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24 September 2024

Comerciantes deixam quiosques para requalificação da orla de Itapuã

Comerciantes de quiosques e baianas da orla de Itapuã esvaziam os equipamentos, que estão sendo derrubados para as obras de requalificação da região. Projeto custa R$ 14 milhões e deve ficar pronto até o fim do ano.

Comerciantes retiram equipamentos antes de demolição em Itapuã (Foto: Marina Silva)

O fim da Copa chegou e junto com ele a volta à realidade. Mas, para os donos de 14 quiosques da orla de Itapuã, ontem o dia foi de mudança de rotina. Com o fim do prazo estabelecido pela prefeitura, eles começaram a retirar os equipamentos e partes da estrutura dos quiosques antes da demolição, prevista para começar ainda ontem, de acordo com o secretário municipal de Infraestrutura e Defesa Civil, Paulo Fontana. Além deles, três baianas que trabalham na área também têm que sair.

A obra começou há 30 dias, mas houve um acordo para que os quiosques fossem demolidos só após da Copa. “Essa obra vai do Habib’s até o Quiosque de Janaína. Como estava em época de Copa, a gente decidiu que da Sereia até a Janaína, a gente iria demolir hoje (ontem)”, disse Fontana. Nos últimos 30 dias, foi iniciado o trabalho com os passeios, alvenaria e ciclovia. A previsão é concluir a obra até o fim do ano.

Apesar de o projeto ter sido apresentado pela prefeitura em fevereiro, a maioria dos comerciantes afirma não saber como será a requalificação. “A gente quer que a prefeitura faça uma reunião para apresentar melhor as coisas e explicar como é que vai ser daqui para frente, só isso”, disse a vendedora Rose Aragão.

A presidente da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), Tânia Scofield, instituição responsável pelo projeto, disse que o conceito foi discutido com a comunidade. “Nós tivemos algumas reuniões e  teve um grupo muito representativo que participou efetivamente do projeto, inclusive o grupo jovem de lá”, afirmou. “Tem grupo que acha que a gente deveria deixar muito menos ambulantes e quiosques. Os comerciantes acham que tem que ter muito mais. Os que veem como bairro cultural entendem que tem que ser muito mais cultural e menos comercial”, disse Tânia.

A secretária de Ordem Pública, Rosemma Maluf, garantiu que o projeto foi apresentado. “O prefeito (ACM Neto) fez uma apresentação pública, é de conhecimento de todos. Como as pessoas de lá não iam saber?”, questionou.

Mudança

O músico Jairo Lima, morador de Itapuã, questiona o projeto. “A gente sabe que a praça está uma bagunça, mas não precisava ser desse jeito. Para quê vai ter um anfiteatro, uma pista de skate aqui? Nada disso é necessidade do bairro”, reclamou.

Além do prejuízo nos meses parados, os comerciantes  também não sabem como vão arcar com as demissões. Dono do Camarão Pimenta há 21 anos, Marcos Corrêa tem 12 funcionários. “A gente fica sem saber o que fazer, como indenizar essas pessoas. Fica apenas na promessa de que vai readmitir quando a obra ficar pronta”, reclamou.

Ontem, alguns comerciantes levavam estruturas dos quiosques como telhas, portas e até o balcão de mármore. “Isso aqui custou caro, eu vou levar porque deve servir para outra coisa”, disse uma vendedora de coco que não quis se identificar. Enquanto as obras não ficam prontas, ela também vai procurar outra alternativa de sobrevivência. “Eu vou é procurar emprego, procurar outra coisa para fazer”, disse.

Segundo Rosemma Maluf, os 14 permissionários de quiosques que têm registro terão direito a voltar à orla assim que a obra terminar. “A licença é provisória, a qualquer  tempo ela pode ser cassada. Existe hoje um interesse coletivo maior do que o individual. E o espaço é público, os ambulantes que têm permissão de uso vão retornar. Isso foi acordado em reunião, o município não tem interesse de prejudicar, agora temos interesses maiores, que é justamente a requalificação do bairro”, disse. Segundo ela, a entrega será feita em etapas, que vão sendo liberadas conforme concluídas.

Projeto

Com R$ 14 milhões de investimento, a reforma da orla de Itapuã promete uma revolução no bairro boêmio. O projeto foi concebido pela FMLF e foi apresentado à comunidade no início do ano.

Estão inclusos no projeto um mirante, quiosques na extensão da orla, criação de áreas de convivência para os pescadores, requalificação da colônia, ciclovia, pista tátil, área de esportes com equipamentos de ginástica. Além disso, haverá mais dois espaços: um exclusivo para as baianas de acarajé e outro para os bares.

Segundo a presidente da FMLF, Tânia Scofield, pequenas alterações foram feitas no projeto após reuniões com a comunidade. “Os moradores achavam que tinha muito quiosque, então nós reduzimos, tiramos dois. Criamos uma área mais cultural em homenagem a Dorival Caymmi”, disse. Também foi criado um anfiteatro.

Assim como na Barra, o bairro também vai ter o piso intertravado composto por concreto e granito. O piso também será compartilhado e, por isso, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a rua e a orla vão compor apenas um espaço.

Comerciantes aguardam indicação de novo local para trabalhar (Foto: Marina Silva)

Baianas poderão montar tendas; restaurantes terão que esperar

Ainda sem local definido para ficar durante as obras, as baianas de acarajé dizem que só saem com destino certo. Dona do Acarajé da Tânia, a baiana Tânia Maria de Jesus Santos, 58, espera uma reunião com a prefeitura para definir para qual pontos as vendedoras serão relocadas. “Está certa para amanhã (hoje) a reunião para saber onde vai colocar a gente, só que não ligaram para confirmar nada ainda”, disse.

A baiana Maria das Graças Cerqueira, 66 anos, disse que vai ficar. “Eles só vieram avisar que têm que tirar, mas não houve notificação formal, eu vou ficar aqui para tentar meus trocadinhos, né?”, diz a baiana. A secretária municipal de Ordem Pública, Rosemma Maluf, disse que já foi acordado com baianas e vendedores de mingau que eles poderão escolher um local durante as obras. “Elas podem adquirir as tendas como todas as baianas na cidade e identificar uma área que elas queiram, que não atrapalhe a obra. Nós já autorizamos, é só ir na Semop e solicitar”, disse.

A reunião, segundo a secretária, será com a Fundação Mário Leal Ferreira, mas ainda não tem data. Os grandes restaurantes também continuam abertos. O Língua de Prata manteve o funcionamento normal. “Estamos tentando negociar com a prefeitura para ficar mais tempo aqui”, explicou o dono do estabelecimento, Luiz Quintella.

Rosemma disse que, no caso dos restaurantes, a alternativa é esperar o fim da obra. “Tem umas estruturas maiores, como estrutura de bar e restaurante, que vão precisar de água, esgoto. Então, eles vão ter que aguardar a obra acabar. Não podemos conseguir uma área de 700m²”, afirmou.