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27 November 2024
Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha falou sobre a presidente Dilma Rousseff (Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil)

Para Cunha, se Dilma escapar do impeachment terá três anos de “governo capenga”

Presidente da Câmara diz não duvidar de que Planalto consiga votos para se salvar, mas acredita que governo terá maioria “capenga” e pode sair ainda mais fraco mesmo que vença

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, acredita que a presidente Dilma Rousseff pode até conseguir os 171 votos de que precisa para barrar a abertura do processo de impeachment, mas que isso não significa assegurar a governabilidade após o embate. Cunha promoveu na manhã desta terça-feira (29) um café da manhã com jornalistas em seu gabinete na presidência da Casa e falou que em fevereiro entrará com embargos no Supremo Tribunal Federal contra decisões a respeito dos ritos do impeachment, que enfraqueceram politicamente seu papel nesse trâmite.

“Você dizer se o governo terá 1/3 dos votos para impedir o impeachment é uma coisa. Dizer que o governo vai ter governabilidade com esse terço para poder conduzir mudanças é outra realidade. Mesmo que o governo consiga impedir, ele vai impedir com uma margem muito estreita e vai mostrar que não têm uma maioria”, avaliou Cunha. “Se o governo tem condição de amealhar um terço para impedir o impeachment? Pode. Se o governo tem condições de governabilidade com um terço, é difícil”, acrescentou ao dizer que Dilma terá três anos de “governo capenga”.

Cunha diz acreditar que a reeleição do vice-presidente Michel Temer para a presidência do PMDB não deverá ter surpresas. “(Temer) Nunca foi (contestado) até hoje em eleição em que ele disputasse. Se ele quiser disputar será reeleito mesmo que tenha chapa adversária. O único momento em que tentaram contestá-lo foi quando lançaram a chapa do ex-ministro Nelson Jobim, com apoio do presidente da República (Lula) com o próprio apoio do PMDB do Rio na época, e na hora desistiu e não tinha voto nem para começar a composição de uma chapa na convenção”, lembrou.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, recebe jornalistas para um café da manhã nesta terça (Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil)

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, recebe jornalistas para um café da manhã nesta terça (Foto: Wilson Dias/ Agência Brasil)

O deputado relativizou a força do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que andou se estranhando com Temer desde que o vice-presidente da República enviou a Dilma uma carta expondo seus ressentimentos com relação à presidente. “Ele (Renan) também foi bastante duro na candidatura do Jobim e na hora nem compareceu. Alagoas não tem oito votos na convenção nacional. Em relação a 800 delegados, tem 1% da votação”, afirmou. “Acho que o rompimento do PMDB com o governo está a cada hora aumentando. Aí sim esse impacto das eleições municipais vão acabar facilitando um pouco o processo de rompimento porque andar com o PT não vai dar voto para ninguém”.

Liderança na Câmara

Cunha criticou de forma mais clara o líder da bancada do PMDB e seu antigo aliado, Leonardo Picciani, a quem comparou com um assessor do governo no partido, e disse que pretende se envolver na disputa pela escolha do novo líder. Picciani se coloca como candidato à reeleição. Por trás dessa disputa está uma dividida para saber qual será a tendência majoritária do partido na Câmara, já que Cunha é oposição e Picciani governista.

“Isso vai ser uma disputa, voto secreto, normal. Obviamente vai ter disputas, discussões, campanha. Vai ter um mês de campanha. E defendo que tenhamos um líder que não seja nem contra e nem a favor do impeachment. Ou seja, nem contra, nem a favor do governo. Um líder que represente a bancada”, afirmou Cunha, que admitiu um distanciamento do antigo parceiro. “Obviamente (nossa relação) é mais distante do que antes.”

“Se ele tiver dois terços da bancada ele tem legitimidade. Foi isso que a bancada aprovou quando elegeu ele. Ele tem de legitimar. A Campanha é importante para isso, porque tem de assumir compromisso. Mesmo que ele ganhe, ele terá de assumir compromisso, que não é o compromisso de ser o líder do governo na bancada”, disse o presidente da Câmara. Para derrubar as pretensões de Picciani, Cunha diz que dessa vez vai votar na escolha interna do partido. Ele justificou a nova posição com uma série de críticas ao correligionário.

“Tomei essa decisão primeiro por descumprimento que houve por parte do Picciani em relação à lista que ele mandou para (a comissão) do impeachment que ele não compôs com a bancada inteira. Em segundo lugar, por ter atuado como assessor da liderança do governo naquele processo de votação, estimulando a briga no Plenário. Tem imagens de brigas e agressões em que ele fazia parte. O principal assessor dele estava coordenando a agressão. E terceiro pele descumprimento dele do acordo quando ele se elegeu, de que a reeleição se daria por dois terços da banca e que ele apoiaria um nome de Minas Gerais. Então vou cumprir o acordo dele. Se Minas Gerais tiver um candidato único da bancada, vou votar nesse candidato”, completou.

Por Marcel Frota – iG Brasília