Dólar sobe pelo 5º dia e atinge R$ 3,81 com preocupação sobre Levy e ajuste; Bovespa avança
O dólar comercial se mantém em alta pelo quinto dia consecutivo nesta quinta-feira, e atingiu a máxima de R$ 3,818 durante a primeira hora de negociação. Desde 10 de dezembro de 2002 a divisa não fecha acima de R$ 3,80. A moeda americana avançava, às 12h30m, 0,21%, cotada a R$ 3,77 para venda. Em 12 meses, a divisa acumula salto superior 70%; em 2015, a alta já é de 43%. Com a disparada do câmbio, o dólar turismo em espécie ultrapassou ontem a barreira dos R$ 4 nas casas de câmbio, enquanto chegava a R$ 4,27 no cartão pré-pago. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acompanha os mercados europeus e americanos, que estão em alta, e registra valorização de 1,99% no índice de referência Ibovespa, aos 47.388 pontos.
O dólar segue pressionado por fatores internos. Os investidores seguem com dúvidas sobre a permanência no cargo do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e preocupados com a potencial aprovação de novos gastos pelo Congresso Nacional. Ontem, esses fatores fizeram o dólar subir 2,06%, a R$ 3,762 — o maior valor de fechamento desde os R$ 3,79 de 12 de dezembro de 2002.
Segundo reportagem da “Folha de S. Paulo” publicada nesta quinta-feira, o ministro Levy procurou ontem a presidente Dilma Rousseff e seu vice, Michel Temer, para se queixar de isolamento e falta de apoio dentro do governo. De acordo com o jornal, Levy indicou que pode deixar o cargo se a situação não mudar. Teria sido essa conversa com o ministro que levou a presidente a defendê-lo publicamente na quarta, dizendo que ele não está isolado.
— O dólar a R$ 4, que ninguém acreditava, já é inevitável. Agora o mercado financeiro começará a especular sobre o quanto além disso ele irá. O país exporta pouco e tem atraído menos capital especulativo, então há muito pouco fluxo de entrada de dólares. Quanto ao Levy, os agentes do mercado não querem acreditar na saída dele mas todo mundo sabe que ela também é inevitável — afirmou Italo Abucater, gerente de câmbio da corretora Icap do Brasil.
Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso, a escalada do dólar reflete a crise política e, claro, a possibilidade de substituição do ministro da Fazenda. Para ele, neste cenário, se acelera a possibilidade de um downgrade da nota de crédito do Brasil pelas agências de classificação de risco.
– Todo dia sai uma informação desconstruindo a equipe econômica. A entrega de um orçamento com previsão de déficit para 2016, por exemplo, mostrou divisão entre os ministros da Fazenda e do Planejamento. Também já se fala numa eventual saída do presidente do BC, Alexandre Tombini, se ele perder o status de ministro na reforma ministerial. Isso aliado à crise na China e à possibilidade de alta dos juros americanos no exterior pesa sobre o dólar – diz ele.
O especialista em câmbio da Treviso também acredita que a moeda americana deve chegar ao R$ 4 em breve, já que o mercado todos os dias está testando novas máximas para a divisa, sem que o BC tenha algum tipo de reação. Depois de testar o dólar a R$ 3,76 ontem, hoje o mercado levou o dólar até R$ 3,81 e depois recuou um pouco.
– Isso tem acontecido todos os dias, sem que o BC aumente a oferta de swaps – afirma.
O mercado também recercute a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que anunciou na noite de quarta a manutenção da Selic, taxa básica de juros, em 14,25%, encerrando um ciclo de sete altas consecutivas. Em relatório, o economista do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, avalia que a Selic deve se manter no atual patamar até o fim do ano. Mas adverte que há riscos para essa trajetória da Selic.
“A taxa de câmbio vem se depreciando de forma significativa, refletindo incertezas domésticas e externas, podendo gerar de forma persistente “desvios significativos das projeções de inflação em relação à meta” mencionados na última ata, demandando um ajuste adicional da taxa de juros”.
Pelas projeções do mercado, a inflação só deverá convergir para o centro da meta, que é de 4,5%, em 2017.
EUROPA EMITE BONS SINAIS E AÇÕES SOBEM
Na Europa, as ações operam em alta pelo segundo dia, seguindo o desempenho das commodities após dados positivos sobre a recuperação econômica no continente. Hoje, um indicador de atividade nos setores industrial e de serviços na Zona do Euro mostrou o melhor resultado desde maio de 2011. Um feriado de dois dias na China também alivia a tensão dos investidores, uma vez que os mercados do país asiático vinham sendo os responsáveis pela turbulência global nas últimas semanas. Os chineses lembram os 70 anos da vitória da China sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial.
A mercado também repercute a decisão do Banco Central Europeu (BCE), que deixou as taxas de juros da zona do euro inalteradas nesta quinta, deixando-as nas mínimas recordes enquanto estimula a economia por meio da compra de títulos soberanos. A taxa de refinanciamento, que determina o custo do crédito na economia, segue em 0,05%. Já a taxa de depósitos foi mantida em -0,20% — ou seja, os bancos continuam pagando para deixarem o dinheiro estacionado. A taxa de empréstimos continuou em 0,30%.
A Bolsa de Londres opera em alta de 1,34%, enquanto a de Paris avança 2,46%. Em Frankfurt, a alta é de 2,88%. O índice de referência europeu Euro Stoxx 50 registra valorização de 2,48%. Em Wall Street, o Dow Jones sobe 0,94%, enquanto o S&P 500 registra alta de 0,89% com sinais de que a alta dos juros nos EUA pode demorar um pouco mais para começar.
PETROBRAS E VALE SOBEM MAIS DE 5%
Na Bovespa, as ações de empresas de commodities estão entre as maiores altas. Os papéis ordinários da Vale apresentam a maior valorização com ganho de 5,63% a R$ 19,13, enquanto as ações preferenciais sobem 4,53% a R$ 15,24, a quinta mais valorização. Também os papéis da Petrobras se valorizam. Os ordinários sobem 4,90% (ON) a R$ 10,70, acompanhando a alta de 2,2% no barril de petróleo do tipo Brent (a US$ 51,63).
O setor bancário, de maior peso no índice. Os papéis do Bradesco avançam 0,13%, enquanto os doo Itaú Unibanco, 0,67% ganham 1,05%.
Fonte: O Globo