Juros de empréstimo caem mais que a metade nas operações com garantia de bens; entenda
O penhor foi a solução para a comerciante Soraya Batista. Ela já chegou a complementar até 30% da renda mensal com estratégia.
O crédito necessário para resolver uma dívida em tempos de crise pode estar guardado no guarda-roupa, dentro da caixa de joias, ou no carro estacionado na garagem e até no próprio imóvel.
A procura por empréstimos com a garantia de bens tem crescido nos bancos e o principal atrativo para as operações é que os juros chegam a cair a menos que a metade dos cobrados em operações tradicionais.
No Banco do Brasil (BB), as operações cresceram 53% em 2015 na comparação com o ano passado em todo o país. Agora no primeiro bimestre de 2016 foram contratadas mais de 1,9 mil operações – crescimento de 27% – se comparado ao mesmo período 2015. Na Bahia, o banco já registrou 106 operações com veículos como garantia este ano.
Na Caixa Econômica, que tem exclusividade na oferta de penhor, há 40 mil contratos ativos em todo estado. Em janeiro deste ano, foram emprestados R$ 32,9 milhões, 4,5% a mais do que no mesmo período do ano passado.
Com taxas de juros atrativas, que variam entre 1,39% até 2,29% ao mês, a depender do banco e da linha de crédito (veja no infográfico abaixo), o percentual chega a ser menor que a metade dos juros cobrados por outras linhas de crédito mais contratadas, como o Crédito Direto ao Consumidor (CDC), por exemplo, quando as taxas ficam entre 4,73% e 6,08% nos mesmos bancos.
Segundo o gerente regional de Pessoa Física da Caixa Econômica, Vivaldo Neto, quanto menor o risco, menores as taxas. “Todo crédito que é concedido passa por uma análise de riscos. Com a crise e o aumento da inadimplência, o crédito ficou mais restritivo e quando se tem um bem para disponibilizar isso facilita a liberação do dinheiro”, diz.
De acordo com ele, a taxa de inadimplência nas operações costuma ser baixa. No penhor da Caixa, cerca de 1% das joias vão a leilão. “As pessoas se preocupam em resgatar seus bens que ficaram penhorados”, completa.
Bens em dinheiro
O penhor foi a solução para a comerciante Soraya Batista. Ela já chegou a complementar até 30% da renda mensal com operações do tipo. A comerciante costuma utilizar o dinheiro para comprar outras joias e revendê-las, como também na cobertura de alguma conta do mês.
A comerciante conta que pagou escola do filho com a penhora de um anel que ganhou de presente do pai e também usou por várias vezes o dinheiro do empréstimo para cobrir o limite da conta bancária e zerar a fatura do cartão de crédito.
“É melhor penhorar do que deixar as joias em casa enfeitando o guarda-roupa. Os juros são bem menores do que se eu fosse tentar outra linha de crédito. Você termina complementando o orçamento do mês com esta modalidade de empréstimo”, afirma.
Para ela, a vantagem maior da penhora é a disponibilidade imediata do dinheiro. “Outro tipo de empréstimo requer tempo, aprovação e renda. No penhor não, a própria joia dá garantia para que a gente possa receber o dinheiro. Se, por um acaso, eu não conseguir pagar, não fico com uma dívida depois, porque o bem que deixei lá cobre isso”, explica.
Pelo menos, duas vezes ao mês Soraya penhora alguma joia. “Eu devo ter hoje uns 80 contratos. Está todo mundo procurando uma opção. Mesmo que seja uma joia de família não tem jeito, na hora da precisão você vai lá penhora, resolve o problema e pega ela de volta antes que seja leiloada”, ressalta. Ela enche a geladeira e a agenda do celular com lembretes para não perder a data de vencimento. Desde que passou a penhorar, ela diz que só perdeu o prazo uma vez.
A necessidade de ajustar as contas é um dos principais motivos que justificam a procura maior das operações com garantia, como assegura o gerente regional de Pessoa Física da Caixa, Vivaldo Neto. “Com a taxa de juros operando em alta, a modalidade se torna uma maneira de reequilibrar o orçamento e reestruturar aquilo que ela está devendo com taxas que suavizam aquela dívida”, explica.
A demanda só não é maior porque muitos clientes desconhecem a existência destas opções de empréstimo, acredita. “Isso tende a crescer mais, porque muitas vezes o cliente ele não sabe que estas linhas de crédito existem e que podem ser a solução que ele estava precisando para poder respirar aliviado e equilibrar suas contas”, acrescenta.
Para o gerente de Mercado e Pessoa Física do Banco do Brasil, Júlio César Ramalho, a tendência é que o cenário econômico favoreça ainda a oferta desta modalidade de empréstimo. “O mercado está em expansão e a concorrência entre as instituições financeiras é muito grande, o que reflete o momento da economia”, diz.
Linhas de crédito
O Correio pediu aos bancos informações sobre as linhas de crédito disponíveis e as condições de contratação. A Caixa Econômica, Banco do Brasil, Santander e Itaú afirmaram que oferecem crédito com garantia. O único banco que possui as três opções – penhor, imóvel e carro – é a Caixa.
No penhor, as parcelas mínimas são de R$ 50 e não exige vínculo com o banco. A única condição é ter um CPF válido. Inclusive, a operação pode ser feita por pessoas que estão com o nome negativado na praça. Normalmente é pago até 85% do valor da peça.
No aporte Auto Caixa, o pagamento pode ser feito em até 48 parcelas. O valor do crédito pode chegar até 70% do valor do carro quitado, dado em garantia. No caso do crédito com imóvel próprio são até 240 meses para pagar, com oferta de até 60% do valor.
O Banco do Brasil possui linhas de crédito para carro e imóvel. É possível obter crédito de até 60% do valor do imóvel com valor máximo de R$ 10 milhões. Para veículo próprio, a operação contempla até 60% do valor do veículo e pode ser parcelada em 60 meses, incluindo carência de até 59 dias para o pagamento da primeira parcela.
Santander e Itaú oferecem o crédito com garantia de Imóvel. No Santander, o crédito vai de R$ 30 mil até R$ 2 milhões, conforme o valor do imóvel residencial ou comercial dado como garantia. O cliente pode financiar o empréstimo em até 15 anos.
O Banco Itaú também disponibiliza crédito para aqueles que deixam a casa como garantia. No entanto, o banco não precisou as taxas de juros praticadas. As condições valem apenas para os clientes Personnalité. O valor mínimo de contratação é de R$ 80 mil, e o máximo é de R$ 3 milhões.