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16 September 2024
Foto: Ilustrativa

Para segurar a inflação juros podem voltar à subir

Ata da última reunião do Copom diz que ‘processo de preços relativos mostram mais demorado e mais intenso que o previsto’

Apesar de o país atravessar a recessão mais grave em pelo menos duas décadas, o Banco Central reafirmou o sinal de que pode vir a apertar ainda mais os juros para controlar a inflação. O BC divulgou nesta quinta-feira a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, em que decidiu manter a taxa básica (Selic) em 14,25% ao ano, mas não por unanimidade. Dois diretores queriam que a alta dos juros já tivesse começado na semana passada para reduzir o risco de o BC não cumprir sua tarefa por dois anos seguidos e deixar a inflação acima da meta também em 2016.

“Avaliando a conjuntura macroeconômica e as perspectivas para a inflação, o Copom considera que remanescem incertezas associadas ao balanço de riscos, principalmente, quanto à velocidade do processo de recuperação dos resultados fiscais e à sua composição, e que o processo de preços relativos mostra-se mais demorado e mais intenso que o previsto”, disse o Copom, que concluiu:

 “Parte de seus membros argumentou que seria oportuno ajustar, de imediato, as condições monetárias, de modo a reduzir os riscos de não cumprimento dos objetivos do regime de metas para a inflação. No entanto, a maioria dos membros do Copom considerou monitorar a evolução do cenário macroeconômico até sua próxima reunião para, então, definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária”.

Os votos pela elevação da taxa vieram dos diretores de Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações do Crédito Rural do Banco Central (BC), Sidnei Corrêa Marques; e de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, Tony Volpon.

Eles foram votos vencidos. E a Selic foi mantida estável pela terceira reunião seguida. Enquanto isso, as previsões para a inflação não pararam de subir. Estão em nada menos que 10,38% para este ano e em 6,64% para 2016. A meta para os dois anos era 4,5% com uma margem de tolerância de dois pontos percentuais.

Essa desancoragem fez com que o BC já indicasse no comunicado divulgado logo após a reunião que poderia voltar a subir os juros. No texto, o Copom retirou a expressão “por período suficientemente longo” que vinha logo após ao trecho que dizia que a taxa de juros seria mantida.

CUMPRIMENTO DA META SÓ EM 2017

O Copom trocou a promessa de se manter vigilante pela que adotará as medidas necessárias para trazer a inflação para a meta em 2017. Os diretores retiraram do texto a expressão “horizonte relevante” e se comprometeram publicamente com uma data certeira, já que muitos analistas entendiam que o horizonte relevante poderia ser no terceiro trimestre do ano que vem.

“O Comitê adotará as medidas necessárias, de forma a assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas, ou seja, trazer a inflação o mais próximo possível de 4,5% em 2016, circunscrevendo-a aos limites estabelecidos pelo CMN, e fazer convergir a inflação para a meta de 4,5% em 2017”.

EVENTOS NÃO ECONÔMICOS

O Copom tem alertado o impacto de eventos não-econômicos na atividade. Desde o início do ano, o país sofre com os efeitos da crise hídrica e de energia e a Operação Lava-Jato, em que várias gigantes nacionais — como a Petrobras e as empreiteiras — estão no meio do escândalo, derrubando investimentos.

Além disso, a crise política e as incertezas do futuro da presidente Dilma Rousseff impactam diretamente as expectativas. Um exemplo de evento fora da economia que abalou as previsões dos analistas é o envio ao Congresso de um orçamento deficitário para o ano que vem.

Por Gabriela Valente/O Globo