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4 October 2024

Novos negócios mudam a cara do centro de Salvador

Alvo de um projeto estadual de reabilitação há nove anos, o Centro Antigo de Salvador – área de 7 km²  que abrange 11 bairros da capital baiana – tem agora um novo capítulo na tentativa de revitalizar a região, com foco no Centro Histórico. É que, em novembro, o Fera Palace Hotel, na rua Chile, abrirá as portas ao público.

O prédio do Palace Hotel, referência de compras e lazer dos anos 30 aos 60, foi restaurado e anunciado como parte  de um projeto da iniciativa privada que inclui moradias, bares, restaurantes, pizzaria, choperia e escritórios.

À frente do projeto está a Fera Investimentos, que comprou 16 imóveis, a partir de 123 negociações imobiliárias. Um deles, na ladeira da Praça, já foi reformado. São três andares de escritórios e, no térreo, alugado para uma franquia de um dos cafés mais populares de Portugal, o Delta Expresso.

O empresário Antonio Mazzafera, sócio e presidente da empresa, tem altas expectativas. Com o empreendimento, espera que soteropolitanos e turistas voltem a frequentar a região. “Espero que o Palace seja uma virada de página no Centro Histórico. Ele pode dar um pontapé inicial. Depois, temos o Fasano (hotel que também está sendo reformado). Queremos criar um polo turístico naquela região”, diz.

O empreendimento da iniciativa privada se une a um conjunto de ações estaduais que, desde 2007, tenta dar nova vida ao Centro. Naquele ano, foi instituído o Escritório de Referência do Centro Antigo (Ercas), que tinha o objetivo de coordenar o plano de reabilitação para a região. Em 2013, o Ercas virou a Diretoria do Centro Antigo (Dircas).

Para o diretor da Dircas, Maurício Mathias, a implantação do hotel evidencia que é possível recuperar outros imóveis para se ter serviços e habitação. “Temos que apoiar projetos como esse. É importante para a requalificação. O governo sozinho não fará a recuperação”.

No entanto, o diretor diz que é preciso que a região tenha um “mix de serviços e moradias”. Questionado sobre o andamento do projeto estadual que há nove anos está em atividade, Mathias diz que prefere não falar em prazos. “É contínuo. Cada dia surgem mais necessidades. É trabalho constante para eternamente fazer”.

“Vida normal”

Secretário de Turismo, José Alves acredita que o hotel ajudará a requalificar, mas, para alcançar este objetivo, é necessário ter “vida normal na região, com moradores, escritórios, padarias e clínicas”. “É preciso habitar de forma que não seja só bar e restaurante”.

Já a Secretaria Municipal de Turismo ressalta que o Palace “contribuirá de forma efetiva para a revitalização da região, promovendo a geração de emprego e renda, além da valorização dos aspectos históricos, culturais e sociais”.

O comerciante Mário Ferreira Filho, 65, aguarda resultados. Há 39 anos, trabalha na rua Chile. Acompanhou momentos de glória do Palace. Assistiu à decadência do imponente imóvel e a fuga de lojas e frequentadores da rua mais antiga de Salvador. Do pai, herdou o comércio, onde já funcionou a Confeitaria Chile. “Era a mais chique de Salvador. As famílias vinham tomar o café das cinco”.

Ele recorda da primeira escada rolante de Salvador, na antiga loja Duas Américas. “Eu vinha para subir nela. Era um passeio”. Com a inauguração de shopping centers, lojas migraram e começou a decadência. “A partir daí, o poder público deixou de olhar o Centro com bons olhos”. Hoje, ele está confiante em um possível retorno dos tempos áureos, mas diz que o hotel sozinho não fará muito: “Se  fizerem tudo que estão programando em vários prédios, creio que vai voltar a ter vida”.

No entanto, Ferreira Filho diz que faltam intervenções na segurança: “Há assaltos por aqui. Falta policiamento ostensivo e  usuários de drogas devem ser encaminhados para projetos sociais”.

A Polícia Militar informa que o Centro Histórico é a região “mais prestigiada com o emprego do policiamento ostensivo em todo o estado”.

Também comerciante, Carlos Rebouças, 75, já teve uma loja de moda masculina no térreo do Palace, mas perdeu tudo após uma forte chuva. Há 50 anos, trabalha na rua Chile. Hoje, mantém uma pequena loja em um dos edifícios do local. As vendas caíram 90%. Ele quer fechar a loja em 2017.

“Não acredito muito na requalificação. Os imóveis estão deteriorados. Não há estacionamento, e os clientes não vêm. O ideal seria construir um shopping a céu aberto”, destaca.

Rebouças frisa que só será possível revitalizar caso os itens do projeto da iniciativa privada sejam implantados. “Se tudo for mesmo aberto, pode ajudar a rua que até a década de 70 era puro glamour, mas só assim”, diz.

Empreendimento visa atrair pessoas da região

A estratégia inicial da Fera Investimentos é atrair pessoas que trabalham nas proximidades, como o Comércio, para o bar e restaurante Adamastor, que funcionará no térreo do Palace. O nome é em homenagem à loja de moda masculina que havia no local, nas décadas de 30 e 40, de propriedade do pai do cineasta Glauber Rocha.

O almoço executivo custará R$ 45, com direito a entrada e sobremesa. “Tem muitas pessoas que trabalham na região e queremos que frequentem o hotel. Essa movimentação tem que ajudar a região, que é muito rica. As pessoas não vêm porque estão com medo. É uma área degradada e queremos mudar isso”, ressalta Antonio Mazzafera.

Além do hotel, a intenção do empresário de fomentar a revitalização conta, ainda, com um estacionamento de 250 vagas que está sendo construído em  área atrás do Espaço Itaú de Cinema, previsto para funcionar em dezembro deste ano.

Em uma segunda fase, a intenção é trazer moradores para um residencial com dez apartamentos que está sendo construído quase na frente do Palace Hotel. As obras já foram iniciadas e têm previsão  de ser finalizadas em 2018. A Pizzaria e choperia estão previstas para 2017.

“Estamos aqui para revitalizar o Centro. Somos contra qualquer tipo de especulação imobiliária. Queremos gerar ocupação. Só no estacionamento e no hotel, serão 200 empregos diretos”, acrescenta.

Restauração
A completa restauração do prédio do Fera Palace Hotel levou cerca de dois anos. A previsão era que fosse inaugurado em outubro deste ano, mas, por conta do restauro, foi adiado para novembro. Mas será feita em um esquema que envolverá menos da metade dos 81 quartos que há no imóvel.

“Será um período para acomodação, treinamento de funcionários, colocar as engrenagens para funcionar. Será aberto com uma tarifa promocional”, diz.

A abertura oficial, com pleno funcionamento, ocorrerá só no Réveillon. Foram restauradas 600 janelas, reforçados 500 pilares e 54 sapatas (bases de concreto) da fundação. Toda a estrutura, segundo o empresário, estava comprometida, corroída e enferrujada.

A principal suíte, a da Torre, tem 110 m². Ela pode ser estendida a partir de seis quartos que podem ser conectados e formam uma área de 400 m². A dimensão corresponde à metade de um andar do hotel.

Há, ainda, na cobertura, uma piscina semiolímpica de 25 metros de comprimento e um bar. Um salão de eventos e festas, onde funcionava o antigo cassino do Palace, foi construído para abrigar até 300 pessoas.

 

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