mar 7, 2016
Bastidores: Divulgação do que Delcídio disse agita gabinetes em Brasília
A PF conseguiu indícios que confirmam pelo menos dois pontos do depoimento prestado à Procuradoria Geral da República
Nos últimos dias, o ministro relator da operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, recebeu a informação de que tanto a PF como o Ministério Público Federal têm elementos capazes de confirmar algumas importantes revelações feitas pelo senador Delcidio do Amaral (PT-MS) em acordo de deleção premiada, divulgadas com exclusividade na última edição de ISTOÉ. Com base nessas investigações preliminares, Zavascki decidiu homologar o acordo com o ex-líder do governo no Senado, o que deverá ocorrer até o final da próxima semana. Trata-se de um procedimento rotineiro imposto a todos os demais delatores. Não basta fazer o depoimento, é preciso que haja indícios de que o que está sendo dito é verdadeiro. Só assim o acordo recebe a chancela da Justiça e passa a ter efeito legal.
No caso da deleção feita por Delcídio, a PF conseguiu indícios que confirmam pelo menos dois pontos do depoimento prestado à Procuradoria Geral da República. O primeiro se refere ao que o senador definiu como a “ação decisiva” da presidente Dilma Rousseff para a nomeação de Nestor Cerveró à diretoria da BR Distribuidora. Como foi divulgado por ISTOÉ, Delcidio afirmou aos procuradores que em março de 2008 a então ministra Dilma Rousseff se empenhou para manter Cerveró, um dos principais operadores do Petrolão, na direção da Petrobras. Ele havia perdido o cargo de diretor internacional por pressão do PMDB e, para mantê-lo na estatal, Dilma teve efetiva participação. O ex-líder do governo no Senado disse aos procuradores da Lava Jato que estava na Bahia no último final de semana de fevereiro 2008 quando recebeu um telefonema de Dilma perguntando se havia sido feita a indicação de Cerveró para a diretoria financeira na BR Distribuidora. Na segunda-feira seguinte, já no Rio de Janeiro, Dilma ligou outras duas vezes para confirmar a nomeação de Cerveró. Segundo levantamento feito pela Polícia Federal, registros telefônicos confirmam as ligações mencionadas pelo senador Delcídio.
O outro ponto importante do depoimento já preliminarmente checado diz respeito ao pagamento de R$ 250 mil em cinco parcelas de R$ 50 mil à família de Cerveró, acertado no período em que permaneceu preso pela Lava Jato. O próprio senador foi para a cadeia depois de ser flagrado em uma conversa oferecendo dinheiro e fuga a fim de evitar uma delação do ex-diretor da Petrobras. No depoimento de Delcídio, divulgado por ISTOÉ, ele afirma que foi o ex-presidente Lula o mandante dos pagamentos para a família de Cerveró. Segundo revelou o senador, Lula lhe pediu para procurar o pecuarista José Carlos Bumlai que iria lhe passar o dinheiro a ser entregue para Cerveró. Delcídio, no entanto, fez contato com Maurício Bumlai, filho de José Carlos. Afirmou que 25 de maio de 2015 encontrou-se com Mauricio no restaurante Rodeio do shopping Iguatemi, em São Paulo, pegou R$ 50 mil e entregou ao advogado de Cerveró, Édson Ribeiro. A PF já confirmou que em 24 de maio de 2015 Delcidio saiu de Brasília com destino a São Paulo e que no dia seguinte almoçou com Mauricio Bumlai no restaurante Rodeio do Shopping Iguatemi.
Até a noite da quinta-feira 3, outros dados apresentados por Delcídio estavam em processo de investigação prévia, principalmente dados telefônicos no Rio de Janeiro e em Brasília. O que ficou acertado com os procuradores é que a partir da homologação do acordo de delação premiada, o senador irá fazer novas revelações e oferecer mais detalhes sobre o que já foi denunciado. Como ex-líder do governo, Delcidio tem muito mais a contar.