Cerveró muda versão sobre propina à campanha de Lula em 2006, diz jornal
O ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, teria modicado sua versão sobre um suposto pagamento de propina de US$ 4 milhões à campanha do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, segundo um documento obtido pelo jornal “Valor Econômico”. De acordo com o texto, os recursos teriam origem na obra de Renovação do Parque de Refino (Revamp) da refinaria de Pasadena, no Texas.
O valor do suposto caixa dois foi citado num resumo apresentado por Cerveró, ao negociar o acordo de delação premiada, sobre as informações que revelaria. O texto, entregue pela defesa do ex-diretor aos investigadores da Operação Lava-Jato, registra que “foi acertado que a Odebrecht faria adiantamento de US$ 4 milhões para a campanha do presidente Lula, o que foi feito”. O tal pagamento seria a contrapartida por contrato obtido pela construtora e pela UTC para a refinaria do Texas.
A menção à suposta propina paga pela Odebrecht à campanha do ex-presidente, no entanto, desaparece do termo de depoimento em que Cerveró trata do assunto na delação premiada, homologada pelo ministro Teori Zavascki, relator da investigação no Supremo Tribunal Federal (STF). No termo, Cerveró cita a UTC ao invés da Odebrecht como pagadora de suborno para o PT.
“Foi decidido que (…) a contrapartida da UTC pela participação nas obras da Revamps seria o pagamento de propina; que se acertou que a UTC adiantaria uma propina de R$ 4 milhões, que seria para a campanha de 2006, cuja destinação seria decidida pelo senador Delcídio Amaral (PT-MS)”, afirma trecho do documento obtido pelo Valor.
Em prisão preventiva desde novembro, Delcídio já foi denunciado ao STF por obstruir a delação de Cerveró.
Outra alteração entre os documentos é em relação a Dilma Rousseff. Cerveró citou a presidente três vezes no resumo. “Dilma incentivou Nestor Cerveró para acelerar as tratativas sobre Pasadena. Sempre esteve a par de tudo que ocorreu na compra daquela refinaria e realizou diversas reuniões com Nestor”.
O documento também diz que Delcídio tinha relacionamento muito próximo com Dilma e cita reuniões entre ele, Cerveró e a presidente. Todas essas menções somem no termo de delação a que o Valor teve acesso.
Segundo Cerveró, ao final da compra de 50% de Pasadena, por US$ 380 milhões, houve pagamento de propina no valor de US$ 15 milhões, sendo que ele receberia US$ 2,5 milhões. O então diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, ficaria com US$ 1,5 milhão; o lobista Fernando Baiano receberia US$ 2 milhões, e três representantes da Petrobras dividiriam US$ 5 milhões; além disso, caberiam aos representantes da Astra Oil a quantia de US$ 4 milhões.
Sobre Delcídio, Cerveró apresentou uma nova versão no documento formal. Disse que foi extorquido por ele, entre 2005 e 2006, para campanha do governo do Mato Grosso do Sul. No texto, Cerveró afirma que até então não havia “nenhum negócio na diretoria Internacional da Petrobras que pudesse gerar vantagens indevidas”.
Mas diante das cobranças do senador ao saber da aquisição de Pasadena, Cerveró “disse que iria repassar parte de sua propina ao parlamentar” para não ter a permanência na diretoria ameaçada. O ex-diretor diz que orientou Fernando Baiano a viabilizar o pagamento e que mesmo depois do acerto, Delcídio seguiu com cobrança de US$ 1 milhão.
Ainda de acordo com a reportagem do “Valor”, o Instituto Lula disse que o assunto é do tesoureiro responsável pela campanha ou do partido. Sobre a compra de Pasadena, o Palácio do Planalto afirmou que ela foi autorizada com base em resumo executivo elaborado por Cerveró. Já a UTC afirma que “nunca foi contratada e não executou obras na refinaria”.