Dólar sobe quase 2% e vale R$ 3,83, sensível à situação de Levy e a dados dos EUA; Bovespa cai
Moeda fechou em leve queda ontem, após ter chegado a R$ 3,81 com rumores sobre possível saída do ministro
O dólar comercial disparou no começo da tarde desta sexta-feira e valoriza-se agora em 1,94%, a R$ 3,831 para compra e a R$ 3,833 para venda. Na máxima do dia até agora, a divisa chegou a valer R$ 3,836. Na quinta-feira, a forte volatilidade no mercado de câmbio, provocada por rumores de uma possível saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fez com que o dólar atingisse a máxima de R$ 3,81 mas fechasse em leve queda, a R$ 3,760. Desde 10 de dezembro de 2002 a moeda americana não ultrapassava a barreira dos R$ 3,80. Apesar de encerrar um ciclo de quatro altas consecutivas, especialistas acreditam que a tendência da moeda ainda é de valorização. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acompanha hoje o mercado internacional e registra queda de 1,41%, aos 46.699 pontos em seu índice de referência Ibovespa.
O dólar ganhou mais força em nível global após a divulgação dos números do mercado de trabalho americano. Foram criadas 173 mil vagas de trabalho nos EUA em agosto, e a taxa desemprego caiu a 5,1%, em nível classificado pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) como pleno emprego. A adição de novos postos, embora abaixo da expectativa do mercado (217 mil, segundo pesquisa da Bloomberg), ocorre após dois meses seguidos de criação de vagas acima do projetado.
O número vai ajudar o Fed a determinar se deve ou não subir os juros dos EUA na reunião de de 16 e 17 de setembro. Mas ao mostrar a continuidade da melhora no mercado ao mesmo tempo em que apresenta números abaixo do projetado, a pesquisa não foi conclusiva sobre os o que o Fed fará. Confuso, o mercado acionário reagiu com quedas.
— Os dados americanos foram dúbios, e o dólar subiu imediatamente após a divulgação deles. Mas prevalece hoje a questão doméstica. Mesmo que o governo tenha desmentido os rumores sobre a saída do Levy, historicamente, a gente sabe que tudo pode acontecer. Como o governo trava uma disputa muito forte com a base aliada, se houver pressão pela saída dele, não terá jeito — disse Jaime Ferreira, superintendente de câmbio da corretora Intercam.
Segundo Ferreira, parte da valorização do dólar também é provocada pelo fim de semana prolongada (segunda-feira, 7 de setembro, é feriado nacional):
— Embora nosso feriado coincida com o americano, o investidor teme ficar exposto ao que acontecer na China e na Europa, e isso também exerce pressão sobre o câmbio.
Em Wall Street, o índice Dow Jones recua 1,39%, enquanto o S&P 500 cai 1,27% e o Nasdaq, 1,01%. Na Europa, as ações aprofundaram a queda após o relatório sobre o emprego nos EUA. O índice de referência Euro Stoxx cai 2,74%, enquanto a Bolsa de Londres recua 1,95%; a Bolsa de Paris registra baixa de 2,62%, e a de Frankfurt, de 2,53%.
Na Bolsa brasileira, o setor bancário — o mais importante do Ibovespa — é o maior responsável pela queda de hoje. O Banco do Brasil tem baixa de 2,74%, enquanto o Bradesco recua 2,69%. O Itaú Unibanco perde 2,90% e o Santander, 4,17%.
A Petrobras também cai, com desvalorização de 1,46% nas ações ordinárias (ON, com voto) e de 1,59% nas preferenciais (PN, sem voto). Na Vale, a queda é de 2,34% (ON) e 3,22% (PN).
TURISTAS PAGAM MAIS DE R$ 4 PELO DÓLAR
O dólar turismo fechou a quinta-feira pouco acima do valor da última quarta. O custo para compra da divisa no cartão superou a marca de R$ 4,20 em algumas casas de câmbio, enquanto o papel-moeda variou entre R$ 3,874 R$ 4,055, já levando em conta o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Na mediana de 37 projeções compiladas pela Bloomberg, o mercado estima que dólar comercial estará em R$ 3,60 no fim do ano — mais de 5% abaixo do patamar atual. A canadense RBC Capital Markets e a americana Prestige Economics, porém, já projetam o dólar a R$ 4 ao fim do ano.
Assim como o câmbio, as projeções da RBC subiram vertiginosamente. Em outubro de 2014, a RBC esperava um dólar a R$ 2,25 no fim deste ano. Em janeiro, já havia elevado para R$ 2,80. Em abril, a estimativa saltou para R$ 3,50. Ao fim da primeira semana de agosto, ela finalmente revisou para R$ 4.
GOVERNO DESCARTA USO DE RESERVAS
As turbulências no mercado de câmbio estão sendo acompanhadas com lupa pela equipe econômica, mas não há sinais por enquanto de mudanças na condução da política cambial para conter a alta do dólar.
Nos bastidores do governo, a avaliação é que, no momento, a atitude mais sensata é a de observação, pois os principais eventos que pressionam o câmbio não são econômicos e o Banco Central já estaria oferecendo a proteção que o mercado demanda com a rolagem dos contratos de swap (que funcionam como uma venda de dólares no mercado futuro). O uso das reservas cambiais para segurar o câmbio, defendida por parte dos analistas do mercado financeiro, é estratégia descartada.
O dólar no ano acumula valorização de 41,2%. Há uma convicção no governo de que o colchão de reservas de US$ 370,4 bilhões que o país acumula é o seu principal fiador junto às agências de risco. Queimar reservas em um momento de grande instabilidade política e econômica seria uma péssima sinalização, segundo a visão de técnicos da equipe econômica.