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28 November 2024

Casamento no drive-in, ao som das buzinadas

“A situação estava uma tristeza. Atendi muitas noivas chorando, desesperadas pelos sonhos adiados. Mas você sabe que noiva também é uma maravilha para ter ideia, não é.”, disse o padre Sérgio Pacheco

Com mais de mil casamentos no currículo, o padre Sérgio Pacheco, da Igreja Anglicana, já celebrou enlaces em hípicas, fazendas, hotéis, praias, deques e até em um pasto.

Mas desde 18 de março, com a paróquia fechada por causa da pandemia, praticamente todas as cerimônias foram canceladas ou remarcadas para o início do ano que vem. “A situação estava uma tristeza. Atendi muitas noivas chorando, desesperadas pelos sonhos adiados. Mas você sabe que noiva também é uma maravilha para ter ideia, não é.”

E foi um telefonema de uma noiva cheia de ideias que levou o padre Sérgio para um drive-in. Sim, ele já pode colocar no currículo que celebrou um casamento com distanciamento social, convidados dentro dos carros e sorteio de buquê pela placa dos veículos. “Na hora do beijo, pedi uma salva de buzinadas”, brincou o padre.

O casamento de Kelly Duarte e Anderson Oliveira Ometo aconteceu no Transamérica Drive-in, em Alphaville. “Fiquei noiva em dezembro do ano passado, o planejado era um casamento no formato tradicional, mas com a covid tudo mudou. Queríamos um casamento em 2020. Não desisti. Percebi que era possível fazer no esquema drive-in”, contou Kelly.

O evento foi todo organizado em apenas um mês – com um espaço que já tinha expertise em outros tipos de festa. O lugar comportaria 200 automóveis, mas, para reforçar o distanciamento entre as baias, a lotação foi de 70. A cerimônia foi transmitida em um telão e os áudios de padre, noivos e músicos, captados por uma frequência de rádio. Como era de se esperar, tudo também pôde ser acompanhado pela internet.

No palco, apenas os noivos, madrinhas e padrinhos e, claro, o padre. O uso de máscara para os convidados foi obrigatório. As bebidas foram servidas dentro do próprio veículo (com ênfase para bebidas sem álcool). Só era possível descer do carro depois de um aviso prévio – para ir ao banheiro ou ao bistrô onde a refeição era retirada.

A noiva pôde fazer um zigue-zague entre os carros, dançar e chorar como em um casamento tradicional. “A Kelly tocou o projeto inteiro, eu apenas aceitei. Mas foi um sucesso. Nossos amigos falam dele (o casamento) até agora”, falou Anderson de Oliveira Ometo, o noivo.

De fato, o casamento/evento foi parar até na televisão – e parece ter acendido uma faísca nas noivas. “Recebemos mais de 40 pedidos de orçamento nos últimos dias”, conta Leo Rizzo, CEO da Soccer Hospitality, uma das empresas idealizadoras do Drive-In Funfest. Segundo ele, um casamento drive-in pode ser orçado a partir de R$ 25 mil (com o aluguel do espaço manobristas, estrutura de LED, som, luz, serviço de catering e bufê). Claro, dependendo dos opcionais e formato, esse valor pode ser muito maior. Neste caso, o céu é o limite.

Esse modelo parece ter sido a saída de parte do setor de eventos/casamentos para sobreviver aos cancelamentos. O formato já pode ser encontrado em outras empresas. “O nosso setor foi o que mais sofreu nessa pandemia. Não tínhamos regulamentação ou perspectivas. Estão o jeito foi se reinventar”, disse Sérgio Tadeu, proprietário do Espaço Vitoriane.

Com 800m² de salão (pé-direito de 8 metros), Tadeu percebeu que era possível colocar veículos dentro do ambiente. Então, no início de agosto, promoveu seu primeiro casamento nesses moldes. Foram 12 carros dentro do salão (e mais convidados que preferiram acompanhar a cerimônia online). Todo o serviço de bufê foi feito dentro dos veículos.

Apenas os noivos e o pastor estavam do lado de fora. Um diferencial do Vitoriane é uma projeção de 360 graus dentro do salão – que colocou noivos e convidados em diversos cenários.

Cenário paradisíaco

O mercado de casamentos tem se adaptado fora de São Paulo também. Em Pernambuco, mais especificamente na cidade de Aldeia, a assessoria de casamentos Barradas Cerimonial realizou o sonho de um casal de renovar seus votos matrimoniais em um lugar paradisíaco e embaixo de uma árvore.

A organização criou lugar para o espaçamento de carros, aferição de temperatura na entrada e um eficiente esquema de comunicação por WhatsApp. “Todos os convidados estavam em um grupo de WhatsApp. Por meio dele, nos comunicávamos. Tínhamos o controle de quem precisava descer do carro para ir ao banheiro, por exemplo”, contou Tayna Alves, sócia do Barradas Cerimonial.

Assim como em outros eventos do tipo, todo o bufê e bolos foram servidos em caixinhas dentro do próprio carro. A foto com os noivos também foi diferenciada. Foram tiradas com o casal próximo dos carros dos convidados, sem contato físico.

Tayna lembrou que outra modalidade parece crescer: o home wedding. São casamentos dentro da casa dos noivos, com a presença de, no máximo, 30 pessoas (contando a equipe que vai trabalhar no casamento – garçom, cozinheiros, fotógrafos).

“Neste caso, o evento é bem restrito às pessoas que já convivem. Ainda assim, há toda a questão de mesas menores, distanciamento e utilização de máscaras”, falou Tayna.

A assessora de casamentos Adriana Bicudo apoia a alternativa drive-in, mas não acredita que esse modelo veio para ficar. “Os casais querem proximidade, abraços, beijos… O que imagino que deve acontecer como tendência são casamentos menores, com menos convidados, para não gerar aglomeração”, afirma ela.