Deputados que criticam Eduardo Cunha são vetados na TV Câmara
O PSOL pedirá explicações formais devido a não transmissão da sessão solene que comemorou os dez anos do partido
A postura da TV Câmara de não transmitir a sessão solene em comemoração aos dez anos do PSOL, nesta terça-feira (15), de acordo com deputados contrários ao presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi apenas um dos sintomas da censura que se abateu sobre os órgãos de comunicação pública da Câmara na atual gestão.
Pelo menos cinco deputados estariam com seus nomes vetados na programação da TV pública, que tem por missão transmitir o que ocorre na Câmara. São eles, Glauber Braga (PSB-RJ), Alessandro Molon (PT-RJ), Silvio Costa (PSC-PE), além de três deputados do PSOL: Chico Alencar (RJ), Ivan Valente (SP) e Jean Wyllys (RJ).
Estes deputados estão na linha de frente das críticas a Cunha e do manifesto contrário à permanência do presidente no cargo, depois da denúncia, feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que acusa o presidente da Câmara de receber propina proveniente de contratos investigados pela Operação Lava Jato.
Corte na transmissão do Plenário
Além da TV, a Câmara possui ainda uma agência de notícias e a Rádio Câmara. Nesta terça-feira, pela primeira vez, a TV e a rádio não transmitiram a homenagem ao PSOL, que ocorria no Plenário, contrariando a regra seguida até então, por estes veículos da Casa, nos últimos 17 anos.
A orientação sempre foi de que as atividades de Plenário possuem prioridade sobre as demais atividades do Parlamento na veiculação. Nunca uma sessão solene foi trocada por um programa gravado, como aconteceu na manhã desta terça.
Perseguição aos opositores
O deputado Ivan Valente disse que o partido decidiu entrar com um pedido formal de informações para que Cunha e o secretário de Comunicação da Câmara, deputado Cleber Verde (PRB-MA) expliquem o tratamento dispensado ao partido e aos demais deputados que questionam o presidente. “Quero expressar o meu total repúdio ao que está ocorrendo aqui. No entanto, não há surpresa alguma para mim. Isso já era esperado”, criticou Ivan Valente.
“O que está ocorrendo é a utilização dos veículos de comunicação da Câmara com fins de perseguição política aos parlamentares do PSOL e a outros deputados combatentes”, diz. “Exigimos uma declaração pública do presidente Eduardo Cunha e do deputado Cleber Verde sobre o que ocorreu, já que nos últimos 20 dias, dois partidos fizeram sessões solenes aqui na Câmara, com transmissão por todos os veículos da Casa: O PTB e o PRB”, cita o deputado.
O veto aos deputados e à sessão teria partido da Secretaria de Comunicação da Câmara, logo após o lançamento do manifesto pela saída de Cunha do cargo, no final de agosto. No dia seguinte ao manifesto, funcionários da Secom ainda teriam repassado à TV Câmara a reclamação de Cunha, que não gostou de ter ouvido o deputado Chico Alencar na parte que cabe ao Legislativo no programa Voz do Brasil.
Patrulha ideológica
Desde então, de acordo com relatos, o clima na TV Câmara e nos demais órgãos de comunicação da Casa é de patrulha. Pelo menos três funcionários da Agência Câmara acabaram afastados da redação por “convicções ideológicas” ou, de acordo com relatos, por não aceitarem ter suas reportagens censuradas.
O afastamento dos funcionários foi comunicado pelo diretor da agência, João Pitela. Além disso, coordenações da TV também foram substituídas. Por serem concursados, os funcionários não foram demitidos, no entanto, para continuar trabalhando, precisaram procurar por outras funções para se realocarem dentro do quadro da Câmara.
Outro lado
Ao iG, o diretor-executivo da Secom, Cláudio Lessa, nega atos de censura nos veículos da Câmara. “Quem falou esta palavra? Posso te assegurar que não existe. Não há veto ao nome de qualquer parlamentar. Costumo dizer que não há parlamentar que não deve o nosso respeito. Todos os 513 deputados foram eleitos e merecem nosso repeito, obediência e atenção”, afirma Lessa.
Lessa é funcionário concursado da TV Câmara e assumiu o cargo de diretor-executivo da Secom da Câmara, no início deste mês, convidado por Cunha, a revelia do secretário, deputado Cleber Verde.
Segundo Lessa, a decisão de não transmitir a sessão do PSOL ocorreu devido a uma avaliação de não haver um “interesse jornalístico” na atividade que ocorria no plenário.
“Decidimos por uma programação de maior interesse. Em geral, essas sessões são arrastadas, só com aqueles grupos, ou seja, mais um jogo de compadres”, avalia Lessa. “Quando é assim, a gente grava e transmite depois”.
Procurado pela reportagem, o chefe da Secom, deputado Cleber Verde, não retornou às ligações.