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28 November 2024
Foto: Fábio Motta

‘Japonês da federal’, Newton Ishii ganha até boneco de Olinda

‘Japonês da federal’, Delcídio do Amaral e Eduardo Cunha viram máscaras e temas de marchinhas. Newton Ishii ganha até boneco de Olinda

Nenhuma fase da operação Lava Jato foi deflagrada até agora em 2016. E ainda que isso não aconteça até o carnaval, haverá muitos políticos tomando susto pelas ruas do país durante a festa. Um dos grandes personagens da folia deste ano promete ser o agente da Polícia Federal Newton Ishii, figura quase onipresente nas fotos de empreiteiros e políticos sendo levados para a carceragem da PF, em Curitiba. Após se tornar uma celebridade nas redes sociais e nos protestos anti-Dilma, o ‘japonês da federal’, como ficou conhecido, virou máscara, marchinha de carnaval e até boneco de Olinda.

Para incrementar o cordão da Lava Jato, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também ganharam máscaras e canções em suas homenagens. Já figurinha carimbada dos carnavais, a presidente Dilma Rousseff também deve ser lembrada em músicas baseadas no seu vocabulário próprio – o dilmês – e nas pedaladas fiscais. Nas passarelas, a escola carioca São Clemente, cujo samba enredo é Mais de mil palhaços no salão, vai promover um panelaço no final do desfile na Sapucaí.

Mas é mesmo o “japonês da federal” a grande aposta da fábrica Condal, de São Gonçalo (PF), fundada em 1958, para alavancar as vendas em fevereiro: a desaceleração da economia fez cair o movimento recente. Segundo a dona da empresa, Olga Valles, em três dias de lançamento do protótipo, o agente da PF já teve mais de 400 peças encomendadas em pelo menos oito cidades – São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Manaus, Recife, Olinda e Belém. É o dobro dos pedidos feitos pela máscara de Cunha e do Delcídio (cerca de 200 cada), e quatro vezes mais do que as de Dilma e Lula (cerca de 100 cada).

Olga, que trabalha no ramo há mais de 30 anos, explica que os brasileiros preferem fantasiar-se como figuras queridas. “É um fenômeno estranho. No Brasil, quando cai a popularidade, cai a venda de máscaras. Quando eram queridos, Lula e Dilma vendiam à beça. Agora, está fraco”, disse Olga. Ela diz que, dentre os personagens públicos, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa foi o campeão de vendas na época do mensalão. “O Tiririca também sempre vendeu bem”, completa. A empresa também produz máscaras para uma distribuidora na Espanha – naturalizada brasileira, Olga veio de Barcelona. “Diferente daqui eles compram máscaras para crítica”.

A ideia de confeccionar máscaras de figuras políticas veio de seu marido, o artista plástico Armando Valles, morto há oito anos. “Começamos a fazer depois da ditadura militar. E continuei porque era uma coisa que ele amava fazer”. Os primeiros políticos a ganharem uma máscara foram o ex-ministro e deputado Ulysses Guimarães e o ex-presidente Tancredo Neves. Hoje, a companhia tem no portfólio o rosto de aproximadamente 70 políticos.

Como o “japonês da Federal” não é um político e tem direito de imagem, Olga faz questão de dizer que a máscara é de um “japonês genérico”, apenas muito parecido com o Ishii. Para produzir o protótipo, ela usou como base uma máscara que fez de um samurai no ano passado. Na hora de imprimir o material feito de garrafa pet, ela se deparou com um problema. “Nunca tinha feito máscara com óculos escuro. Aí acabei fazendo duas versões, a com óculos e a sem óculos. Qualquer coisa é só comprar um Ray-Ban meio quadradinho que fica parecido”, brinca.

A Embaixada Pernambuco Bonecos Gigantes de Olinda concluiu a confecção do boneco do policial mais célebre da PF nesta sexta-feira. Ele vai acompanhar o do juiz Sergio Moro, que conduz a Lava Jato na primeira instância, produzido em julho do ano passado. Não é de hoje que a Lava Jato faz sucesso no carnaval. Em 2015, pipocaram máscaras da ex-presidente da Petrobras Graça Foster e do ex-diretor da estatal e delator Nestor Cerveró.

O “japonês da federal” se tornou uma celebridade absoluta da Lava Jato com a marchinha composta pelo advogado Thiago Vasconcellos de Souza, de 36 anos, em parceria com os colegas identificados como “Dani Batistonne”, “Jabolinha” e “Tigrão”. Ao site de VEJA, ele contou que teve a ideia da música após ver uma postagem sobre Ishii no Facebook. “Ai meu Deus/ me dei mal/ bateu à minha porta/ o japonês da federal!”, diz o refrão da música, que foi inscrita no concurso de marchinhas da Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, e rapidamente viralizou na internet.

Ao se dar conta do sucesso da música, Souza não perdeu tempo e compôs (até agora) pelo menos mais 13 marchinhas – todas com temas políticos, que vão desde a célebre carta do vice-presidente Michel Temer às pedaladas fiscais da presidente Dilma. (Confira abaixo a letra de duas marchinhas que ele fez e ainda não foram lançadas no You Tube). Outra canção inscrita no Concurso de Marchinhas da Fundição Progresso, no Rio, é o frevo “Continha na Suíça”,publicado no You Tube nesta semana e relacionado às suspeitas de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, mantinha contas secretas no país europeu.

“O Carnaval se afastou demais das questões políticas. A marchinha é uma forma muito interessante de divulgar a política. Debochar às vezes dói mais do que ser agressivo. Faço a música para não morrer depois do noticiário”, diz Souza.

Saudação à Mandioca (de Thiago Souza)

“Hoje e sempre te saúdo

Oh, Mandioca querida!!!

Prometo te adorar…

Por toda minha vida!!”

Tubérculo de nome aclamado

Que brota dessa terra, Mãe gentil

És tu, oh Mandioca soberana

O orgulho do meu Brasil

Teu poder tem o poder de saciar

A volúpia de quem te deseja

Ostentosa, ocupe teu lugar

Em cada um

Onde quer que ele seja

Ela Petralha e eu Coxinha (de Thiago Souza)

“Estava errado

Devia ter ficado na minha

Nunca iria dar certo

Ela Petralha e eu Coxinha”

Me lembro da 1a vez no metrô

Sujei todo meu mocassim

Só pra caminhar com ela na Paulista

Mamãe achava aquilo o fim

Seu pai, também, não aceitou

O amor que nasceu no carnaval

Morto de forma cruel

No período eleitoral

“Estava errado

Devia ter ficado na minha

Nunca iria dar certo

Ela Petralha e eu Coxinha”

Agora, afogo no champanhe

A saudade que tenho dela

Lembrando de sua boquinha

Com gostinho de mortadela

Por Eduardo Gonçalves e Nicole Fusco/Veja