“Para mim, não existe” diz Infectologista sobre vacina da Rússia
Médico ainda diz que assunto não é questão de política: “Político não tem que tratar de medicina”
O médico infectologista Adriano Oliveira falou sobre o uso de alguns remédios, como hidroxicoroquina ou ivermectina, tidos por alguns como promissor para o combate do novo coronavírus. Convidado do programa PNotícias, da Piatã FM, desta terça-feira (11), Adriano demonstrou ser contra o uso das medicações e garantiu que nenhum dos remédios tiveram comprovação de eficácia contra a doença. Ele ainda afirmou que este não é um debate político, pois, para ele, político não deve se envolver em decisões médicas.
Questionado sobre a utilização dos remédios, que muitas vezes já entraram como questões políticas, Adriano disse: “Não vou nem falar dos políticos, porque político não tem que tratar de medicina. Político tem que tratar de política, coisa que eles fazem muito mal, na maioria das vezes. Vou falar dos meus colegas e das instituições que nos representam – Sindicato dos Médicos da Bahia, médicos de boa parte do nordeste, associação de médicos – defendendo esse tipo de conduta. Na realidade, a impressão que dá é que essas pessoas esqueceram a ciência e que o que pauta a medicina deve ser a literatura médica. Na literatura médica, não existe sustentação científica para nenhuma dessas pajelanças que as pessoas estão inventando. Isto tudo é uma grande invenção e, boa parte dela, é uma grande jabuticaba que só existe no Brasil. Em nenhum outro lugar no planeta usa esse tipo de coisa, ivermectina é uma delas. As pessoas precisam entender que medicina é experimentação, é ciência, e isso aí não passou, sequer, como experimentação. Aliás, a hidroxicloroquina passou por experimentação e já está mais do que provada que ela não funciona. Não vou nem dizer que ela faz mal, ela não funciona. As pessoas precisam entender que esse tipo de situação é, na realidade, uma grande invenção de gente, ou mal informada, ou mal intencionada”.
Ele pontuou: “As pessoas precisam entender que não existe uma medicação que mate o vírus e nem que previna. Só existe uma medicação que provavelmente funciona para matar o vírus que é o Rendesivir, que infelizmente não existe no nosso país e é uma medicação em experimentação, ainda não temos absoluta segurança que ela é eficaz contra o vírus”. E continuou: “Então, não existe nada que você possa fazer para deter o vírus. Portanto, ficar usando essas medicações de forma irresponsável você só está acrescentando riscos”.
O infectologista também comentou sobre o uso de corticóide na fase inicial da infecção. Desaconselhando o uso do medicamento nesta etapa da contaminação, ou até mesmo na prevenção da doença, o médico alertou que utilizar o remédio sem a real necessidade pode agravar o caso.
“Corticóide funciona na Covid? Funciona, mas na fase final, na segunda semana, quando o paciente tem sintomas respiratórios associados a inflamação. Quando você usa na fase inicial, você, na realidade, está favorecendo o vírus, porque você causa o imunodepressão e faz o vírus se replicar, ou seja, se dividir em maior quantidade, prejudicando a saúde do paciente”, explicou. E disparou: “Então, infelizmente, os colegas e os leigos que estão fazendo isso de forma desorientada, estão prestando um desserviço ao indivíduo e à população”.
Adriano ainda comentou sobre os avanços das vacinas e a reagiu a notícia de que a Rússia havia anunciado nesta terça (11) que registrou a primeira vacina contra o coronavírus. O infectologista é direto em relação à vacina da Rússica: “Para mim, não existe”.
“Da vacina da Rússia eu não tenho a dizer nada porque nunca foi publicado absolutamente nada, então eu não vou deixar que injetem em mim uma coisa que nunca foi publicada um trabalho científico, a gente não sabe os dados, não sabe o quanto funciona, se funciona, não sabe se ali dentro tem água, tem talco, eu não sei o que tem dentro daquilo, portanto, eu não tomaria. A Rússia é um país fechado que não divulga os seus dados. Em ciência existe uma coisa extremamente importante, o que você descobre você tem que divulgar em periódicos científicos. Se não foi divulgado, para mim, não existe. A vacina da Rússia, para mim, não existe”, disparou.
Em relação as outras, ele se demonstra otimista e garante que no ano que vem haverá uma vacina eficaz contra o vírus: “Existem mais de 100 vacinas em estudos e várias em fase final. Já deve estar chegando em 20 as [que estão] em fase final nos estudos. A gente fala muito da Oxford, mas tem várias outras em outros países. É porque a Oxford ficou famosa no Brasil porque foi a primeira a chegar aqui para ser experimentada. Então, certamente, ano que vem nós teremos uma vacina eficaz contra o corona, ta?! E provenientes de países um pouco mais sérios e mais abertos do que a Rússia”.
FONTE: P NOTICIAS