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29 September 2024

Bolsonaro diz que Moro condicionou demissão de Valeixo a indicação ao Supremo

Cercado de ministros, o presidente Jair Bolsonaro respondeu ao pedido de demissão de Sergio Moro nesta sexta-feira, afirmando que o ex-juiz condicionou a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, a sua indicação à vaga de Celso de Mello, no Supremo Tribunal Federal (STF).

“Mais de uma vez o senhor Sergio Moro disse para mim: você pode trocar Valeixo sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o Supremo Tribunal Federal. Me desculpe mas, não é por ai”, afirmou Bolsonaro.

Bolsonaro exonerou o diretor-geral da Polícia Federal, nome de confiança de Moro, o que teria sido a gota d’água para seu pedido de demissão, horas mais tarde. A troca, de acordo com o ex-ministro, seria uma interferência política na PF, já que nenhuma causa aceitável foi apresentada.

No Twitter, Moro negou que a permanência do diretor-geral da PF, tenha sido utilizada como moeda de troca. “Se fosse esse o meu objetivo, teria concordado ontem com a substituição do Diretor Geral da PF”, escreveu o ex-ministro.

No discurso, Bolsonaro disse que a indicação de Valeixo foi feita por Moro, apesar da legislação definir que essa é uma “decisão exclusiva do presidente da República”.

Resposta: Panelaços ocorrem pelo país durante pronunciamento sobre pedido de demissão de Moro

“Abri mão disso, porque confiava no senhor Sergio Moro. Ele levou a sua equipe aqui para Brasília. Todos os cargos-chave são de Curitiba, inclusive a PRF”, disse, acrescentando que isso o surpreendeu: “Será que os melhores quadros da PF todos estavam em Curitiba? Mas vamos confiar, vamos dar um crédito… E assim começamos a trabalhar.”

O presidente disse que falava-se de interferência dele na Polícia Federal, mas a troca de uma pessoa na “pirâmide hierárquica do poder Executivo” é uma prerrogativa do seu cargo. Segundo Bolsonaro, ele não precisa de autorização de ninguém para “trocar um diretor”.

“Oras bolas, se eu posso trocar um ministro, por que não posso, de acordo com a lei, trocar o diretor da Polícia Federal? Eu não tenho que pedir autorização para ninguém para trocar o diretor ou qualquer um outro que esteja na pirâmide hierárquica do Poder Executivo.”

Em seguida, afirmou que teve que “quase que implorar” para que Moro investigasse a facada que levou durante a campanha presidencial em 2018. Ele disse que a Polícia Federal deu mais atenção ao assassinato da vereadora Marielle Franco, que a do “chefe supremo”.

“Será que é interferir na Polícia Federal quase que exigir, implorar a Sergio Moro que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sergio Moro mais se preocupou com Marielle do que com seu chefe Supremo. Cobrei muito deles aí.”

Aras pede inquérito

Na coletiva de imprensa mais cedo, o ministro chegou a relatar a conversa que teve com Bolsonaro na quinta-feira sobre a demissão de Valeixo.

“Ontem conversei com o presidente. Houve insistência nessa troca. Falei que seria interferência política, e ele disse que seria mesmo.”

A saída de Moro do ministério e as afirmações feitas por ele provocaram reações em Brasília e no resto do país. Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) viram a fala do ex-juiz com preocupação, mas não detalham, por ora, qual seria a consequência prática.

Um deles disse, em caráter reservado, que o discurso de Moro pode ter repercussão jurídica e política. Para esse ministro, as declarações poderiam ensejar um processo de impeachment no Congresso Nacional, ou uma ação judicial por crime comum.

Após o anúncio da demissão, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu a abertura de um inquérito ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o presidente para investigar as supostas tentativas de interferência política no órgão.

Algumas horas após o pronunciamento de Moro, Aras assistiu à gravação do anúncio de demissão do ex-ministro e pediu à sua equipe uma análise jurídica sobre possíveis crimes cometidos pelo presidente em sua conduta. A equipe analisou que existem indícios de que a conduta de Bolsonaro pode ser enquadrada em delitos como obstrução à investigação de organização criminosa e advocacia administrativa. Com isso, Aras decidiu enviar ao STF um pedido de abertura de inquérito.Exoneração Moro