Comércio em Lauro de Freitas não abre e população vive medo após série de mortes
Três horas depois da morte do PM, um adolescente foi morto. Além dele, outra adolescente também foi atingida por um tiro e segue internada. Mais tarde, outros três homens foram atingidos em frente à padaria onde o policial foi morto.
Um dia após as quatro mortes em Lauro de Freitas, o clima é de tensão na localidade de Caji, onde, na segunda-feira, em seis horas, seis pessoas foram baleadas num raio de 100 metros.
No local onde houve o primeiro crime, a morte do cabo da Polícia Militar Clóvis Silva da Paixão, 47 anos, baleado na cabeça, algumas lojas não abriram ontem. A padaria Novo Pão, onde o PM foi imobilizado e morto por três homens enquanto tomava café, funcionou com algumas portas abaixadas.
Familiares carregam caixão do cabo Clóvis durante sepultamento no cemitério de Simões Filho (Foto: Marina Silva)
Com medo, os funcionários não quiseram comentar o ocorrido. “Aqui, ninguém fala”, disse um rapaz com o uniforme do estabelecimento, enquanto atendia uma senhora de olhar assustado. Os poucos clientes que ali estavam disseram que não moravam no bairro e que estavam na casa de parentes.
Três horas depois da morte do PM, o adolescente Gutemberg dos Santos, 17, foi morto na esquina da Rua Alto da Boa Vista, transversal à Rua Doutor Gerino de Souza Filho. Além dele, a adolescente Marineide Sacramento Santos, 16, também foi atingida por um tiro na região dorsal e segue internada no Hospital Menandro de Farias.
Mais tarde, outros três homens foram atingidos em frente à padaria onde o policial foi morto. Na segunda-feira, a informação da polícia era de que os três haviam morrido. No entanto, ontem, a polícia informou que Jessé Escavelo e outro homem que ainda não havia sido identificado até a noite de ontem morreram no local. Já Jorbson Costa de Jesus, 29 anos, está internado no Hospital Menandro de Farias, depois de ser atingido por três tiros.
Na rua onde Gutemberg foi morto, ontem, moradores estavam com portas e janelas fechadas. Segundo testemunhas, dois homens chegaram em um carro branco e dispararam pelo menos nove vezes contra ele. Apenas dois homens falaram.
“O rapaz foi morto na frente de todo mundo. Os caras que mataram usavam coletes e foram cumprimentados por policiais militares”, disse um dos homens. “Pareceriam amigos de infância. Com certeza eram policiais, mas ninguém fala porque tem medo de morrer”, complementou o segundo. Ainda segundo as testemunhas, os mesmos assassinos de Gutemberg foram responsáveis pelas outras duas mortes.
Para o major Marcelo Grun, comandante da 52ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM-Lauro de Freitas), onde o cabo Clóvis era lotado, a morte do PM pode ter acontecido por três hipóteses. “Ele pode ter sido reconhecido como policial, ou queriam a arma dele ou foi vítima do tráfico: há guerra entre o Jambeiro, onde ele morava, e o Caji”, disse durante o sepultamento do cabo, ontem, no cemitério de Simões Filho.
A cobertura do município de Lauro de Freitas é dividida entre a 52ª e a 81ª CIPM – essa última é responsável pela área onde ocorreram todos os crimes. Nenhum representante da 81ª, porém, foi localizado para comentar o assunto. Já a assessoria da Polícia Militar informou que a Polícia Civil é quem irá investigar se há envolvimento de PMs em algum dos crimes, já que é um crime comum, não militar.
O delegado Cláudio Meirelles, titular da 27ª Delegacia (Itinga), sem entrar em detalhes sobre as investigações, disse que não é possível afirmar que os crimes estejam relacionados. “Não temos informação sobre isso, porque os casos ainda estão sob investigação. As coisas estão bem adiantadas”.
Ele ainda negou que os homens que mataram Gutembergtenham qualquer relação com a polícia. “Isso não procede. As pessoas ficam levantando hipóteses, mas todas essas histórias são boatos”.
O delegado disse ainda que não tem conhecimento de disputas entre gangues rivais por ali. “Sabemos que tem ocorrência de tráfico, mas não temos informação de qualquer guerra que tenha motivado alguma morte”.
Medo
Ao retornar à Rua Alto da Boa Vista, o CORREIO encontrou uma senhora aflita no ponto de ônibus. “Só tem o que não presta aqui. Mortes. Muitas mortes”. Outra mulher abordada dispensou a equipe: “Tem muita gente aqui nos olhando. Um monte de vagabundo. Vão pensar até que estou falando com alguém da polícia”.
O caseiro Fernando Paiva Lima, 38, que trabalha numa chácara em Caji, disse que pretende abandonar o emprego. “Já fui assaltado várias vezes e essas mortes aumentaram o meu temor”, disse ele, que mora em São Cristóvão.
O medo existe, mas não para todos. “Moro aqui há mais de 20 anos. O que aconteceu foi algo pontual”, minimizou Silvano da Silva, 37, morador do Caji. “Se você vai na Pituba também tem crimes”, declarou o empresário Roberto Moraes de Oliveira, 50.