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28 November 2024

Exame prático reprova um em cada três candidatos; baliza é a maior vilã

Em vez de ficar na sala de espera, junto com os demais candidatos que assistiam televisão, a professora municipal Jaqueline Góes Moreira, 30 anos, estava em pé, andando de uma ponta a outra em frente à entrada de um galpão na Ribeira, onde é realizado o exame prático de direção do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-BA).

Ela estalava os dedos e mordia os lábios, enquanto aguardava  o chamado do instrutor para fazer a baliza. A tensão tinha justificativa: no último dia 7, era a  quarta vez este ano que ela se submetia à avaliação. Segundo o órgão, 1/3 dos candidatos são reprovados no teste prático para a primeira carteira de motorista na categoria B.

Até novembro deste ano, 257.033 candidatos fizeram a prova prática, dos quais 95.633 foram considerados inaptos. Já no mesmo período do ano passado, de 236.757 que também fizeram a prova, 75.887 não passaram. Jaqueline, infelizmente, foi reprovada.

“Estou pensando seriamente em desistir”, declarou. Para o coordenador de Segurança e Educação para o Trânsito do Detran-BA, Eliezer Cruz, o fator psicológico é a maior causa para a reprovação no exame prático. “O candidato sabe bem a teoria, vai bem nas aulas práticas, mas chega ansioso para o exame prático e acaba cometendo erros que normalmente não cometeria”, disse o Cruz.

Dentre os elementos da reprovação, a baliza (momento em que o candidato estaciona entre dois protótipos) é responsável pela a maioria das reprovações. “Primeiro pelo grau de dificuldade, mais do que a condução que exige a troca de marchas e a meia embreagem”, argumentou. Cruz afirmou que o órgão não tem números que mostrem onde os candidatos mais erram.

Há mais de 17 anos trabalhando como instrutor de trânsito, Washigton Lázaro apontou os erros cometidos pelos candidatos por causa do nervosismo.  “Descontrolar e interromper o carro, não sinalizar corretamente ou não fazer uso da sinalização, ultrapassar a faixa de retenção, na parada obrigatória”, enumerou Lázaro.

Os motivos apontados por Cruz e por Lázaro são confirmados por quem já tentou por mais de uma vez a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). “Fiz as três vezes e perdi. As três neste ano. Minha questão é o psicológica. Mas algo diferente em relação a outras provas. Daquele galpão sai muita gente chorando e a gente fica impactada”, disse a estudante de Direito Temille Batista de Souza, 28.

Na primeira vez, ela não fez muito bem a baliza, mas chegou a fazer o exame de rua – foi quando freou bruscamente após uma pessoa atravessar. “E o examinador do Detran assumiu o volante”, contou Temille. As duas outras tentativas, ela bateu no protótipo na baliza. “Mas não desistirei, pois pretendo fazer o concurso da Polícia Militar e a habilitação é obrigatória”, disse.

“Já fiz quatro vezes. Na primeira, perdi na baliza, na segunda, perdi no exame de rua, na terceira e quarta perdi  novamente na baliza. Fiquei muito nervosa, não me sentia segura em nenhum momento”, relatou a também estudante de Direito Catiucha Melina Peixoto, 34.

“Em vários momentos vi o examinador pisar no freio dele. Eu, no lugar dele, não me passava”, lembrou bem-humorada. Catiucha disse que, após o Carnaval, fará tudo de novo. A jornalista Acássia Filgueiras, 36, foi vencida quatro vezes pelo nervosismo.

“Numa das situações, o instrutor pôs um copo de café em cima do painel e fiquei com medo de derramar o café nele. Fiquei tensa demais. Aí ele me reprovou porque estava com a velocidade abaixo da permitida. Em outra situação, não tinha controle nas reduções e passava muito rápido pelo quebra-molas”, contou.

