Cerca de 75% dos médicos peritos do INSS estão paralisados
Em várias agências da capital baiana, é visível a frustração de quem chega cheio de esperanças em conseguir notícias e acaba saindo sem qualquer novidade
Passados pouco mais de 60 dias, a greve dos servidores Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) tem feito com que a população precise passar por uma verdadeira maratona em busca dos serviços disponibilizados pelo órgão governamental. Em várias agências da capital baiana, é visível a frustração de quem chega cheio de esperanças em conseguir notícias e acaba saindo sem qualquer novidade.
No entanto, a situação acabou ficando ainda pior, já que, na última sexta-feira, dia quatro de setembro, os médicos peritos resolveram aderir a paralisação que antes estava restrita a outros servidores. De acordo com o chefe do Serviço de Saúde do Trabalhador da Gerência-Executiva da capital baiana, o médico perito, João Eduardo Pereira, cerca de 75% dos especialistas se juntaram ao movimento nas cidades de Salvador, Santo Amaro e da Região Metropolitana. Das 600 perícias realizadas por dia, apenas 180 estão acontecendo, o que equivale a 30%.
A reportagem da Tribuna da Bahia percorreu alguns postos de atendimento na manhã de ontem para verificar a situação. Na agência das Mercês, no centro da cidade, segundo funcionários, alguns serviços como perícias – desde que agendadas –, aposentadoria por contribuição e por idade, pensão urbana, benefício assistencial e salário maternidade estavam sendo oferecidos normalmente.
Já quem foi a agência do Comércio na manhã de ontem, mesmo com o agendamento, não teve sorte. Em solidariedade a um médico perito que foi atropelado na manhã do último sábado, na cidade de Inhapim, interior de Minas Gerais, funcionários disseram que nenhum serviço seria prestado pelos servidores no dia de ontem. Apenas gestantes e cadeirantes foram a exceção. Porém, a expectativa é de que as perícias, por exemplo, sejam interrompidas por tempo indeterminado. Atualmente, um efetivo de 30% tem realizado os atendimentos ao público.
Pior para o chaveiro, José Santos da Paz. Com três hérnias de disco e um problema na cervical, ele já tinha passado por uma perícia e, segundo ele, o INSS teria dado apenas dois meses e vinte dias de licença. “Meu médico disse que eles teriam de me dar, no mínimo, seis meses”, chiou. Uma nova perícia estava marcada para o dia 20 agosto, mas foi remarcada para o dia 23 de outubro, na agência de Brotas.
Ele diz não ter condição nenhuma de voltar ao trabalho sob risco de ter uma crise. “Tenho sofrido de depressão e ansiedade. Acho que é uma coisa que nós temos direito, mas eles parecem não querer nos dar isso. O cidadão fica no prejuízo total”, reclamou ele que, para se virar sem poder trabalhar, tem contado com a ajuda de amigos e parentes. “Além disso, tenho usado os cartões que tenho sem saber como vou pagar”, acrescentou.
Previdência faz nova proposta aos servidores
De acordo com a assessoria de comunicação do INSS, o órgão fez uma nova proposta aos servidores na última quinta-feira. Dentre os principais pontos apresentados estão o estabelecimento de um acordo com vigência de dois anos e uma reestruturação das tabelas remuneratórias com expansão de 10,8% divididos entre 2016 (5,5%) e 2017 (5%). A proposta anterior, com um reajuste escalonado em quatro anos, havia sido rejeitada.
“A proposta do governo também atende a reivindicações históricas dos servidores do INSS, pois contempla a incorporação da média da Gratificação de Desempenho (GDASS) aos proventos da aposentadoria em três parcelas iguais, a partir de 2017, e altera o limite mínimo de pagamento da referida gratificação, passando dos atuais 30 pontos para 70 pontos, já a partir de 2016”, informou o comunicado.
Para não prejudicar massivamente o atendimento à população, a Direção Central do INSS ajuizou ação, no início do mês de agosto, por meio da Advocacia Geral da União (AGU), solicitando ao Poder Judiciário, determinação que garanta o atendimento em todas as suas unidades. Desde o dia 13 de agosto, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que as entidades representativas da Carreira do Seguro Social devem manter 60% dos servidores trabalhando em cada unidade do órgão, enquanto durar a greve, segundo a assessoria.
Nova proposta
Parados em frente a agencia do Comércio, os funcionários do posto de atendimento consideraram a nova proposta feita pelo INSS um avanço. “Finalmente eles colocaram algo por escrito. A gente espera que, agora, as coisas possam andar e, de fato, as negociações vão começar”, falou Isaac Almeida, representante técnico da área administrativa.
De acordo com ele e com o médico perito, João Eduardo Pereira, o mínimo que se espera, além de melhores salários, é uma melhor qualidade no ambiente de trabalho para os servidores. “Só nós últimos seis meses, dois peritos morreram dentro de agências. Além disso, 11 médicos foram afastados e atualmente, temos um déficit de mais de 2500 médicos peritos e 15 mil servidores da área administrativa por conta de exonerações ou aposentadorias”, comentaram.
Por: Tribuna da Bahia/ Inf. Yuri Abreu