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26 November 2024

Caso Michel: MP pede prisão preventiva de pai e motorista de principal suspeito

O Ministério Público da Bahia (MP-BA) solicitou à Justiça o pedido de prisão preventiva do empresário Maurício Lucas de Teive e Argollo, 45 anos, e do seu motorista, Itazil Moreira dos Santos, 54, por envolvimento no roubo, seguido de tortura e morte do assessor partamentar Michel Batista Santana de Sá, 35, há cinco meses.

Maurício é pai adotivo de Gabriel Bispo dos Santos, 23, autor confesso do latrocínio – preso três meses depois do crime, no dia 21 de novembro, na cidade de Pomerode, em Santa Catarina.

Em documento com data de 31 de dezembro de 2018, ao qual o CORREIO teve acesso nesta seguna-feira (21), a promotora de Justiça plantonista, Norma Angélica Reis Cardoso Cavalcanti, afirma que os três estavam no local do crime, de acordo com o inquérito policial,.

Segundo as investigações, reiterou o MP-BA, Michel foi morto na Avenida Tamburugy, nas proximidades do Condomínio Mediterrâno, atrás do Shopping Paralela, no bairro de Patamares, em 16 de agosto de 2018, entre 22h e meia-noite. O corpo do assessor foi encontrado no local na manhã do dia 17, baleado e com sinais de tortura.

Agora, Maurício e Itazil dependem da decisão do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA), que retornou do recesso nesta segunda-feira (21). O TJ-BA pode acatar, ou não, o pedido do MP-BA.

Gabriel Bispo dos Santos acusa policial civil de atirar em assessor (Foto: Alberto Maraux/SSP)

A reportagem procurou a defesa de Maurício e Itazil, o advogado Hudson Dantas, que também já representou Gabriel, mas ele reafirmou a inocência dos clientes. Segundo Hudson, o inquérito policial não tem “provas susbtanciais contra os suspeitos”.

“Maurício realmente entrou no carro, mas não participou de nada, assim como Itazil. Isso tem base apenas no depoimento de Gabriel, que até hoje tenta tirar dinheiro do pai com essa história. Ele quer R$ 300 pra parar de afirmar que foi Maurício quem atirou”, disse o advogado.

O CORREIO já havia divulgado a informação de que as impressões digitais de Maurício, que é casado com a mãe de Gabriel, foram encontradas no carro roubado de Michel, um Honda CRV – anunciado pelo assessor no site de compras OLX, por R$ 73 mil, dias antes de ser assassinado.

Na época, no entanto, a Polícia Civil não confirmou o envolvimento do empresário, que trabalha com compra e venda de veículos. Segundo o suplente de vereador Arnando Lessa, pai da vítima – e que chegou a investigar o crime por conta própria -, o empresário já aplicou um golpe milionário na Europa.

Suborno
A Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) divulgou, no sábado (19), que a Polícia Civil e a Secretaria de Administração Prisional e Ressocialização (Seap) desmontaram uma tentativa de suborno no sistema prisional na noite de sexta-feira (18).

De acordo com a pasta, Gabriel, o Biel – o mesmo Gabriel Bispo dos Santos, suspeito de matar Michel -, e Fábio Souza dos Santos, o Geleia, presos no Presídio Masculino, no Complexo Penitenciário de Mata Escura, “determinou” que duas pessoas, identificadas como Vanessa Souza Santana e Alex Bispo dos Santos, mulher e primo de Biel, arrecadassem R$ 16 mil em pontos de droga em Vila de Abrantes, em Camaçari, para entregar a funcionários do presídio.

Vanessa e Alex, mulher e primo de Gabriel foram presos na noite da última sexta-feira (19)Foto: Divulgação/SSP-BA

Ainda segundo a SSP-BA, o dinheiro seria pago em troca de uma transferência de presídio, além de celulares. Embora a nota da pasta afirme que o dinheiro seria entregue pela dupla em um posto de combustível na Paralela, não há maiores informações sobre a negociação e com quem seria feita.

Vanessa e Alex foram presos em flagrante por policiais civis do departamentos de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco) e de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), além da Coordenação de Operações Especiais (COE) e do setor de inteligência da Seap.

Com eles, foi apreendido mais de R$ 16 mil, cinco celulares e dois carros. O caso foi registrado no Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco).

Ao CORREIO, Hudson Dantas afirmou que o suborno foi orquestrado por Gabriel, que ofereceu o dinheiro ao diretor do presídio.

A reportagem tentou contato com a SSP-BA, mas não obteve retorno. A Seap também não foi encontrada para comentar a circunstância da tentativa de suborno.

‘Não atirei’
Quando foi apresentado à imprensa, em 23 de novembro, Gabriel utilizou o direito de permanecer calado. À imprensa, se limitou a dizer: “Nada a declarar”. À Polícia Civil, no entanto, afirmou que estava no momento em que Michel foi baleado, mas negou que tenha apertado o gatilho.

“Ele também nega que tenha torturado a vítima. Disse que não sabe quem teria feito isso. Sabemos que o crime teve a participação de outras pessoas e estamos investigando. Nossa suspeita é de que Michel se recusou a entregar o carro e, por isso, tenha sido assassinado, mas estamos apurando”, afirmou Delmar Bittencourt aos repórteres.

Pouco antes de ser preso, o principal suspeito chegou a gravar um vídeo incriminando o padrasto pelo crime. O material foi encaminhado para a família da vítima. Questionado durante a apresentação do preso, entretanto, Delmar e o diretor do DCCP, Élvio Brandão, não comentaram a suposta relação de Maurício no latrocínio – como acusa Gabriel no vídeo.

Arnando Lessa disse que filho foi torturado (Foto: Almiro Lopes/CORREIO)

Anúncio, morte e tortura
O assessor Michel, que trabalhava na diretoria da Companhia de Processamento de Dados da Bahia (Prodeb), foi morto após se encontrar com Gabriel no Salvador Shopping, na tarde do dia 16 de agosto. Os dois negociavam um carro há cerca de um mês antes do crime.

A vítima, que foi baleada ao menos seis vezes, também teve os “testítulos destruídos”, de acordo com Arnando Lessa. O carro anunciado na OLX, que chegou a ser transferido por Michel para o nome de Gabriel, por meio do Documento Único de Transferência (DUT), e foi levado pelos bandidos, foi encontrado três horas depois do crime, por volta de 10h, no estacionamento do Shopping Bela Vista, no Cabula.

“Ele chegou a encontrar com o assassino dentro da própria casa, onde ele viu os três carros, sendo que um era da esposa. Para mim, foi isso o que fez crescer a vontade dele de cometer esse roubo. Michel confiava nele, tanto que o carro já estava transferido”, afirmou o pai da vítima, na época.