Doações de sangue caem por causa de doenças ligadas ao Aedes
Na última semana, o banco de sangue de Itabuna (a 426 km de Salvador) emitiu um alerta preocupante: o estoque da unidade, que é única na cidade, apresentou uma queda de 30% no número de doadores por causa do alto número de casos de pacientes com sintomas de dengue, chikungunya e zika.
A situação, entretanto, não está restrita ao município. A Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado da Bahia (Hemoba), que, além da capital baiana, atende mais 26 regiões no interior, já sente os efeitos da epidemia. Nos dois primeiros meses deste ano, o banco de sangue registrou um déficit de 25% no número de doações.
A redução se deve, principalmente, à recomendação da comunidade médica que alerta pacientes que tiveram zika, dengue ou chikungunya a ficar, pelo menos, 30 dias sem doar sangue, a partir do desaparecimento dos sintomas.
Hemocentro busca atrair novos doadores
Por causa disso, a liberação de bolsas para transfusão em todo o estado está ainda mais rigorosa. De acordo com o coordenador do setor de coleta do Hemoba, Marcelo Matos, apenas as solicitações de casos graves são atendidas de imediato.
“Coletamos, hoje, cerca de 150 bolsas por dia. Para que o Hemocentro trabalhe em uma situação confortável, o ideal é que tenhamos, diariamente, 200 bolsas. Então, eventualmente, precisamos negar pedidos de sangue para cirurgias eletivas para priorizar os casos graves, de emergência”, explicou.
Na última sexta-feira, o estoque apontava um nível crítico de sangue do tipo A-, AB-, O- e O+. Já os tipos B- e A+ estavam com o estoque em nível de alerta. Somente B+ e AB+ contavam com quantidades estáveis armazenadas.
Além de suprir às demandas da capital, o hemocentro atende solicitações de municípios como Feira de Santana, que, por conta da alta incidência das três doenças, também apresentou uma redução de 30% do número de doadores.
“O município de Feira de Santana, por estar situada em um lugar estratégico, tem um importante hemocentro e abastece muitas cidades vizinhas. Por conta da queda no número de doação, estamos suprindo toda essa carência”, disse.
Segurança
O período de 30 dias após o desaparecimento de todos os sintomas da doença é necessário, segundo o coordenador do setor de coleta, Marcelo Matos, para garantir a segurança tanto do doador quanto do paciente que vai receber o sangue.
“Por isso, pedimos que o voluntário seja sincero durante a entrevista que antecede a doação e informe sobre sintomas que podem indicar algum problema de saúde”, explicou.
O taxista Carlos Antônio de Santana, 34, que regularmente doa sangue, teve que interromper a ação voluntária durante meses por causa do zika vírus.
“Tive a doença e ainda apresentei sintomas durante algum tempo. Por isso, adiei a doação por quase seis meses até que me sentisse 100% em condições de voltar a doar”, afirmou.
A estudante Beatriz Gaya, 20 anos, doou sangue pela primeira vez na última semana. Assim como Carlos Antônio, ela também precisou aguardar o desaparecimento de todos os sintomas da doença.
“Por causa do zika vírus, acabei tendo que adiar a doação que queria fazer. Quando todos os sintomas sumiram de vez, me programei e acabei retomando o plano de me tornar doadora”, disse