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29 September 2024

Famosos fazem piadas racistas, são colocados contra a parede e pagam alto preço em suas vidas

O glamour de trabalhar na TV parece transportar os famosos para um mundo paralelo, onde tudo é permitido. No Brasil, acusações de racismo tiraram do ar nomes celebrados como o jornalista da Globo, William Waack. Recentemente, o promoter David Brazil foi acusado de racismo, e também a atriz e youtuber Kéfera e o ator Paulo Gustavo.

Em 8 de novembro, um vídeo controverso começou a circular nas redes sociais: gravado na data da vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas, mostrava o âncora do Jornal da Globo, William Waack, fazendo comentários considerados pelo público como de cunho racista a um motorista que buzinava nas ruas de Washington. “É coisa de preto”, criticava.

Waack não voltou mais à bancada do Jornal da Globo. A emissora decidiu afastar o jornalista por tempo indeterminado. Em texto lido pela substituta Renata Lo Prete no ar, deixou claro seu posicionamento. “A Globo é visceralmente contra o racismo em todas as suas formas e manifestações. Nenhuma circunstância pode servir de atenuante”, afirmou. O jornalista não se pronunciou publicamente sobre o tema. No mesmo texto lido por Renata, Waack afirmou apenas não se lembrar do ocorrido e pediu “sinceras desculpas àqueles que se sentiram ultrajados pela situação”.

Kéfera Buchmann lançou uma paródia em seu canal de vídeos. Desta vez, a youtuber interpretou a música “Work”, da Rihanna, e acabou sendo alvo de várias críticas dos internautas. Isso porque seu namorado, o youtuber Gustavo Stockler, usou blackface (técnica em que atores pintam o rosto para parecerem negros) para viver o rapper Drake na paródia.

Logo depois de publicado o vídeo, Kéfera postou uma imagem em que mostrava o antes e depois da maquiagem em Gustavo. “Mirou no drake e acertou no projota”, escreveu na legenda da imagem. Alguns  seguidores fizeram críticas nas redes sociais. “Racista e ainda alimenta rivalidade feminina. Como você consegue fazer sucesso? Pelo amor da Deusa”, “não é a primeira vez que a Kéfera trata ciúme doentio como uma coisa banal, faz blackface e trata mulher como inimiga..”, “‘Kéfera faz video com blackface’ taí duas coisas que já deviam ter parado há tempos”. Apesar das críticas, Kéfera recebeu o apoio de vários fãs que não viram nenhum problema em seu vídeo.

Kefera (Foto: Reprodução)
Kefera (Foto: Reprodução)

Preta Gil e David Brazil se envolveram em discussão nesta terça-feira (24) por causa de um post de Gominho. A discussão teve início depois que o apresentador postou uma foto ao lado de Rodrigo, Gabriela e Hana, ex-participantes do BBB19, com a legenda: “sabe aquele lance de vidas negras??? Então… elas importam, sim!!”.

Na publicação, David Brazil comentou: “Todas as vidas importam, meu bem! To-das! Independente de cor, raça ou religião”. Ao ver a resposta ao post, Preta Gil rebateu o viés racista do argumento de David Brazil.

“David, quando você pode ir na minha casa pra gente conversar e eu te dar uns livros para você ler? Se, por acaso, você tenha escrito de brincadeira, isso não tem a menor graça!! Já faz tempo que eu te falo para pensar ou se informar, conversar com seus amigos, comigo antes de escrever bobagens que ferem muitos dos seus! Tô aqui”.

Gominho tentou acalmar os ânimos, mas concordou com Preta Gil sobre o aspecto racista da declaração: “Meu amigo querido e seguidores, eu não vou discutir com vocês aqui o quanto meu povo sofreu e sofre até hoje de forma “despretensiosa” e cega!! Te amo e espero que um dia antes de você morrer, perceba as injustiças que meu povo negro vive diariamente de forma que ninguém no seu corre do dia a dia e egocentrismo perceba!!”.

Diante das críticas de seguidores e dos amigos, David Brazil tentou argumentar. “Não tive a intenção de ser escroto com ninguém, e racista nunca, jamais”, finalizou. A ex-vereadora Leo Kret disse não ter entendido o motivo da discussão: “Você falou algo de errado, irmã ? Você falou todas as vidas. Incluindo os negros, não entendi nada”, escreveu.

Alguns seguidores criticaram também a declaração de Preta Gil, dizendo que a cantora foi agressiva na resposta. Outros defenderam a publicação de Preta.

“David Brazil que todas as vidas importam isso é fato, mas só entende que é o negro que tá tomando 80 tiros nas costas, sendo marginalizado em tudo que é canto simplesmente por ser negro”, escreveu um seguidor.

O comediante Paulo Gustavo foi acusado de racismo nas redes sociais por aparecer caracterizado como uma personagem negra, Ivonete, com peruca de cabelo crespo e com o rosto, as mãos e o pescoço pintados à maneira do “blackface”.

“E aí, Paulo Gustavo, como se sente perpetuando o racismo? Imagino que bem, né? Ganhando essa grana suja… Usando a cultura negra para fazer comédia”, atacou um usuário do Facebook. “Lamento, Paulo Gustavo, mas blackface é blackface, com ou sem explicações! É de mau gosto, como brincar com o holocausto”, escreveu outra pessoa, no Twitter.

Com a repercussão do caso, o comediante voltou às redes sociais para se defender. “No dia de hoje soubemos que 50 pessoas foram covardemente assassinadas em Orlando somente por suas condições sexuais. Nesse mesmo dia em que deveríamos estar todos de luto repensando nosso ódio, nossos preconceitos e nossos limites de compreensão, tem gente que veio me atacar por representar uma mulher negra”, escreveu.

“Eu nunca fui atacado por representar um playboy machista mesmo sendo gay. Também não se incomodaram por eu fazer um nerd, uma mulher feia, uma vagaba, uma mãe de família ou um anjo… Nunca me atacaram por representar a Senhora dos Absurdos – uma mulher que se orgulha ridiculamente de ser branca, rica e hétero”, continuou. “Mas a Ivonete – que se orgulha de ser brasileira mesmo sendo crítica ao Brasil, que é pobre, mas não se sente moralmente inferior a ninguém, que gosta de ser mulher e, sobretudo, tem autoestima, amor próprio e orgulho de ser como é – me rendeu injustas críticas.”

Paulo Gustavo caracterizado como a personagem Ivonete para a série '220 Volts' (Reprodução/)
Paulo Gustavo caracterizado como a personagem Ivonete para a série ‘220 Volts’ (Reprodução/)

“Eu conheci muitas Ivonetes na minha vida e tenho orgulho dessas mulheres. Ao contrário de outras personagens que eu uso para ridicularizar o tipo que elas representam, a Ivonete existe pra ridicularizar quem a ridiculariza, porque eu quero rir de gente que não gosta das Ivonetes. Porque eu amo a Ivonete. Ela é negra, nasceu negra e eu tenho o mesmo respeito por ela que eu tenho por todas as pessoas”, terminou.

Paulo Gustavo também publicou uma imagem que mostra um comentário do diretor Pedro Antonio Paes, da série do Multishow 220 Volts, para a qual o ator estava caracterizado como Ivonete. No texto, Paes defende o ator e afirma que a prática do blackface, racista em seus primórdios, agora pode ser usada como forma de combater o preconceito.