Crezo Dourado diz que A Tarde vai acabar e culpa família e diretores por ‘rombo’
O imbróglio entre o grupo Piatra SP Participações – representado pelo empresário Crezo Dourado – e a família Simões, fundadora do jornal A Tarde, parece estar muito longe de um fim pacífico (veja aqui o desenrolar da confusão). Em entrevista ao Bahia Notícias, nesta sexta-feira (4), Crezo Dourado afirmou que os desentendimentos irão acabar com a centenária publicação e que a família foi avisada disso. “É [vai acabar o jornal]. Não só pela confusão de hoje, que foi só o início de tudo. Eu falei a eles que a empresa não aguentaria uma confusão”, asseverou. De acordo com o empresário, ele foi enganado pelo diretor-geral do jornal, André Blumberg, e por um membro da família – que não foi nomeado – no momento da compra do noticiário. “Em janeiro, eu fui procurado numa sexta-feira por Blumberg e um Simões. Eles me falaram que, na terça-feira seguinte, o jornal iria parar de circular por falta de recursos e, com a urgência de vender o jornal, me apresentaram uma auditoria. Eu confiei neles. O demonstrativo mostrava que o passivo do jornal era de R$ 120 milhões e, deste montante, R$ 70 milhões eram tributários. Depois que entrei na empresa, vi outra realidade. O passivo era de R$ 250 milhões e, só de tributário, R$ 176 milhões”, apontou. A auditoria da Piatra SP Participações identificou ainda, segundo Crezo, que eles cometeram atos arbitrários e que na auditoria se constatou a pratica de crimes de sonegação fiscal, apropriação indébita previdenciária de forma continuada, retenção dos tributos dos funcionários e o não repasse aos cofres públicos. “Uma fiscalização e o jornal não aguenta 15 dias. A sonegação existe e é muito séria”, concluiu. Com as contas no vermelho, Crezo disse ao BN que cumpriu o prometido com a família: em dois meses, depositou R$ 600 mil do pagamento parcelado que havia sido acertado no momento da venda. “Paguei a primeira parcela de R$ 300 mil e a segunda, no mesmo valor, eu paguei até adiantado”, relembra, ao enfatizar que não descumpriu nenhuma cláusula do contrato assinado.
André Blumberg, diretor-geral do A Tarde, apontado como “bandido” por Crezo Dourado | Foto: Inácio Teixeira l Coperphoto
O empresário afirmou ainda que as demissões promovidas pelo grupo dele na quinta-feira (3) foram para equilibrar as contas do jornal. “Eu cheguei lá e encontrei diretor que se achava dono do jornal. Para você ter ideia, nestes 20 dias à frente do jornal, eu não vi um real da circulação. Todo dia saiam 40 mil jornais e não voltava nada para o caixa da empresa. No carnaval, saíram dez páginas de anúncios no jornal e não entrou um real e nem chegou uma camisa de bloco. Todos os diretores do jornal ficaram ricos. O Blumberg mesmo, depois eu descobri, tirava todo mês R$ 300 mil de lá de dentro, recebia por fora de fornecedor e a família achava que colocar ele foi a melhor coisa que fizeram na vida. Ele [Blumberg] é um mentiroso. Mentiu o passivo da empresa para mim”, acusou. A confusão desta sexta-feira (4), na concepção do empresário, foi “orquestrada” por um ex-deputado federal (que não foi identificado pelo empresário), por Blumberg e dois acionistas. “Foi uma coisa que só acontecia na Ditatura Militar [a presença da família no jornal na sexta]. Eu nunca vi isso no Brasil. Um contrato firme, vigente, eles pegarem e entrarem dessa maneira. Invadiram uma empresa particular. Tinha um carro da PM lá que já era errado e, frise-se, o secretário de Segurança Pública [Maurício Barbosa] não sabia de nada. Quando soube, mandou o carro da PM sair”, relatou. Crezo classificou ainda as especulações de uma nova venda da empresa para o diretor da Bahiatursa, Diogo Medrado, como “absurda”. “Como é que eles querem vender o jornal duas vezes? O meu contrato está vigente. Eu conversei com o Diogo e disse que estava recuperando a empresa. O meu plano era, em dois anos, ter um jornal recuperado (veja aqui o plano feito pela empresa de Crezo). Todo mundo diz que ele [Diogo] ‘Está por trás disso’ [confusão com a família], mas eu não acredito”, afirmou. Uma solução pacífica para o problema, de acordo com Dourado, seria a família devolver os R$ 600 mil pagos por ele e devolver o dinheiro aplicado. “Depois de receber os 600 mil, o mínimo que eles poderiam fazer é devolver meu dinheiro para fazer o destrato e não como está. Eles dizem até que eu não pago os funcionários que saíram. É mentira, eu pago, mas em parcelas, como estava combinado”, alegou, ao revelar que “está triste com toda a situação”.
Sede do jornal A Tarde | Foto: Divulgação
Após a entrevista, Crezo enviou ao Bahia Notícias documentos que provam os pagamentos foram efetuados à família (clique aqui e veja os documentos). Uma folha mostra ainda adiantamentos de publicidade pela empresa através das construtoras OAS e Odebrecht. Segundo o documento, a Odebrecht, por publicidade adiantada pagou R$3,6 milhões. Já a OAS, pelo mesmo serviço, injetou pouco mais de R$ 2 milhões no jornal. Em conversa “em off” com Dilson Santiago, um dos diretores do grupo (ouça o áudio abaixo), Crezo tomou conhecimento da estrutura deficitária do vespertino. Além disso, o conglomerado, segundo a conversa, passou a ser sucateado com a chegada dos filhos de Ernesto Simões Filho. “O velho Simões era milionário, tinha fazendas e mais fazendas aqui, Simões Filho era uma fazenda, Mata de São João também. O velho deixou muitos bens, muitos apartamentos, não só aqui. Administrava no Rio de Janeiro. A crise começou quando os filhos vieram para cá. O ano de 2010 foi o pior ano da empresa. Em 2012 lançaram o Massa!, que foi a maior burrada da empresa, perderam dinheiro e o jornal nunca se pagou”, revela Dilson em áudio divulgado por Crezo. O empresário questiona Dilson sobre a forma com que a empresa consegue sustentar a família, uma vez que “ela [a empresa] sangrou”. “O faturamento médio líquido era de R$ 900 mil, R$ 1 milhão. Todo mês esse dinheiro ficava lá, quando acontecia desse dinheiro vir para aqui era um tipo de empréstimo. Consegui acabar com isso metendo medo, demorou uns cinco anos. Daí então o dinheiro começou a vir para cá e a contabilizar, era um caixa 2. Comecei a botar medo e falei que o dia que a receita bater aqui, fecha a empresa. A família sangrou muito a empresa”, constatou. Consta ainda na conversa uma declaração sobre um empréstimo feito pela Odebrecht. “Odebrecht emprestou [dinheiro] em 2012, mas esse dinheiro foi um adiantamento de publicidade. Em janeiro o faturamento [do jornal] foi 3,9 milhões, a gente faturava 8, 10 milhões. Nunca entendi como se fazia o orçamento e no orçamento nunca se colocou um percentual de investimento. A gente não tem controle de prateleira de almoxarifado. Tenho 76 anos, sei crescer, então tem muitas coisas de errado aqui no ambiente familiar. Acabaram com muitos dos sistemas que eu criei, não sei como é que funciona”, concluiu. Após as revelações feitas ao BN, Crezo Dourado promete ainda liberar “uma ficha corrida” dos desmandos de André Blumberg. “É um bandido”, sentenciou.
BN