Chuva favorece aumento de leptospirose em Salvador
As fortes chuvas que ocorreram recentemente em Salvador provocaram um aumento de insetos e de doenças transmitidas por animais na cidade.
O número de notificações de casos de leptospirose – doença transmitida por ratos – aumentou em 75% nos meses de abril e maio (meses com maior volume pluviométrico), em comparação ao que foi registrado nos três primeiros meses deste ano, quando chove menos.
Enquanto em janeiro, fevereiro e março a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) registrou 20 notificações da doença, em abril e maio foram 35. Das 55 notificações registradas este ano, 17 casos foram confirmados e duas pessoas morreram, uma no Cabula e outra na Península Itapagipana.
Apesar do aumento de leptospirose no período chuvoso, o número de mortes provocadas pelo mal reduziu de 18 em 2013 para 4 em 2014.
Doutor em saúde investigativa, o professor da Unifacs Renato Reis explica que a chuva facilita o contato da população com a leptospira, bactéria excretada pela urina do rato. "Os casos são mais comuns nesta época, porque Salvador tem um histórico de alagamentos".
O pesquisador fez uma comparação entre o número de casos de leptospirose e o volume de chuvas durante seis anos na cidade (de 1996 a 2002) e constatou que a cada pico de chuva ocorreu um pico da doença.
Segundo a coordenadora do Centro de Controle de Zoonoses de Salvador (CCZ), Gerusa Moraes, o período chuvoso também provoca um aumento de mosquitos, do gênero Culex, conhecido como muriçoca, por causa da ampliação da quantidade de reservatórios de água.
"Os mosquitos têm mais facilidade para colocar os ovos, que eclodem com as chuvas", explica.
Lixo
Na rua Doutor Filinto Borja, em Brotas, as ratazanas passeiam a qualquer hora do dia. O vigilante noturno Adenivaldo Souza, 50, diz que está acostumado a vê-las na rua. "Ficam embaixo dos carros, nas latas de lixo e às vezes até entram aqui no condomínio", conta.
Síndica do Vista do Vale, edifício vizinho, Donizete Maria de Araújo aponta os motivos para a infestação. "Há anos moramos cercados por um terreno baldio que não recebe os devidos cuidados do dono. O matagal atingiu mais de dois metro e, para completar, a população joga móveis, entulho e lixo doméstico no local", revela.
As condições são ideais para o convívio dos bichos, segundo a coordenadora do plano de controle de roedores do município, Maria Gorete Rodrigues.
"Para se manter no ambiente, os ratos precisam de abrigo, água e alimento. Os materiais de construções e móveis descartados de forma indevida servem como abrigo para eles. O lixo orgânico, de alimento. E com as chuvas frequentes, eles encontram água facilmente", diz.
Para combater os ratos e prevenir a leptospirose, o plano de controle de roedores de Salvador conta com 70 agentes. O grupo trabalha com cinco distritos prioritários: Subúrbio Ferroviário, São Caetano/Valéria, Cabula/Beiru e Pau da Lima (que no momento recebe visita dos agentes).
Segundo Gorete, esses locais recebem mais atenção das equipes, por terem um histórico de infecções. Mas, além do trabalho prioritário, o grupo também visita bairros que registram novos casos para fazer o bloqueio da doença e faz a desratização em pontos com aglomeração de pessoas como praias e parques.
O pesquisador Renato Reis explica que a desratização não é suficiente para combater os animais. "Os ratos desenvolvem características genéticas de resistência ao veneno. O que é preciso é melhorar a infraestrutura urbana da cidade", opina