Em Brasília, Temer age para não perder comando do PMDB
Vice-presidente se reunirá hoje com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, para discutir o assunto; sua recondução ao cargo, que ocupa desde 2001, é ameaçada pelo PMDB do Senado
Com a proximidade da Convenção Nacional do PMDB, prevista para março, o vice-presidente da República, Michel Temer, foi a Brasília para tentar negociar a pacificação da bancada da legenda na Câmara e evitar que a disputa também contamine o processo para a sua recondução à presidência da legenda. Temer ocupa o posto desde 2001 e sua recondução está ameaçada pelo PMDB do Senado. O presidente da Casa, Renan Calheiros (AL), o líder Eunício Oliveira (CE) e o senador Romero Jucá (RR) pretendem apresentar um nome para presidir o partido na convenção.
O vice-presidente tem defendido um entendimento na briga pela liderança da Câmara. “O Michel está acompanhando o processo. Não está interferindo diretamente”, afirmou o deputado Osmar Terra (PMDB-RS), após falar por telefone com o vice-presidente.
Temer deve se encontrar nesta quarta-feira com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para discutir o assunto. A definição do líder da bancada da legenda, a maior da Câmara com 68 integrantes, deverá ocorrer em fevereiro. O vice-presidente busca o papel de apaziguador da disputa uma vez que ela envolve dois dos Estados com o maior número convencionais: Minas Gerais e Rio de Janeiro.
Após dezenove dias de recesso, Temer desejou nesta terça-feira “harmonia” ao país e ao PMDB. “Acho que precisamos de muita harmonia. O ano novo enseja, pelo menos no começo, essa ideia de harmonia absoluta, harmonia no país, harmonia no PMDB, nas bancadas e em todos os locais que precisamos”, disse Temer ao deixar a vice-presidência.
Disputa – A posição de Temer neste início de ano sobre a disputa na bancada difere da que ele teve no final do ano passado, quando se movimentou nos bastidores para substituir o então líder Leonardo Picciani (RJ) – próximo ao Palácio do Planalto e contra o impeachment – pelo deputado Leonardo Quintão (MG), ligado ao grupo favorável ao processo de impeachment.
O deputado mineiro chegou a ocupar o posto por uma semana, mas foi destituído após Picciani conseguir, com ajuda do governo, maioria de assinaturas na bancada. A intervenção de Temer na briga acabou gerando desgaste com líderes do PMDB do Rio.
Próximo ao vice-presidente e principal articulador do impeachment, Cunha declarou guerra a Picciani e diz abertamente que, ao contrário da última disputa, votará na eleição do novo líder. Ele defende que o candidato seja um nome de consenso do PMDB mineiro, que tem sete representantes, número menor apenas do que a bancada do Rio de Janeiro, com onze deputados.
Já os peemedebistas fluminenses têm atuado para ajudar Picciani. Aliado do atual líder da bancada, o vereador Átila Nunes (PMDB-RJ) deve tomar posse nesta quarta como deputado federal graças a uma liminar do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. Cunha havia se negado a empossar Nunes. O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), nomeou o deputado federal Ezequiel Teixeira (PMB-RJ) secretário de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado, abrindo o caminho para Nunes assumir como suplente na Câmara dos Deputados.
Apesar do posicionamento de Temer pela unidade partidária, a briga pelo comando da legenda na Câmara mantém-se acirrada mesmo durante o recesso parlamentar. Até o momento, a bancada de Minas não consegue chegar a um consenso sobre quem disputará com Picciani. Dois nomes brigam pela vaga. As discussões entre Quintão e Newton Cardoso Júnior não se restringem aos bastidores nem às críticas a Picciani. Quintão diz que sua candidatura é “irreversível” e Cardoso Júnior afirma que o colega “queimou a largada”.
Os dois concordam apenas ao dizer que Picciani só pode ser reconduzido se conseguir apoio de dois terços da bancada, resolução acordada no início do ano passado. O deputado pelo Rio de Janeiro diz que o acordo não tem validade porque seus adversários se organizaram para destituí-lo antes do fim do prazo de sua liderança. “Eles não têm condições de cobrar acordo nenhum porque acabaram com qualquer possibilidade de acordo quando fizeram lista”, disse Picciani.