Caso Ágatha: bala encontrada em corpo vai permitir comparação com armas de PMs
Os policiais militares que estavam na ação policial que terminou com a morte da menina Ágatha Vitória Sales Félix, de 8 anos, no Complexo do Alemão, serão ouvidos na Delegacia de Homicídios (DH) da Capital nesta segunda-feira, às 11h. Além dos depoimentos, os agentes entregarão as armas usadas por eles. No Instituto Médico Legal (IML) foi retirado um fragmento de projétil do corpo da criança. Ele já foi enviado para a perícia e será utilizado para fazer a comparação balística. O sepultamento de Ágatha será neste domingo, às 16h, no Cemitério de Inhaúma, Zona Norte do Rio, com velório a partir das 12h.
Na noite de sexta-feira, Ágatha voltava toda animada para casa, no Complexo do Alemão, acompanhada da mãe após um dia de passeio. As duas estavam numa Kombi, quando um tiro atingiu a menina e acabou com toda a alegria. Moradores afirmam que não havia confronto na favela. Segundo eles, uma policial teria feito um único disparo em direção a um motociclista que não tinha atendido à ordem de parar. Já a Polícia Militar informou que agentes foram atacados por traficantes e revidaram. Ágatha foi a quinta criança morta por bala perdida este ano no Rio e 57ª desde 2007, de acordo com levantamento da ONG Rio de Paz.
Com um tiro nas costas, provavelmente de fuzil, a menina ainda foi levada para o Hospital Getulio Vargas, na Penha, mas não resistiu. Na calçada em frente à unidade de saúde, Ailton Félix, o avô materno de Ágatha, entrou em desespero:
— Matou uma inocente, uma garota inteligente, estudiosa, obediente, de futuro. Cadê os policiais que fizeram isso? A voz deles é a arma. Não é a família do governador ou a do prefeito ou a dos policiais que está chorando. É a minha. Eles vão pedir desculpas, mas isso não vai trazer minha neta de volta. Foi a filha de um trabalhador, tá? Ela fala inglês, tem aula de balé, era estudiosa. Ela não vivia na rua, não — lamentou Ailton. — Mais um na estatística. Vão chegar e dizer que morreu uma criança no confronto. Que confronto? A minha neta estava armada, por acaso, para levar um tiro?
A Divisão de Homicídios vai fazer uma reprodução simulada do assassinato durante a semana, para tentar esclarecer de onde partiu o tiro. Agentes já ouviram parentes no IML. Elias César, tio de Ágatha, disse que uma funcionária do governo estadual ofereceu ajuda para pagar o enterro, mas que a família não aceitou.
— É mentira que teve tiroteio, foi um tiro só. Nenhum PM foi atacado — disse o tio.
Enquanto parentes de Ágatha estavam no IML, moradores do Alemão faziam uma manifestação num dos acessos ao complexo.
— Esse protesto é pela morte de uma criança que foi alvejada por um policial despreparado, que recebeu a ordem do governador para atirar. E atiraram nas costas de uma criança. Estamos pedindo paz, não criamos nossos filhos para perdê-los numa guerra desproporcional. O governador hoje tem essa política de matar. Vamos resistir por nossos filhos — disse um morador, que pediu para não ser indentificado