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29 September 2024
Para Renato Miranda, Dunga deveria se informar antes de falar sobre Psicologia do Esporte (Foto: Edgar Maciel de Sá)

Dunga dá mancada e psicólogo do esporte o chama de “ignorante”

Dunga fez críticas a utilização de psicólogos na seleção brasileira em evento “Somos Futebol”, realizado pela CBF ao longo desta semana. Para o técnico, o jogador que acabou de chegar de viagem não vai querer se desabafar com um estranho. Para ele, o jogador pode ter dúvidas sobre o grau de confiança no que diz: “Será que ele (psicólogo) vai contar para o dirigente? Será que ele vai contar para o treinador?”. A declaração do treinador gerou polêmica e especialistas no estudo do comportamento e as funções mentais se revoltaram.

Dunga em evento da CBF: treinador foi criticado por psicólogo (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)

Dunga em evento da CBF: treinador foi criticado por psicólogo (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)

Doutor em Psicologia do Esporte pela Universidade Gama Filho, autor de dois livros a respeito do tema e uma das principais referências sobre o assunto no país, o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Renato Miranda criticou duramente as palavras de Dunga. Para ele, o técnico demonstrou falta de conhecimento do assunto.

“Pelo que lemos, o problema é a ignorância total sobre o tema. A crítica que ele faz não é da Psicologia do Esporte. Ele confunde Psicologia Clínica, ou algo próximo disso, com Psicologia do Esporte. Quando o Dunga diz isso e ainda dá suporte a essa ignorância afirmando que ele é autêntico e sincero, desculpe-me, mas isso não tem nada de autenticidade. Nem de sinceridade. Isso na verdade serve como um escudo para proteger a ignorância que a pessoa tem sobre determinado assunto, e por ter um ego muito forte, ser um ególatra, essa pessoa não consegue discernir a ignorância de um tema da sua própria capacidade de julgar algo que desconhece. Eu sou ignorante em vários temas, como Física Quântica, por exemplo. Aí eu vou dizer que Física Quântica é bobagem? ”, criticou.

Renato deu exemplos de situações, demonstrando a confusão de temas feita por Dunga. “O psicólogo do esporte vai ajudar o atleta a não tomar um gol no primeiro minuto de jogo porque está desmobilizado, a controlar a ansiedade para não ficar em impedimento, por exemplo. Ele (Dunga) sequer sabe o que é um treinamento psicológico. Se algum atleta tiver algum distúrbio psicológico, vai se tratar com um psicólogo clínico. É a mesma coisa que eu criticar o jornalismo esportivo falando de jornalismo político. Você vai achar que eu estou doido”, disse.

Renato é consultor esportivo do Vôlei Juiz de Fora, na Superliga Masculina (Foto: Roberta Oliveira)

Renato é consultor esportivo do Vôlei Juiz de Fora, na Superliga Masculina (Foto: Roberta Oliveira)

O doutor em Psicologia do Esporte com especializações na Alemanha e na Rússia disse entender a imagem negativa do técnico da Seleção, mas deixa claro a ignorância no assunto, que vem de diversos profissionais do esporte.

“A discussão do Dunga tem eco porque ele é o técnico de uma das melhores seleções de futebol do mundo. Só que é de uma precariedade intelectual de dar dó. Eu até entendo essa posição do Dunga pelo seguinte: na Seleção já passaram psiquiatras, ditos especialistas em autoajuda, em motivação, alguns psicólogos que não entendem nada de psicologia do esporte. Ou psicólogos que entendem de psicologia do esporte, mas não conseguiram, por um motivo ou por outro, fazer um grande trabalho. Então isso não me surpreende, a imagem que o sujeito tem é muito negativa. Mas acho que as pessoas deveriam procurar estudar. Os anos vão passando, e as pessoas continuam dizendo bobagens, coisas de ordem precária, ignorante em relação ao assunto, tratando as questões de uma maneira rasa, simplista, bruta, vergonhosa”, afirmou.

Para Renato Miranda, passagens recentes da seleção brasileira transparecem os problemas na preparação psicológica dos jogadores. Ele sugere que os profissionais aprendam com o que é praticado mundo afora.

“Diversos países fazem isso em vários esportes. Temos que ter discernimento para ver o que está acontecendo. Por isso que atleta fica chorando igual criança na hora do hino, em vez de estar feliz por estar participando de uma Copa. Por isso que na hora do pênalti fica tremendo e chorando”, explicou.

O professor universitário disse ainda que o técnico deve fazer o mesmo acompanhamento psicológico que os jogadores.

Por Click Notícias