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27 November 2024
Foto: Renata Cristiane

PF tenta prender grupo envolvido com lavagem de dinheiro

Dez foram detidos na ação que acontece em Arraial, Cabo Frio e numa penitenciária do Rio

Pelo menos dez pessoas foram presas durante operação deflagrada na manhã desta quinta-feira para desarticular grupo envolvido em crimes de lavagem de dinheiro e peculato, que atua na Região dos Lagos. O objetivo é cumprir 14 mandados de prisão preventiva. Entre os denunciados estão três subsecretários municipais de Arraial do Cabo, além de outros servidores públicos. A Justiça pediu o afastamento dos envolvidos das funções públicas. Também são cumpridos 20 mandados de busca e apreensão em Arraial do Cabo e Cabo Frio, na Região dos Lagos; e na Penitenciária Ary Franco, em Água Santa, na Zona Norte do Rio. Há ainda o sequestro de mais de R$ 20 milhões em bens do grupo, incluindo prédios, terrenos, dezenas de veículos e dinheiro em espécie.

A ação faz parte da segunda fase da Operação Dominação da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio, da Polícia Federal, em conjunto com o Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público.

O esquema foi descoberto a partir de uma apreensão de documentos feita na casa de um dos líderes do grupo: Francisco Eduardo Freire Barbosa, preso em janeiro deste ano na primeira fase da operação. Ele é pai do traficante Cadu Playboy e foi denunciado por lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e de armas.

Além de contar com um operador diretamente responsável por fazer o projeto funcionar, a organização era dividida em dois núcleos: dos lavadores de dinheiro e dos desviadores de recursos públicos. Os líderes do grupo, através de seu intermediário, comandavam tudo de dentro da prisão.

O núcleo que fazia a lavagem de dinheiro, basicamente formado por empresários, atuava mesclando receitas ilícitas, provenientes do tráfico e de corrupção, com dinheiro de origem comprovada construindo, comprando e vendendo imóveis e até firmando contratos com a administração pública local.

De acordo a denúncia, o então secretário municipal e presidente da Empresa Cabista de Desenvolvimento Urbano e Turismo (Ecatur), que integra o poder público e é prestadora de serviços para a prefeitura de Arraial do Cabo, é apontado como gestor financeiro da organização criminosa e atuava também na esfera política, desviando dinheiro público da empresa.

Francisco era responsável por administrar e ocultar o dinheiro ilícito do tráfico de entorpecentes – alvo da primeira operação – e dos crimes contra a administração pública, praticados por ele, parentes, subordinados e associados no município de Arraial do Cabo, adquirindo bens móveis e imóveis, contratando consórcios, investimentos diversos, utilizando-se, para tanto, de contratos particulares, algumas vezes em nome de terceiros, além de desvios da folha de pagamentos. Foi detectada uma variação patrimonial acima do possível. Segundo a denúncia, em três anos, ele movimentou cerca de R$ 5 milhões, apesar de contar com vencimentos mensais de R$ 5 mil.

A investigação contou com a interceptação de conversas telefônicas autorizadas pela Justiça, cruzamento de dados, análise de contas reversas e investigação de campo. O MP também pediu a transferência de Francisco Eduardo para um presídio federal de segurança máxima, além do sequestro dos bens móveis e imóveis dos denunciados.

OUTROS ENVOLVIDOS NO ESQUEMA

Além de Francisco Eduardo, está envolvido no esquema criminoso o subsecretário municipal de governo, Cláudio Sérgio de Mello Correa, que agia junto aos órgãos municipais viabilizando a liberação do dinheiro público. Ele foi citado numa escuta por liberar dinheiro em favor da empresa ORCRIM, que atua junto à Ecatur. Outro denunciado foi identificado como Victor Canela. Na gravação, ele elogia Cáudio Sergio e afirma que ele tem que “estar no grupo” e, inclusive, merece levar vantagem financeira pela atuação, com o que o denunciado Cláudio Sérgio concorda expressamente.

Marcelo Adriano Santos de Oliveira, na condição de secretário municipal de Ordem Pública de Arraial do Cabo, integrava a ORCRIM, atuando com Francisco Eduardo, liberando ilegalmente veículos apreendidos por sua secretaria de depósitos públicos municipais. Ele também favorecia politicamente o líder político da organização criminosa junto aos serviços públicos municipais que chefiava.

Já Sérgio Evaristo Plácido de Aguiar, o Vivi, ocupava o cargo de subsecretário de Serviços Públicos e também desviava dinheiro público para a ORCRIM, atendendo a pedidos do intermediário Victor Canela, que era o “braço direito” de Francisco Eduardo e fazia os contatos determinados por ele com as empresas e com a prefeitura do município.

Segundo as investigações, com o dinheiro dos crimes de tráfico de entorpecentes, Canela fazia os pagamentos das despesas de Francisco, de sua mulher, a denunciada Jane Barboza; e da mãe de seu filho, a também denunciada Raynna Teixeira. Ainda de acordo com a denúncia, muitas despesas de Cadu Playboy também eram pagas com os recursos provenientes dos crimes praticados pela organização criminosa.

Agnaldo Silvio Luiz, novo presidente da Ecatur; e Pierre de Aguiar Cardoso, o tesoureiro da empresa, continuaram a desviar dinheiro público, sob as ordens de Francisco Eduardo, em benefício dele e da organização criminosa.

Também estão denunciados Otto Lavinas Maciokas e Peter Malheiros Maciokas, que utilizaram seus nomes e empresas para ocultar e dissimular o patrimônio obtido pelo grupo, com aquisição de imóveis e veículos. Outros envolvidos são o filho de Francisco Eduardo, Carlos Eduardo Rocha Freire Barboza, conhecido como Cadu Playboy; e Camila Vignoli. Os dois foram beneficiários de negociações de uma cobertura no Recreio dos Bandeirantes e cotas de consórcios de veículos. O suplente de vereador em Cabo Frio, João Gomes da Silva Júnior, também está envolvido na transação da cobertura no Recreio. Já Arivaldo Cavalcante Filho simulava negócio jurídico de cessão de direitos de posse de bem imóvel com o intuito dificultar o rastreamento da origem do dinheiro obtido pela ORCRIM.

PRIMEIRA FASE DA OPERAÇÃO

Na primeira fase das investigações, chamada Dominação I, foi descoberto que a quadrilha era integrada a uma facção criminosa e liderada por Cadu Playboy. O bando atuava no comércio de drogas em comunidades da Região dos Lagos. Playboy também recebia de fornecedores e associados armas e munições de vários calibres, que eram distribuídos ao restante da quadrilha. O traficante ainda recebia auxílio do também denunciado João Paulo Firmiano Mendes da Silva, conhecido como Russão ou Monstro, chefe do tráfico da comunidade da Mangueira, na Zona Norte do Rio.

A quadrilha também praticou crimes eleitorais no primeiro turno das eleições de outubro de 2014. Cadu Playboy convocava moradores de Cabo Frio e São Pedro da Aldeia para a compra de votos e boca de urna em favor de candidatos a deputado estadual e federal. O grupo chegou a praticar atos de violência para afastar cabos eleitorais adversários. O objetivo era lançar a candidatura de pessoas da comunidade ligadas ao tráfico ao cargo de vereador nas eleições de 2016.

Por O Globo