Claudio Lins diz que encontrou seu amor em uma boate gay
Sair ou não sair do armário, eis a questão. O dilema de muitos homossexuais está sendo vivido por Cláudio Lins, 42 anos, em ‘Babilônia’. Mas chegou a hora de Sérgio colocar o pé na porta e gritar para todo mundo ouvir que a pessoa que ele ama atende pelo nome de Ivan (Marcello Melo Jr.). No capítulo da novela das 21h que vai ao ar amanhã, o executivo da Souza Rangel, finalmente, assume a sua orientação sexual.
“O Sérgio está em um momento da vida em que não pode mais fugir desse sentimento, dessa questão que ficou essencial para a sua felicidade, para o seu bem-estar. Ao contrário do Sérgio, Ivan sempre foi bem-resolvido, só que era um cara que nunca se envolveu com ninguém. Mas, de repente, encontrou uma pessoa que vale a pena, modéstia à parte”, brinca.
Já a pessoa que vale a pena de Cláudio, curiosamente, ele encontrou há 12 anos na boate gay Galeria Café, que fica em Ipanema. E o casamento com a proprietária da casa, Alexandra Di Calafiori, levou o ator a se tornar sócio do estabelecimento. Tamanha proximidade com esse universo fez com que o filho de Ivan Lins e Lucinha Lins não tivesse dificuldades para dar vida ao Sérgio da trama de Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga.
“Por ser dono de uma boate GLS, tenho um convívio com a classe, digamos assim, muito grande. Grande parte dos meus amigos gays, assim como o Sérgio, não são afetados. Se a gente parar para pensar, a sexualidade de cada um é muito pessoal e não define o seu comportamento. Eu posso estar conversando com uma pessoa e ela ser uma sadomasoquista. No dia a dia, o comportamento dessa pessoa não vai revelar que ela é sadomasoquista. Então, por que o comportamento do homossexual precisa revelar a sua sexualidade? Não precisa”, acredita.
Abrir as portas do armário também não é uma necessidade, ainda que, aos olhos de Cláudio, seja uma decisão bem-vinda. “É nítido o antes e o depois de uma pessoa depois que sai do armário. Vi isso com um parente, que ficou mais feliz ao se assumir enquanto pessoa. O sexo tem um valor muito importante para o ser humano. Não é tudo, mas não é pouca coisa. Não ser bem-resolvido nessa questão não é saudável. A tendência é que se você não for bem-resolvido numa coisa que é tão importante para o ser humano, vai ter sempre um incômodo que vai te puxar para baixo, que vai te angustiar”, observa.
Pai de Mariano, de 3 anos, o ator jura que não veria o menor problema em ter um filho gay. “Essa não é uma escolha minha, seria uma escolha dele, que certamente teria a ver com a genética dele. Seria absurdo eu ser dono de um bar gay e ter problemas com isso. Seria de uma hipocrisia infinita. Sinceramente, isso não nos incomoda”, afirma.
BEIJO GAY
E se ‘Babilônia’ começou com um casal homossexual — Teresa (Fernanda Montenegro) e Estela (Nathalia Timberg) — que incomodava muita gente, chega à reta final com a aceitação de Sérgio e Ivan. Esse fenômeno é explicado por Cláudio.
“A gente teve a vantagem de construir uma história de amor. Talvez isso tenha sido determinante. E o retorno dessa história tem sido incrível. Pessoas das mais variadas idades e tendências vêm falar comigo apoiando esse romance. Outro dia, um taxista, que era um senhor, me reconheceu e falou: ‘E aí, vai sair esse beijo ou não vai?’. Ele disse que estava torcendo pela gente. Também aconteceu de uma garçonete me dizer que estava torcendo por eles e para ter um beijo. Pelo menos no universo que eu transito, não vejo preconceito. Muito pelo contrário”, comenta.
Apesar de transitar com naturalidade no universo gay, Cláudio entende os que não pensam como ele. “Respeito a pessoa que se incomoda com uma cena homossexual, seja de dois homens se beijando ou duas mulheres. Isso depende da criação de cada um, filosofia de vida, religião, enfim, de uma série de fatores. Só não aceito a luta contra essas pessoas. Existir homossexuais não afeta em nada a vida do outro. Por que lutar contra os direitos dos homossexuais? Isso não afeta em nada os direitos dos heterossexuais”, constata.
Quanto à pergunta que não quer calar, ou seja, se vai ter ou não beijo gay entre Sérgio e Ivan, Cláudio esconde o jogo.
“Enquanto ator, não tenho problema nenhum em beijar outro homem. O que posso dizer é que o quase beijo funcionou, o público aprovou”, diz. Falando em beijo, o ator está produzindo e vai protagonizar o espetáculo ‘O Beijo no Asfalto, o Musical’, drama de Nelson Rodrigues que estreia em outubro no teatro Sesc Ginástico e que conta a história de um homem que é massacrado pela sociedade após beijar um outro homem que estava morrendo. “Esse ato de caridade vira uma loucura na vida do Arandir, já que ele passa a ter que enfrentar preconceitos. Na visão do Nelson, o Arandir não é gay. Mas vai saber”, provoca.