Normalmente, os batimentos ciliares do nariz fazem a limpeza do local. “Eles provocam uma secreção que põe para fora os microrganismos que estão depositados no nariz”, diz Gustavo Mury, otorrinolaringologista do Hospital CEMA, em São Paulo. Mas em uma pessoa com rinite, essa limpeza é prejudicada, levando a uma redução da imunidade local.
O quadro provoca uma inflamação. Além de inchaço, há mais secreção e o batimento ciliar não fica tão coordenado, facilitando a entrada de um vírus, por exemplo, na região. O invasor tem mais tempo de contato com a mucosa e predispõe o indivíduo a doenças respiratórias.
“A baixa imunidade local realmente facilita um quadro viral, mas é diferente de colocar pessoas com rinite no grupo de risco, que é uma chance maior de desenvolver casos graves da covid-19”, diz Maura Catafesta das Neves, doutora em ciências da saúde pelo Departamento de Otorrinolaringologia do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e médica assistente do Hospital Universitário da USP.
Como cuidar da rinite
Apesar de não estarem no grupo de risco, indivíduos com rinite devem ter cuidado redobrado nestes períodos de grande circulação de vírus respiratórios.
Neves sugere a lavagem do nariz com soro fisiológico duas vezes ao dia. “Pode usar spray ou seringa, vendidos nas farmácias. Só a lavagem com solução salina previne várias doenças respiratórias, mas não há nada comprovado que previne a covid-19″.
Veja como ela deve ser feita:
- Use sempre soro fisiológico 0,9%;
- Na falta dele, é possível utilizar solução fisiológica caseira: 1 litro de água fervida ou filtrada acrescida de 2 colheres (chá) de sal e 1 colher (chá) de bicarbonato;
- Encha uma seringa com capacidade para 20 ml com a solução –preferencialmente morna;
- Aplique-a nas narinas, uma de cada vez, de forma lenta e contínua.
Aliás, em época de coronavírus, ela ainda alerta para o uso individual dos dispositivos de lavagem, além de limpá-los na sequência com um pano umedecido com álcool ou lavar com água e sabão. Além disso, é importante lavar bem as mãos antes e depois de fazer a higienização.
De acordo com Maria Cândida Rizzo, coordenadora do Departamento Científico de Rinite da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia), o tratamento também deve ser feito com medidas ambientais e farmacológicas, estas últimas sob orientação médica.
Em relação aos cuidados ambientais, ela ressalta a importância da ventilação dos ambientes e limpeza dos pisos da casa com água e sabão, além de evitar carpetes, lavar cortinas com frequência, deixar os dormitórios com superfícies livres para facilitar a limpeza diária, lavar as roupas de cama semanalmente e, se possível, utilizar capas impermeáveis aos ácaros nos colchões e travesseiros.
“É importante que o paciente procure um alergologista para definir os alérgenos principais a serem evitados em seus casos, mas os ácaros da poeira doméstica são os mais frequentemente envolvidos”, diz.
É rinite ou coronavírus?
Ambas as condições podem ter alguns sintomas parecidos, como coriza, tosse e dor de cabeça, mas é possível diferenciá-las, principalmente sabendo do histórico pessoal.
Os especialistas consultados afirmam que os sinais da rinite costumam ser limitados ao nariz e olhos, como coceira nesses locais, espirros, obstrução nasal e coriza.
Já a covid-19 leva a uma infecção viral sistêmica, ou seja, a todo um estado gripal. “No estado gripal clássico, assim como acontece com outros vírus, como o influenza, o paciente pode sentir febre, cansaço, falta de energia, dor muscular, além de alguns sinais e sintomas como dor de garganta, perda do olfato e outros que podem sobrepor os da rinite, que se limitam à coriza, obstrução nasal, etc”, diz Rizzo.
Segundo ela, a alteração do estado geral é, sem dúvida, um sinal, dentro do contexto geral, que direciona para o quadro gripal.
Lembrando que, no caso de suspeita de coronavírus, é recomendada a ida a um hospital caso os sintomas piorem e exista falta de ar.