Ministro ordena uso da força contra caminhoneiros se necessário
No 2º dia de greve, há bloqueios em nove estados; 18 são indiciados em Barra Mansa
BRASÍLIA, BARRA MANSA e RIO – O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) aplique multas e, se necessário, use a força para desobstruir rodovias bloqueadas por caminhoneiros do Comando Nacional do Transporte, entidade criada no ano passado à revelia dos tradicionais sindicatos da categoria. Relatório divulgado pela PRF às 14h desta terça-feira aponta bloqueios parciais em 36 trechos de 20 rodovias federais em nove estados — Bahia, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins.
Na madrugada desta terça-feira, 18 caminhoneiros foram indiciados por expor ao perigo outro meio de transporte público, impedir ou dificultar o funcionamento. Segundo o titular da 90ª DP, Ronaldo Aparecido de Brito, eles pretendiam interditar o Km 276 da Via Dutra, próximo ao bairro Vila Ursulinho, em Barra Mansa, no Sul Fluminense. A pena por esse tipo de crime é de detenção de um a dois anos, mas geralmente é convertida em prestação de serviços sociais ou pagamento com cestas básicas.
O ministério considera baixa a adesão às manifestações, mas entende que não pode tolerar bloqueios e arruaças. Os protestos teriam como objetivo provocar desabastecimento de alguns produtos em determinadas regiões e, com isso, desestabilizar o governo. O item número um da pauta dos manifestantes é a deposição da presidente Dilma Rousseff.
A Advocacia-Geral da União (AGU) estuda a possibilidade de ajuizar ação, ainda nesta terça-feira, contra caminhoneiros que estão participando do bloqueio de estradas federais em pelo menos sete estados. Advogados da AGU já estão em contato com representantes do Ministério da Justiça e da PRF para definir uma linha de atuação no caso. A ideia é repetir a estratégia do ano passado quando, a pedido da AGU, a Justiça Federal determinou o desbloqueio das rodovias e estabeleceu pesadas multas em caso de desobediência à ordem.
BLOQUEIOS NO PAÍS
No segundo dia de greve, o Rio Grande do Sul era o estado com mais manifestações às 14h: onze. Todas elas, no entanto, eram parciais e não impediam a passagem de veículos. O Paraná apresentava sete pontos com interdições e liberação seletiva do tráfego, enquanto Santa Catarina tinha dois também com impedimento à passagem de veículos e um sem bloqueio. Em Minas Gerais foram contabilizados cinco trechos em que a passagem era seletiva. Tocantins também tinha dois pontos em que o trânsito não era totalmente livre, enquanto Mato Grosso e Goiás tinham um. Os grevistas estavam em dois trechos no Mato Grosso do Sul, um sem impedir o trânsito e outro com liberação apenas para alguns. Na Bahia havia protesto em dois locais mas sem afetar o tráfego.
De acordo com a Agência Brasil, os caminhoneiros afirmam que também fazem paralisações em São Paulo, Mato Grosso, no Espírito Santo, Rio Grande do Norte, em Pernambuco e no Maranhão.
Em Barra Mansa, no Estado do Rio de Janeiro, agentes do setor de inteligência da PRF receberam uma denúncia de que 30 caminhoneiros que estavam reunidos no pátio de um posto de combustíveis interditariam a rodovia, no sentido São Paulo, como parte da manifestação que foi iniciada na região por volta das 11h de segunda-feira. O delegado mandou ouvir os 18 caminhoneiros que chagaram à 90ª DP no início da madrugada e só foram liberados no início da manhã de hoje. Eles negaram acusação e disseram estavam no local para saber se haveria manifestação na manhã seguinte.
O agente da PRF Marcelo de Souza Florenzano disse que com os manifestantes foram encontrados galões de gasolina comprados em um posto de combustíveis próximo e pneus velhos. A intenção era atear fogo nos pneus como parte da interdição da pista.
A PRF não registrou novas tentativas de interdição da estrada até o início da tarde de hoje. Mesmo assim, segundo Florenzano, viaturas da corporação estão fixas nos pontos de concentração dos caminhoneiros e uma faz o monitoramento desse trecho da rodovia.
— A PRF está atenta a possíveis manifestações na Via Dutra, no trecho de Barra Mansa — reforçou Florenzano.
A NovaDutra, concessionária que administra a rodovia, conseguiu uma liminar que proíbe os manifestantes de fecharem a estrada, por isso os veículos ficaram enfileirados no acostamento na manifestação de segunda-feira.
Na segunda-feira, o governo federal atuou para enfraquecer a greve, que no primeiro dia bloqueou 48 pontos de rodovias em 12 estados. Cardozo anunciou que os caminhoneiros que tentarem impedir o “direito de ir e vir” receberão multas de mais de R$ 1,9 mil. Para ele, os líderes do movimento não têm uma reivindicação da categoria dos caminhoneiros, mas uma “pauta política”. Um reflexo disso é a falta de apoio à greve atual por outras entidades da categoria.
Outros sindicatos de caminhoneiros criticaram os protestos ontem. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) classificou como imoral “qualquer mobilização que se utiliza da boa-fé dos caminhoneiros autônomos para promover o caos no país”. Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), filiada à CUT, os caminhoneiros estão sendo usados em prol de interesses políticos. O líder do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), Nelio Botelho, disse na segunda-feira que a força do primeiro dia de greve superou as expectativas da organização. No entanto, afirmou que a entidade não vai participar de eventuais protestos, assim como não atuou na paralisação do primeiro semestre.