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1 October 2024
Foto: Divulgação/agência Petrobras

Lava-Jato vai pedir a anulação da compra de Pasadena

PF deflagra 20ª etapa da operação com 18 mandados no Rio e Salvador

SÃO PAULO — Os investigadores da força-tarefa da Operação Lava-Jato vão pedir a anulação da compra da refinaria de Pasadena, no Texas. A Polícia Federal deflagrou na manhã desta segunda-feira a 20ª fase chamada de “Corrosão”. Dois envolvidos no esquema tiveram a prisão temporária decretada e cinco foram conduzidos pelos policiais para prestar depoimento. Eles são suspeitos de receber cerca de US$ 5 milhões para facilitar a compra da refinaria em 2006. Pasadena era chamada de “ruivinha” entre os funcionários da Petrobras por estar muito enferrujada quando foi comprada.

— Vamos tentar anular a compra ou ressarcir o patrimônio brasileiro — afirmou o procurador da República Carlos Lima em coletiva realizada na sede da Polícia Federal de Curitiba.

Tiveram a prisão temporária decretada Roberto Gonçalves, que foi gerente executivo da Área Internacional da petrolífera e da de Serviços, e Nelson Martins Ribeiro, apontado como o novo operador, responsável por articular a propina de Pasadena. Além de cinco mandados de condução coercitiva nas cidades do Rio de Janeiro, Rio Bonito (RJ), Petrópolis (RJ), Niterói (RJ) e Salvador, na Bahia. Entre os nomes estão: Cesar de Souza Tavares, Rafael Comino e Luis Carlos Moreira da Silva. Também serão cumpridos 11 mandados de busca e apreensão. Duas obras de artes foram apreendidas na casa de um dos suspeitos de participar do esquema de corrupção.

— Houve pagamento de propina por parte da empresa que vendeu seja no nosso país, seja nos Estados Unidos. Isto é um vício. Creio eu que nós podemos buscar reparação. Esse foi um mau negócio — disse o procurador parafraseando a ex-presidente da Petrobras Graça Foster que, ao admitir erros na aquisição da refinaria, também disse que a compra foi um mau negócio.

O GLOBO revelou na edição de hoje que investigações apontavam para um novo operador da Lava-Jato: Diego Candolo, apontado como responsável pelo pagamento de propina no exterior pela compra de Pasadena. Ele está colaborando com as investigações e disse ter distribuído suborno de cerca de US$ 6 milhões à diretores da área internacional da Petrobras, comandada por indicados do PMDB.

PROPINA DE PASADENA E SONDAS

De acordo com as investigações, Luis Carlos Moreira (ex-gerente executivo de Desenvolvimento de Negócios da Internacional), Rafael Comino (ex-gerente de Inteligência de Mercado da área Internacional), Cezar Tavares, Aurélio Telles (ex-empregado da Petrobras), Agosthilde Monaco e Carlos Roberto Barbosa são acusados de terem recebido propina na compra de Pasadena. De acordo com depoimentos de colaboradores, a aquisição dos primeiros 50% da Refinaria de Pasadena também renderam propinas aos ex-diretores Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Nestor Cerveró, que comandava a área Internacional na época da compra.

Há também evidências que indicam que Luis Carlos, Rafael Comino e Cezar Tavares também receberam vantagens indevidas na contratação dos navios-sonda Vitória 10.000 e Petrobras 10.000 fosse concretizada.

Em depoimento, Fernando Baiano revelou como funcionou o pagamento da vantagem indevida em Pasadena. As propinas foram pagas pela empresa Astra Oil — sediada na Califórnia, mas com origem belga — que repassou a quantia de US$ 15 milhões ao operador. Baiano e Nelson Martins Ribeiro articularam os pagamentos aos funcionários da Petrobras.

NOVOS INDÍCIOS EM ABREU E LIMA

Além da Pasadena, esta nova fase também teve como alvo ex-funcionários da Petrobras ligados ao pagamento de propina em contratos relacionados com a Refinaria Abreu e Lima. As investigações chegaram a Glauco Colepicolo Legatti, ex-gerente geral de empreendimentos da RNEST. Há indicativos de que recebeu, das mãos do criminoso colaborador Shinko Nakandakari, propinas no valor de R$ 400 mil nos anos de 2013 e 2014 para que facilitasse a aprovação de aditivos contratuais que favorecessem a empreiteira Galvão Engenharia.

Os investigados responderão pela prática dos crimes de corrupção, fraude em licitações, evasão de divisas e lavagem de dinheiro, dentre outros crimes em apuração.

Por Stella Borges/Renato Onofre/Cleide Carvalho/ O Globo