Estudantes baianos criam bengala automática de baixo custo para deficientes visuais; entenda
Já imaginou se um deficiente visual pudesse andar pela cidade com uma bengala que lhe impedisse de esbarrar em objetos apenas com uma vibração? Um grupo de estudantes do Instituto Federal da Bahia (Ifba) desenvolveu ao longo de oito meses um projeto voltado para ajudar pessoas com necessidades visuais específicas.
A ideia partiu do professor Justino Medeiros que, junto com três integrantes do Grupo de Pesquisa de Sistemas de Automação e Mecatrônica (GSAM), elaborou a Bengala Automatizada para Detecção de Obstáculos. O segundo protótipo da ferramenta foi um dos projetos selecionados para exibição na Campus Future, que faz parte da quarta edição da Campus Party Recife Eric Pessoa (esquerda), o professor Justino Medeiros, Larissa Assis e Victor Araújo (direita) desenvolveram o projeto (Foto: Divulgação) |
O objetivo do evento é exibir ao público em geral projetos inovadores e criativos desenvolvidos nas universidades brasileiras em diversas áreas. O projeto dos estudantes do Ifba também concorre a uma premiação no final da Campus Party, que encerra neste domingo (26).
A proposta da criação da bengala surgiu a partir da convivência com deficientes visuais no próprio local de estudo. “Nós vimos uma demanda no Ifba”, relembra o estudante de engenharia elétrica Victor Ben-Hur Araújo, de 23 anos, em entrevista ao CORREIO durante o segundo dia evento (24).
“Lá existe um núcleo de deficientes visuais, auditivos e motores que estudam normalmente, assistem aula com a gente. Nós vemos diariamente alguns alunos deficientes visuais trafegando pela instituição e o professor Justino chegou com essa ideia para facilitar o dia-a-dia deles”.
Bengala automizada tem três sensores e |
O grupo, que ainda conta com o estudante de engenharia mecânica Eric Pessoa e Larissa Assis, aluna do curso técnico de automação do Ifba, determinou que a ferramenta contaria com quatro sensores que alertariam o seu usuário da proximidade e localização de um obstáculo nas imediações.
“Decidimos que a detecção dos objetos se daria através de sensores separados por zonas – a esquerda, a direita, a central e superior”, disse Victor. “Essa detecção é feita e processada em uma plataforma chamada Arduino”, explica.
Este tipo de plataforma é de hardware livre, ou seja, gratuito, e permite a criação de ferramentas acessíveis, de baixo custo e fáceis de serem utilizadas e customizadas. “O controle é feito ali [no Arduino] e passado para os motores de vibração, que ficam na luva da bengala”.
O objetivo geral do produto, segundo o estudante baiano, é desenvolver um instrumento de baixo custo que seja acessível à população de deficientes visuais. “Queremos dar para eles uma ferramenta a mais, de tecnologia assistiva, que só acrescente aos sentidos que eles já usam. Com a bengala eles terão um acréscimo, um objeto eletrônico que lhe propicie uma segurança maior nas ruas”.
O diferencial da bengala desenvolvida pelos pesquisadores baianos vai além do uso de quatro sensores – dois a mais do que o utilizado por Carlos Solon Guimarães, brasileiro que desenvolveu um protótipo com dois sensores como trabalho de conclusão de curso de uma universidade no Rio Grande do Sul, em 2011.
O instrumento informa ao usuário em que lado o obstáculo se localiza, e se ele está localizado acima do tronco da pessoa. “A detecção na parte da face, por exemplo, evita o risco de colisões com orelhões ou outros objetos que estejam fora do alcance tátil dele”, comenta Victor Araújo.
“O motor da direita informa que o objeto está daquele lado, e na esquerda o oposto. O motor que está localizado na palma corresponde ao centro – ou seja, o obstáculo está na frente da pessoa. E quando ele está na parte superior, todos os motores vão vibrar ao mesmo tempo”, exemplificou.
Além da localização, a bengala dos estudantes do Ifba também alerta sobre a proximidades do objeto. Quanto mais próximo o usuário esteja do obstáculo, mais forte será essa vibração. O protótipo atual detecta objetos na região inferior com até 70 cm de distância da pessoa, enquanto objetos na região superior e da cabeça conseguem ser percebidos com até 1,10 metro de distância.
Ainda segundo o estudante de engenharia elétrica, essas percepções podem ser ajustadas de acordo com a necessidade do cliente, que pode escolher diminuir a distância em que os alertas poderão ser feitos. A perspectiva é de que a bengala custe em torno de R$ 300.
O projeto está encerrando a sua primeira fase após oito meses de pesquisas e desenvolvimento. “Já apresentamos a bengala em um fórum mundial, e vamos para outro congresso em Aracaju para apresentá-la também. Queremos transformar isso em produto e colocá-la no mercado assim que possível”, garante Victor.
Os estudantes estão planejando transformar o protótipo em uma startup a partir do próximo mês. Com o lançamento do produto, que está previsto para acontecer até o final deste ano, a rotina dos deficientes visuais pode se tornar ainda mais prática e segura.
*A jornalista viajou a convite da organização do evento.