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25 November 2024

IBGE diz que em dez anos, brasileiro reduziu consumo de arroz e feijão e aumenta o de adoçante e açaí; veja

A alimentação do brasileiro perdeu qualidade nutricional – embora mantenha o básico arroz, feijão e carne – uma vez que houve alta no consumo de produtos industrializados. É o que sugerem os dados divulgados nesta sexta-feira (21), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o consumo alimentar no Brasil.

Em uma década, caiu o consumo de produtos in natura ou minimamente processados, como frutas e vegetaisenquanto aumentou a frequência de ingestão de alimentos processados e ultra processados, como pizzas, salgadinhos e adoçante. O levantamento foi realizado entre 2017 e 2018 por meio da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).

Foram realizadas entrevistas em 57,9 mil domicílios, sendo que 20,1 mil pessoas foram selecionadas para responder ao bloco de consumo alimentar em duas entrevistas. De acordo com o IBGE, quem respondeu a essa parte do questionário precisou registrar todos os alimentos consumidos, com suas respectivas quantidades, durante 24 horas.

No geral, além de identificar a queda no consumo de alimentos in natura ou minimamente processados, o IBGE apontou o brasileiro manteve o hábito de adicionar açúcar em bebidas e alimentos e colocar sal em preparações prontas.

“Nossa alimentação ainda é baseada no feijão, arroz e carne, e isso é positivo, mas temos que melhorar o consumo de frutas e legumes e diminuir o açúcar e o sódio em excesso”, apontou o gerente da pesquisa, André Martins.

Considerando a ingestão calórica diária, variou pouco a quantidade de calorias ingeridas pelos brasileiros quando comparado com a pesquisa anterior, realizada dez anos antes, entre 2008 e 2009 – em torno de 1,9 mil kcal por dia. Entre os grupos etários, no entanto, aumentou a quantidade de calorias ingeridas pelas pessoas com idade entre 19 e 59 anos – passou de 1969 kcal em 2009 para 2022 em 2018.

Do total de calorias consumidas por dia, entre 2017 e 2018, 53,4% eram provenientes de alimentos in natura ou minimamente processados, 15,6% de ingredientes culinários processados, 11,3% de alimentos processados e 19,7% de alimentos ultraprocessados. Na pesquisa anterior, entre 2008 e 2009, o IBGE não levantou estes dados, o que não permite comparar se houve mudança na origem calórica dos alimentos consumidos.

O IBGE destacou, porém, que “os indivíduos que relataram o consumo de sucos, pizza e sanduíches, doces, biscoito doce, frios e embutidos e bebidas com adição de açúcar [processados e ultraprocessados] apresentaram médias de ingestão de energia de 10% ou mais acima da média populacional. Por outro lado, a ingestão média de energia dos indivíduos que consumiram arroz integral e biscoito salgado foi menor que a média populacional”.

Todavia, ao se observar a frequência de consumo diário dos alimentos, o IBGE identificou que, no geral, o brasileiro reduziu o consumo de item básicos da culinária do país, como o arroz e feijão, assim como o de frutas e demais vegetais, enquanto aumentou a frequência de ingestão de alimentos processados e ultraprocessados, como sanduíches, salgadinhos e pizzas.

Mudanças à mesa

De acordo com a pesquisa, entre 2017 e 2018, em 75,3% dos domicílios houve consumo diário de arroz, enquanto o feijão esteve presente na mesa de 59,9% dos lares. Dez anos antes, estes percentuais eram de, respectivamente, 84,1% e 73% – uma queda de 10 pontos percentuais (p.p.) do consumo diário de arroz e de 18 p.p. de feijão.

No mesmo período, caiu em 12 p.p. o consumo diário de ovos, em 21 p.p. de pão de sal (pão francês), em 22 p.p. de carne bovina, em 38 p.p. de tomate (comum ‘vilão da inflação’ do país) e em 50 p.p. de leite integral. Dentre as frutas, caiu em 24 p.p. a ingestão de melancia, 30 p.p. de abacaxi e 40 p.p. de laranja.

Em contrapartida, nestes dez anos aumentou em 11 p.p. o consumo diário de aves, 21 p.p. de pizzas, 33 p.p. de outras carnes, 35 p.p. de salada crua, 38 p.p. de salgadinhos tipo chips, 58 p.p. de sanduíches, 52 p.p. de feijão de corda ou verde, 68 p.p. de carne suína e 86 p.p. de açaí.

O item que teve o maior aumento na frequência diária de consumo foi o adoçante, cuja presença na mesa brasileira teve alta de 9,1 mil p.p. em dez anos – passou de 0,1% dos domicílios para 9,2% entre 2009 e 2018.

Batata por batata

Ainda observando a frequência diária de consumo, foi possível notar que o brasileiro parece ter substituído a batata-inglesa pela batata-doce. A primeira teve queda de 31 p.p. entre os domicílios do país, enquanto a segunda teve alta de 109 p.p..

Outro tubérculo também considerado, ao contrário da batata-inglesa, de baixo índice glicêmico, que teve alta no consumo foi a mandioca, que passou de 2,8% dos domicílios para 3,6% – uma alta de 29 p.p.. Também aumentou em 20 p.p. o consumo de oleaginosas, como as castanhas, e de 21 p.p. de óleos e gorduras diversas.

Menos gordura e menos fibra

A pesquisa mostrou, também, que houve queda no consumo diário de gorduras saturadas, que passou da média de 20,7 gramas por dia em 2009 para 19,7g em 2018 – queda de 1g no período.

De acordo com a médica e consultora da pesquisa, Rosely Sichieri, essa redução é positiva e pode ser atribuída à redução no consumo de carne bovina apresentada no Brasil entre 2008 e 2018.

O conteúdo em fibra na dieta também caiu na década, passando de 27,9 g por dia para 24,2 g, o que representa uma redução de 3,7 g. Para a consultora, essa queda indica deterioração da qualidade da alimentação e corresponde à queda no consumo de feijão.

“O feijão um dos alimentos da dieta brasileira que proporciona grande parte das fibras alimentares”, explicou a médica Rosely Sichieri. O consumo de proteínas também teve relativa queda, passando de 87,9 g para 86,4 g por dia – uma redução de 1,5 g. Já o consumo de carboidratos se manteve estável em, aproximadamente, 254 g por dia.

Adição de açúcar e sal

O IBGE enfatizou que se manteve entre os brasileiros “a alta frequência de consumo de açúcar e sal”. Para adoçar bebidas e comidas, 85,4% da população afirmou colocar açúcar, abaixo do registrado dez anos antes, quando esse percentual chegou a 90,8%.

No mesmo período, porém, aumentou de 1,6% para 6,1% o percentual da população que afirma não adicionar nem açúcar nem adoçante nos alimentos.

Já o sal era adicionado em comidas prontas por 13,5% da população e, com isso, o sódio foi ingerido acima do limite por 53,5% dos brasileiros, índice mais elevado em homens adultos (74,2%) e menor em mulheres idosas (25,8%).

“A pesquisa mostra que o brasileiro continua com níveis de consumo de sódio acima do limite tolerável, levando em considerações as recomendações médicas. É um ponto que temos que prestar atenção”, apontou o gerente da pesquisa, André Martins.

 G1