que pode parecer óbvia, mas que é extremamente importante: você deve escolher um profissional especializado no assunto. Atualmente, segundo Marchesini, o Brasil possui a segunda maior sociedade metabólica e bariátrica no mundo. “Vale a pena procurar informações sobre o médico em órgãos reconhecidos pela categoria e ainda utilizar a internet para ir atrás de mais informações. Atitudes assim diminuem a chance de você acabar em mãos erradas”, orienta.
Suporte especializado
Para a vice-presidente da Comissão de Especialidades Associadas da SBCBM (COESAS), Andrea Levy, que também é psicóloga clínica e bariátrica, algo fundamental para o sucesso do procedimento é o bom preparo. “Esta é uma cirurgia eletiva (o paciente marca o procedimento), não emergencial e com efeitos para o resto da vida. A pessoa precisa estar com a saúde clínica e mental em ordem”, explica. Por isso, além do diagnóstico clínico, é importante fazer um acompanhamento psicológico bem detalhado antes da operação. “Se descobrirmos uma depressão ou ansiedade, por exemplo, melhor adiar um pouco e tratar o problema”.
A questão nutricional é um ponto-chave no acompanhamento do paciente, pois alguns quadros de desnutrição podem ser confundidos com depressão, algo possível de ser descoberto durante as consultas de rotina. “E, se a pessoa estiver desnutrida, ainda aumenta a chance de se tornar compulsiva”, destaca.
Andrea ainda conta que não é algo comum, mas existe o risco da pessoa trocar o vício da comida por outro — se tiver alguma predisposição. “A absorção do álcool fica mais rápida depois da cirurgia, o que pode gerar um comportamento abusivo em quem já fazia uso antes. Mas quero ressaltar que não é o que acontece na maioria dos casos, e sim algo em torno de 2% a mais da população que já tem problemas com a bebida”, diz.