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24 September 2024
Foto: Reprodução

Criador do Orkut lança sucessor da extinta rede social

O turco Orkut Büyükkökten , criador da rede social que levava o seu nome, e uma das que mais fez sucesso no Brasil nos últimos anos, contou em entrevista à revista Exame sobre o inesperado mundo do empreedorismo e como lidou com o sucesso e extinção da rede em 2014, quando perdeu espaço para redes como Facebook e Twitter.

Büyükkökten lançou em julho deste ano no Brasil, o Hello, que promete ser o sucessor do Orkut e com ambiciosos planos de atingir dois milhões de usuários no primeiro trimestre de 2017. Confira a entrevista completa a seguir:

EXAME.com – Como você teve a ideia de negócio do Orkut, em uma época que as redes sociais ainda estavam no começo?

Orkut Büyükkökten – Eu tive a ideia por volta dos anos 2000. Era a época do MySpace e do Friendster, e eu estava cursando uma pós-graduação da Universidade de Stanford naquele momento. Eu queria achar uma maneira de conectar os estudantes entre si de forma online e promover novas amizades. Então, criei uma plataforma na qual eles poderiam se inscrever e convidar os colegas: ou seja, um modelo tradicional de redes sociais, que vemos até hoje.

Depois, quando eu trabalhava no Google, criei uma rede social que se parecia muito com essa rede social de Stanford. Mas, agora, todo o mundo poderia se juntar a ela.

Foi praticamente um projeto de uma pessoa só: eu fiz o design, a programação e até mesmo a montagem dos servidores. O projeto começou a crescer e nós decidimos torná-lo público. Estávamos perto do lançamento quando o Google chegou para mim e falou: “por que nós não chamamos de Orkut? Você já tem esse domínio registrado, tem apenas cinco letras e é algo único”. Foi assim que o Orkut foi lançado, em 2004.

EXAME.com – Você esperava que o Orkut tivesse tanto crescimento? E por que você acha que ele se popularizou, inclusive no Brasil?

Orkut Büyükkökten – A expansão superou até nossas expectativas mais otimistas: a rede cresceu exponencialmente pouco depois de lançar. Nós tínhamos um servidor que suportava 300 mil usuários e logo tivemos de reconstruir todo o produto e seu sistema de suporte, porque atingimos um milhão de perfis.

Ao longo dos seus anos de existência, o Orkut totalizou uma comunidade online de 300 milhões de usuários por todo o mundo. Foi uma aventura incrível.

Acho que essa explosão aconteceu muito por conta do design da rede: era algo muito fácil e simples de usar. Também era possível se conectar com amigos e amigos dos seus amigos, o que ajudou a rede em termos de viralização.

Agora, se você olhar especificamente para o Brasil, verá em geral pessoas muito amigáveis, autênticas, extrovertidas e confortáveis em se expressar. Ou seja, os brasileiros gostam de se comunicar e fazer amizades. O Orkut sempre ressaltou a interação social, e isso se alinhou com a cultura do Brasil.

EXAME.com – Por que você acha que, ao longo do tempo, o Orkut foi perdendo espaço para outras redes?

Orkut Büyükkökten – Eu diria que é porque o mundo das redes sociais mudou muito, o que é representado especialmente por dois movimentos.

Primeiro, a geração da qual eu fiz parte foi pioneira na criação das redes sociais pela internet. Se você olhar para a geração atual, ela já cresce em uma sociedade com múltiplos serviços de redes, como o Facebook, o Twitter e o Snapchat. Então, há uma diferença geracional entre o Orkut e esses novos empreendimentos.

Além disso, eu também vejo uma mudança na forma de acessar a informação. A comunicação e o consumo de mídia, hoje, vêm dos smartphones. O mundo se tornou majoritariamente mobile: ficamos online o tempo todo. Já o Orkut foi construído para uma época em que tudo isso ocorria via browser. Portanto, vivenciamos também uma alteração em termos de tecnologia.

EXAME.com – Seu plano com o Hello é adaptar-se a essas novas tendências? Como você enfrentará a concorrência das grandes redes de hoje?

Orkut Büyükkökten – Ao longo da minha jornada com redes, eu aprendi mais sobre a sociedade. Percebo que é cada vez mais difícil se conectar de verdade com as pessoas por meio da internet. Há tanto esse desejo que as pessoas estão usando redes de encontro casual, como o Tinder, e redes profissionais, como o LinkedIn, para fazer amigos. Cada vez mais estamos online e passamos menos tempo com nossos amigos na vida real. Estamos mais conectados, mas mais infelizes.

Com a Hello, nós realmente acreditamos que as redes sociais devem juntar a pessoas, por meio de interações verdadeiras. As pessoas costumam compartilhar aquilo que querem que os outros vejam delas, no lugar de quem elas realmente são. É preciso ter um espaço onde você possa falar sobre o que sente de verdade e quais são suas verdadeiras paixões, que são os aspectos que conectam pessoas na vida real. Por isso, criamos a Hello como uma rede social móvel e com ênfase tanto nos interesses quanto no conceito de comunidade, e menos foco nas pessoas.

Nós falamos com os atuais usuários da Hello e eles se sentem felizes, acham a rede divertida. Não há aquele sentimento de ansiedade e depressão associado com o uso das redes sociais.

EXAME.com – Você espera que o Hello se popularize entre os brasileiros, como foi com o Orkut? Quais são os próximos planos?

Orkut Büyükkökten – Lançamos no Brasil em julho, e já tivemos um bom feedback: ficamos em destaque na loja de aplicativos para Android e o interesse foi tanto que nosso servidor até ficou um pouco lento por conta do tráfego. Para nós, o país é uma grande prioridade e estamos muito animados com a presença deles no Hello.

Também estamos preparando nosso lançamento na Índia neste mês, com previsão de chegada em janeiro do próximo ano. A expectativa é chegarmos a dois milhões usuários nos próximos quatro meses.