Ministro da Saúde diz que culpa da obesidade infantil é das mães que trabalham fora
Uma semana depois de o presidente Michel Temer ser duramente criticado por seu discurso no Dia Internacional das Mulheres, em que disse ter “convicção do que a mulher faz pela casa”, foi a vez de seu ministro da Saúde, Ricardo Barros, provocar polêmica sobre o mesmo tema. Ao fazer o anúncio sobre um plano de metas para reduzir a obesidade no país, Barros associou o problema ao fato de crianças “não terem a oportunidade de aprender a descascar alimentos” com suas mães.
É preciso qualificar essas crianças para manipular os alimentos. Muitas delas não ficam em casa com as mães e não têm oportunidade de aprender a descascar os alimentos.”
Ricardo Barros, ministro da Saúde
Em nenhum momento ele faz referência à figura paterna. “É preciso descascar mais e desembalar menos.”
Em sua fala, o ministro afirmou ainda que, como as mães não ficam em casa, crianças não têm oportunidade de acompanhá-las nas tarefas diárias, como ocorria no passado.
Hoje as mães não ficam em casa, e as crianças não têm oportunidade, como tinham antigamente, de acompanhar a mãe nas tarefas diárias de preparação dos alimentos. E vai ficando cada vez mais distante a capacidade de pegar um alimento natural e saber consumi-lo.”
As declarações foram dadas no momento em que o ministro justificava uma parceria com o Ministério da Educação para ensinar hábitos saudáveis para crianças e incentivar o consumo de alimentos in natura em substituição aos processados.
Não é a primeira vez que Barros comete esse tipo de gafe. Em agosto, o ministro afirmou que homens vão menos ao médico porque trabalham mais. Na época, as declarações arrancaram críticas até de sua filha, Maria Victoria Barros. “Trabalhamos 5 horas a mais na semana que os homens”, reagiu a filha.
Plano contra obesidade
O plano do Ministério da Saúde apresentado tem três metas, a serem alcançadas até 2019: deter o crescimento da obesidade até 2019, reduzir o consumo regular de refrigerantes e de suco artificial em pelo menos 30% e ampliar para no mínimo em 17% o porcentual de adultos que consomem frutas e hortaliças regularmente.
O programa é uma forma de apoio do ministério à agenda de nutrição adotada pela Organização das Nações Unidas, para assegurar o acesso universal a dietas mais saudáveis e sustentáveis até 2025.
Ao anunciar as medidas, no entanto, o ministro não disse como elas serão alcançadas. Citou parceria já existente com o Ministério da Educação para o programa de Saúde na Escola e o projeto de que, nessas atividades, sejam incluídas noções sobre como preparar alimentos.
Afirmou ainda que aplicativos serão lançados para auxiliar a população a controlar o consumo de alimentos e incentivar a prática de exercícios.