
Movimentos sociais pedem ao governador fechamento da travessia Salvador-Mar Grande
Nesta segunda-feira (04/09) completa 12 dias da tragédia Salvador-Mar Grande, que vitimou 19 pessoas. A Marinha continua em busca de uma vítima de 12 anos, desaparecida desde o dia da tragédia.
Moradores da Ilha, o Movimento das Comunidades de Salvador e a Associação Municipal e Metropolitana das Pessoas com Deficiência (Ampdef), realizaram uma manifestação pedindo que a Agerba e o Governo do Estado paralisem as atividades das lanchas que realizam a travessia Salvador-Mar Grande.
Manifestantes:
Movimento Comunidade Salvador
O presidente do Movimento Comunidade Salvador, Afonso Celso, ressalta que o serviço oferecido pelas empresas de transporte marítimo não oferece segurança para os usuários.
“Independentemente de onde moramos, temos o direito de lutar. Somos cidadãos brasileiros, pagamos nossos impostos, contribuímos. Nossa luta, nosso protesto é justamente pedir ao governador que suspenda imediatamente a travessia porque ela é perigosa. Aconteceu esse acidente com 19 mortos. Cinco anos atrás denunciamos essa falta de respeito e fiscalização por parte da Agerba. Vai esperar morrer mais pessoas para tomar uma providência? Esperamos que Rui Costa tome faça alguma coisa, pois nem uma nota o governador deu. Até o momento, quem se posicionou foi o Ministério Público”, concluiu.
Os manifestantes rejeitam a decisão do juiz Substituto de 2º Grau, Adriano Augusto Borges, que, na quarta-feira (30), negou o pedido de suspensão da travessia feito Ministério Público do Estado (MP-BA).
Associação Municipal e Metropolitana das Pessoas com Deficiência (Ampdef)

Presidente da Associação Municipal e Metropolitana das Pessoas com Deficiência (Ampdef). Cledson Cruz- foto Marcele Correia
“Estamos tristes com o comportamento do judiciário baiano. A nossa iniciativa é defender os direitos das pessoas da ilha, das vítimas e dos familiares. Infelizmente, o juiz não acatou a decisão do Ministério Público, o que mostra que ele não conhece a realidade do local. O judiciário deveria se aprofundar antes de tomar qualquer decisão”, diz Cledson Cruz, conselheiro da ilha de Itaparica.
“Estamos há cinco anos alertando sobre a falta de segurança. As embarcações navegam sem número suficiente de coletes salva-vidas. Às vezes, as lanchas recebem mais passageiros do que deveriam. Foi uma tragédia anunciada”, comenta.
De acordo com ele, o movimento está analisando a possibilidade de contratar dois especialistas em navegação para fazer um levantamento sobre as condições de travessia feita pelas empresas CL Empreendimentos – dona da Cavalo Marinho I e a Vera Cruz.
Morador
Sonia moradora há 16 anos, todos os dias faz a travessia e informou que “essa tragédia foi algo irreparável”. Ela lamenta pela perca dos familiares que além de perder o ser humano, aconteceram as perdas materiais.
“Os empresários, até o momento, nada fizeram. Não deram nenhum suporte aos familiares das vítimas. A maior preocupação hoje é com os que ficaram. Como fazer para contornar todo o sofrimento e toda a situação financeira? Os parentes tiveram que dar um jeito para enterrar as vítimas, pois, as promessas feitas pelos empresários no calor da situação, até o momento, não foram cumpridas. A Comunidade da Ilha está formando uma Associação em prol dessas famílias. Estamos sofrendo com esse descaso faz muito tempo: as lanchas são arcaicas, são maquiadas. Esperamos que as autoridades se sensibilizem. Até quando serão negligentes com a vida das pessoas?”, desabafa Sonia.
“Essa tragédia precisou acontecer para que as autoridades e órgãos públicos voltassem a sua atenção. As pessoas tiveram que morrer para o povo da Ilha ser lembrado? Não estamos atrás de dinheiro, nem politicagem, queremos que os responsáveis tenham consideração e que a vistoria das lanchas seja feita. A lancha da tragédia tem mais de 50 anos e a mesma transportava mercadoria. Fizeram uma maquiagem para transportar pessoas”, disse um morador de Mar Grande, Josenilton de 70 anos.
Agerba:
A Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba) informou, por meio de assessoria, que não iria se posicionar sobre a manifestação. As empresas de transporte também foram procuradas, mas, até o momento, não se posicionaram sobre as acusações dos manifestantes.
Por diversas vezes o Click Notícias fez matérias, procurou a Agerba, a Socicam para que dessem explicações sobre denúncias de usuários onde foi abordado as más condições das lanchas que fazem a travessia marítima Salvador-Mar Grande.
O excesso de pessoas, quantidade de equipamentos de segurança ultrapassado, número pequeno de banheiros e problemas de iluminação, falta de acessibilidade para idosos e pessoas portadoras de deficiência motora, foram alguns pontos abordados por nossa reportagem.