Lula desautoriza presidente da CUT: ‘Plano Nacional de Educação é a grande arma’ da central
Vagner Freitas ameaçou pegar em armas para defender mandato de Dilma
BRASÍLIA – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desautorizou, na noite desta sexta-feira, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, que ameaçou ir para as ruas “com armas nas mãos” defender o mandato da presidente Dilma Rousseff. Em ato do PT sobre educação, Lula disse que essa é a melhor forma de fazer uma revolução no país.
– Quero dedicar esse meu discurso ao companheiro Vagner da CUT, que ontem cometeu uma frase que não queria cometer. Queria dizer para o Vagner que o Plano Nacional de Educação é a grande arma que a CUT tem que usar. Não existe nada mais importante do que a educação para fazer a revolução nesse país – afirmou o ex-presidente em discurso.
Em meio a mais um escândalo de corrupção, Lula, que trajava uma blusa do partido, disse não ter vergonha de ser do PT:
– Eu queria dizer para vocês que eu vim de São Paulo pra cá com uma camisa preta. E que eu resolvi nesse ato fazer homenagem ao PT para as pessoas perceberem que nós nunca vamos ter vergonha de sermos do Partido dos Trabalhadores.
O ex-presidente pretende percorrer o país em atos como o desta sexta-feira, que teve o objetivo de levantar a bandeira da educação, promovendo o plano de metas para o setor. É uma tentativa de divulgar uma agenda positiva, tentar virar a página do ajuste fiscal e recuperar a popularidade do governo.
Lula tentou minimizar os cortes no orçamento do Ministério da Educação, resultantes do ajuste fiscal:
– Triplicamos o orçamento do MEC. Está certo que agora na crise deve ter diminuído um pouquinho. Isso é que nem ovo de galinha, que vai cacarejar, mas vai sair.
O ato foi permeado pela defesa do mandato da presidente Dilma. A militância gritava: “Não vai ter golpe”. O tema também esteve presente nos discursos.
– O presidente Lula nos chama aqui para falar de educação. Outros chamam para planejar golpe. Essa é a diferença – afirmou o governador do Acre, Tião Viana, concluindo o seu discurso: – Graças a Deus, o povo brasileiro é mais forte que os golpistas.
O ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, lembrou que o Brasil vive o mais longo período de democracia e pregou respeito ao voto. O ministro falou do trabalho para controlar a inflação, mas disse que, de todas as lutas, a mais difícil foi para combater a exclusão social.
– Há pessoas que são pessimistas com os caminhos do Brasil. Queria lembrar que temos trinta anos de democracia, período mais longo de democracia que tivemos. E tivemos êxito, tivemos lutas que começaram sendo de alguns e viraram de todos. Quando brasileiros se insurgiram contra a ditadura no Brasil, alguns sendo presos, torturados, como a nossa presidente e muitos aqui presentes, essa luta parecia ser de uma minoria. Hoje são poucos os que se atrevem a defender o fim da democracia explicitamente e serão muito poucos, porque o democracia vai se impor e o respeito ao voto majoritário tem de ser claro – afirmou.
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LULA SOBRE PROTESTOS: ‘DEMOCRACIA NÃO É PACTO DE SILÊNCIO’
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, que foi ministro da Educação de 2005 a 2011, fez um balanço dos avanços da educação nos governo do PT, disse que a situação está melhorando tanto em acesso quanto em qualidade, mas o país ainda está na “lanterninha” do mundo. Para ele, não houve na história do país um partido que tenha governado com mais foco na educação que o PT. O prefeito afirmou ainda que a educação tem de ir além do ensino formal, mas formar cidadãos.
– Esse é um cidadão que domina mais do que as quatro operações, é um cidadão que lê mais do que um texto simples, é um cidadão que goza dos plenos direitos e vai às ruas para manter a chama da transformação. É um cidadão que vai colher o melhor do nosso partido. Um partido que nunca baixou a cabeça e que nunca abriu mão da luta pela transformação do país – afirmou.
Depois do encontro, Lula minimizou os protestos marcados para este domingo. Ele disse que manifestações fazem parte do “jogo político”, mas condenou a intolerância.
— Eu sou o único cara do mundo que não pode falar de protesto, porque eu fiz protesto a vida inteira. Eu acho que protestar democraticamente, se manifestar, fazer oposição, tudo isso faz parte do jogo político, e eu cansei de fazer. O que não dá é você ser intolerante a ponto de não saber conviver com os contrários. A gente dizia na campanha: democracia não é um pacto de silêncio. Democracia é uma sociedade em movimento em busca de novas conquistas, e o povo brasileiro quer novas conquistas — afirmou.
O início do ato nacional de educação promovido pelo PT acabou virando palco de um protesto de professores e servidores de universidades federais, que estão em greve há 70 dias. Cerca de cem manifestantes protestaram na porta do centro de convenções, com faixas, cartazes e tambores. Eles reivindicavam 27% de aumento salarial, além da reversão nos cortes do orçamento do Ministério da Educação (MEC).
— Estamos em greve há 70 dias e o MEC não negocia. O ministro não nos recebeu nenhum dia. Não estamos reivindicando somente aumento salarial, mas também verbas para manutenção das universidades. Foram cortados R$ 10 bilhões do orçamento do MEC — disse Roberto Rondon, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).