Diretores da Dow Química fazem reunião para atualizar moradores sobre cratera
Sentados em um semicírculo, cerca de 30 moradores da vila de Matarandiba, em Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, aguardavam o início da reunião. Um funcionário da Dow Química, empresa que há 46 anos explora o solo da região, inicia o encontro: “vamos atualizar vocês sobre a cratera que está lá no terreno da Dow ”. A 1,1 quilômetro deles, está o motivo do encontro: um grande buraco que surgiu na região e foi encontrado por dois moradores que trabalham para a empresa em 30 de maio.
Desde então, ainda não se sabe o que motivou o surgimento da cratera, mas a população do povoado – cerca de mil pessoas – ficou assustada. Diante do desconhecido, houve até quem achasse que “a vila afundaria também”. Nesta quinta-feira, 28, crianças, idosos e adultos estavam reunidos para saber da Dow como estava a situação. Era o terceiro encontro.
A empresa informou que não fez poços no local da cratera. A erosão está em uma região de mata fechada e a 200 metros de um poço que está fora de operação desde 1985. Ela recebeu 13 notificações da Agência Nacional de Mineração, órgão federal que autorizou, em 1974, a exploração de sal na região. A agência pede, entre outros aspectos, que estudos sejam feitos para desvendar o que e porquê ocorreu.
Alerta
Do diretor da mina de Matarandiba da Dow, Marcos Lobão, os moradores ouviram que o barulho que se ouve ao se aproximar da região é decorrente da borda da cratera que continua caindo. “Por isso a gente recomenda às pessoas para não irem lá”. No local, foi colocada uma cerca.
Ele contou que a erosão, que tinha 69 metros de comprimento por 29 m de largura, aumentou 95 cm de comprimento e 14 cm de largura. O buraco equivale a 1/3 de um campo de futebol. Já a profundidade, que era de 46 m, reduziu para 43 m. Lobão contou que quatro estudos e medições da própria empresa foram iniciados.
O primeiro deles, o Geomecânico, levará até seis meses pra ficar pronto. Será feito por uma empresa alemã e vai checar a causa da erosão. Às terças, com uso de drones, a empresa vai avaliar as dimensões da cratera.
O monitoramento será feito também, acrescentou Lobão, via satélite, por uma empresa canadense para verificar movimentação de terra. Sensores micro-sísmicos também serão colocados no buraco, na vila e na Dow. Mas só vão chegar daqui a um mês. Dois temporários foram instalados.
Há, ainda, outros três estudos que segundo Lobão foram contratados pela Dow e estão a cargo de um professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba). A intenção é verificar anormalidades em regiões de baixa e de alta profundidade.
Comunicação
Lobão, ainda, informou um WhatsApp para que os moradores possam tirar dúvidas e combater fake news. Uma das primeiras moradoras a se manifestar perguntou sobre as causas. O diretor de operações da Dow, o colombiano Diego Arango, ressaltou estudos estão sendo feitos.
“Não vamos ficar tranquilos com uma só opinião”, respondeu. Ele disse que qualquer afirmação por enquanto é especulação, mas que se trata de um sinkhole, um buraco que ocorre “com frequência” em diversos lugares do mundo, por motivos diferentes.
“Estamos preocupados e queremos respostas. Já chorei e fiquei nervosa, mas estou mais tranquila. Confiando em vocês, mas, primeiramente, em Deus”, desabafou a professora Vera Lúcia de Freitas, 66, nascida e criada na vila.
Outra moradora questionou o que a empresa faria se tivesse que retirar a comunidade do local ou se precisasse parar de explorar a região. “É muito cedo para especular. Quando tiver resultados vamos nos posicionar. Monitoraremos toda semana”, respondeu Arango.
No encontro, os moradores reclamaram ainda de rachaduras em casas, de desmatamento, da estrada que dá acesso ao local e parte não é asfaltada e da relação da empresa com a comunidade. Sobre as rachaduras, os funcionários disseram que não sabiam e ressaltaram que desenvolvem projeto na comunidade. Antes de finalizar a reunião, Lobão voltou a falar sobre as causas. “Esse buraco é tão surpresa para a gente quanto para vocês”.