“Pensei em desistir. Aí, meu professor da auto da escola  me encorajou e fiz tudo de novo e passei”, contou Acássia. Somente na quarta tentativa, a técnica em edificações Janaína Teixeira Santos, 25, foi aprovada no teste de rua.

“Por mais que você passe com louvor na prova teórica e nas aulas práticas de rua, você saber que está sendo avaliado muda tudo. Só o examinador entrar no carro que as minhas pernas tremiam e começava a transpirar sem parar”, contou. “Dessa vez, fiquei menos nervosa que antes. Orei bastante e consegui completar a prova toda sem errar nada”, emendou Janaína, aprovada no último dia 7.

Medo de fracassar
Para o psiquiatra e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Irismar Reis de Oliveira, o candidato perde por causa do medo de fracassar.

“É o indivíduo que acha que vai ter dificuldades nas relações sexuais, ou numa prova prática de trânsito, e acaba tendo. Ele teme diante de uma performance. Então, esse temor faz com que a performance seja prejudicada”, explicou.

De acordo com o psiquiatra, a psicoterapia cognitiva pode ajudar o indivíduo a identificar comportamento catastrófico.  Para lidar com o nervosismo, o psiquiatra explica que a terapia ensina técnicas para tal situação. “São técnicas para relaxar e corrigir os pensamentos catastróficos”, disse. Nesse caso, são sessões de terapias curtas.

Há casos em que as sessões  são extensas — ocorre quando a terapia aponta o medo patológico, nesse caso, a fobia. “O indivíduo com fobia tem pensamentos distorcidos relacionados com o objeto temido. Se tem uma fobia social, ele deixa de ir para uma festa porque acha que vai gaguejar e pensa que as pessoas vão achá-lo estranho, por exemplo”.

“Tem aquele que tem fobia de elevador, que acha que o elevador vai cair ou vai ficar parado e ficar sem ar”, explicou o psiquiatra, comparando as situações com quem tem medo patológico do trânsito.

Investimento total para primeira CNH é de quase R$ 2 mil
Quase R$ 2 mil. Este o valor que o candidato investe para ter a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). O primeiro passo é ir ao Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC), onde há um posto do Detran, e comprar o laudo, que custa R$ 143.

É necessário apresentar o CPF, RG e comprovante de residência, originais e cópias. O segundo passo é pagar R$ 253 para o exame médico e o psicoteste. No laudo, com validade de um ano, fornecido pelo SAC, constam os telefones das clínicas conveniadas.

Em seguida, é a hora de escolher a autoescola. Em média, o candidato terá que desembolsar entre R$ 1.350 e R$ 1.400, para as aulas teóricas e práticas. Primeiro, são 45 horas de aulas teóricas. Depois, o candidato faz a prova eletrônica na autoescola.

Para isso, paga mais R$ 80. São três tentativas. Em seguida, faz a prova de legislação, primeiros-socorros, mecânica e meio ambiente. Passando, retorna à autoescola e paga R$ 40 para fazer 25 aulas práticas. Só então o candidato faz a prova prática no centro de avaliação do Detran, na Ribeira.

Obrigatoriedade de simulador vai aumentar custo a partir de janeiro
A partir de janeiro de 2016, cinco aulas serão obrigatórias no simulador de direção, durante as aulas práticas, conforme exigência da resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).

“Ainda não há uma definição dos custos do simulador. Acho que teremos um reajuste de 15% a 30%”, declarou Antônio Oliveira, coordenador da Autoescola Veja. Se o reajuste for 30% de R$ 1.350 – mínimo cobrado pelas autoescolas –, o valor saltará para R$ 1.755.

As autoescolas irão locar o simulador — o custo estimado é de R$ 50 mil. “Além disso, teremos um custo com professores capacitados nas áreas de informática e de trânsito. Qualquer custo que venha, seremos obrigado a repassar, mesmo correndo o risco de perder clientes” disse Oliveira, para quem os simuladores não traduzem a realidade de situações vividas pelos motoristas.

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