Casais de terceira idade falam sobre a importância do sexo
A sexualidade na velhice é um assunto pouco falado, tanto pelos próprios idosos quanto na sociedade. Porém, não existem razões para pensar que, com o passar dos anos, a vida sexual acaba. De acordo com Aparecida Yoshie Yoshitome, especialista em saúde do idoso da Escola Paulista de Enfermagem da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o padrão sexual do idoso reflete a vida sexual que ele teve quando jovem. “Não há o vigor da juventude, mas há mais intimidade.”
A tecnóloga em oftalmologia Maria Angela Pereira Cardoso, 58, é prova disso. Casada há 37 anos com o servidor público Antonio Martins Cardoso, 61, ela garante nunca ter parado de transar. “Não temos regra de frequência. Às vezes, é semanal, às vezes, quinzenal”, diz Maria Angela.
Arquivo Pessoal
Maria Angela e Antonio Martins Cardoso estão juntos há 37 anos
imagem: Arquivo Pessoal
A regularidade pode até diminuir com o passar do tempo, mas não significa necessariamente falta de desejo. Com o amadurecimento, é natural que o conceito de sexo se amplie. Assim, carícias podem substituir a penetração, sem prejuízos para o casal.
“Nossa vida íntima se desenvolve com naturalidade, porque nutrimos nossos sentimentos diariamente. Mesmo diante dos problemas, mantemos nossos carinhos e beijos. O sexo é consequência”, diz Maria Angela.
O que ocorre com alguns idosos é a dificuldade de se adaptar às limitações comuns da idade. Mas, de acordo com o geriatra Paulo Camiz, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, privar-se do sexo por achar normal não conseguir mais transar é um erro.
Se a idade traz algum problema de saúde que limita a prática sexual, o idoso deve procurar um médico.
Por exemplo, para as mulheres, a secura vaginal é comum e resulta em dores durante a penetração, mas é facilmente tratada. “A mulher pode aplicar cremes vaginais com hormônios, que resolvem o desconforto”, declara Camiz.
Já os homens precisam de mais tempo para chegar a uma ereção completa. Porém, com a saúde em dia, nem será necessário recorrer a remédios para ter um pênis ereto.
“O que ocorre é que ele precisará de um intervalo maior entre uma relação sexual e outra. O idoso não consegue mais ter três ereções ao dia”, diz o médico.
Preconceitos internos
Mais difícil é tratar os próprios preconceitos. Muitos casais chegam aos 60 anos inibindo o próprio desejo sexual por acreditar que não têm mais idade para pensar em sexo, muito menos fazer.
“As questões sexuais são entendidas como algo que ficou em uma etapa anterior. Algumas mulheres pensam: ‘agora já sou avó, tenho outras prioridades’”, diz a psicoterapeuta Dorli Kamkhagi, doutora em psicologia clínica e coordenadora de grupos do amadurecimento no Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.
“Falar de sexo é libertador para algumas pessoas. Para outras é ser libertino, elas acham que por pensar nisso estão perdendo as honras e os valores da família”, fala Dorli.
Para as mulheres, manter a chama acesa pode ser ainda mais difícil do que para os homens, segundo Dorli. Isso porque a sociedade deixa de enxergar a mulher madura como um objeto de desejo.
“Os homens sentem menos o tempo passar, porque nossa cultura o valoriza, ainda que não seja considerado bonito”, diz a psicoterapeuta. “Mas se a mulher aceita essa condição de assexuada, ela se tranca no papel de mãe, amiga do marido e cuidadora da casa”, declara.
Chama acesa
Para manter o desejo sexual após os 60 anos é preciso fazer o mesmo que se faz aos 30: ter uma vida erótica. Ou seja, pensar em sexo, falar sobre e ter tempo para fazer.
O casal de aposentados Irene da Rocha, 59, e Cicero da Rocha, 72, há 32 anos casados, nunca deixou de namorar. “Nossa estratégia para manter o interesse sexual é relaxar em nossos passeios preferidos ou pernoitar em um motel”, diz Irene.
De acordo com Dorli, não importa os papéis familiares que foram assumidos ao longo da vida. Entre quatro paredes, é preciso se desligar das outras funções completamente. “Não tem de pensar se você é mãe, pai ou avó. Naquele momento, você pode se reinventar”, diz a psicoterapeuta.