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28 September 2024

‘Piratas da Ribeira’ fazem arrastões, fogem pelo mar e espalham medo na Cidade Baixa

Segundo moradores, jovens saem de Plataforma em ‘catraias’ para cometer crimes
 No romance do escritor Jorge Amado, eles eram tachados como heróis no estilo Robin Hood – um fora da lei mítico inglês que roubava da nobreza para dar aos pobres. Mas os Capitães da Areia que atualmente cruzam o mar entre as praias de Plataforma e Ribeira, em Salvador, estão mais para piratas a serviço do tráfico. Eles atravessam de uma ponta a outra para assaltar e espalhar o terror em parte da orla da Cidade Baixa.

São adolescentes, entre 15 e 17 anos, que saem da praia de Plataforma em catraias (pequenas embarcações a remo, normalmente usadas por pescadores) para fazer arrastões na orla da Ribeira. Os ataques são de preferência à noite, quando deixam as localidades conhecidas como Ladeira do Mocotó e São Brás, ambas rentes à praia de Plataforma, trechos dominados pela facção Bonde do Maluco (BDM).

O caso mais recente – e não é o único – aconteceu no domingo, conforme denúncia da coluna Satélite, do CORREIO. Duas cantoras conhecidas de Salvador foram vítimas de um arrastão no domingo, na praia da Ribeira, quando foram abordadas por um assaltante. Após levar os pertences das artistas, o ladrão roubou outras pessoas que caminhavam no local. Para surpresa de todos, o bandido fugiu em um barco que o esperava na baía.

O CORREIO esteve no local na manhã dessa terça-feira (26), e comerciantes e moradores confirmaram a ação dos criminosos no domingo. No entanto, as polícias Civil e Militar informaram que não houve registros do fato (veja mais ao lado). A Marinha do Brasil informou também desconhecer o assalto.

Na roda formada só por homens em frente à Igreja da Penha, na Ribeira, a conversa estava longe de ser mais uma história de pescador. A ação dos “piratas” era o assunto da manhã.

“Eram três. Chegaram numa catraia e roubaram todos que estavam na areia”, comentou um dos comerciantes e morador do local.

De acordo como o grupo, o assalto aconteceu no início da noite, no trecho da faixa de areia da praia que fica em frente à igreja – olhando o horizonte, é possível traçar uma reta imaginária até a praia de Plataforma. “Aqui fica lindo à noite, bem iluminado e as pessoas têm o hábito de caminhar e tirar fotos, principalmente dos casais”, disse outro morador.

No domingo, três rapazes desceram da embarcação, mas apenas dois deles seguiram e abordaram as pessoas – o terceiro ficou tomando conta do barco.

“Eu não sei se as mulheres são artistas. Só sei que eles fizeram um arrastão com todo mundo que estava na praia. Pelo menos um deles estava com um revólver. Depois que fizeram a limpa, caíram fora na catraia”, relatou o morador.

“Eles foram de atitude. Vieram e voltaram a remo. Se a polícia tivesse passado na hora, dava para pegar eles. Poderiam ter pego um barco e pegá-los ainda no início da travessia”, comentou um outro morador.

“Hoje, quando vejo uma catraia se aproximando da areia à noite, já fico ligado”, emendou mais um comerciante.

Tiros
O arrastão de domingo não foi um caso atípico, pelo contrário, tem acontecido há pelo menos seis meses. “Desde quando retiraram as barracas de praia que os ladrões começaram a vir de Plataforma para cá. Quando os barraqueiros estavam aqui, se um desses rapazes chegasse para roubar, era cercado e surrado por todo mundo. Agora, junta a retirada das barracas com a falta de policiamento, a bandidagem começou a fazer a festa. A situação estava tão crítica, que um policial civil que mora por aqui botou uns três pra correr a tiros. Os ladrões fugiram a nado”, contou um comerciante do local.

“Não sei por que eles voltaram a agir no domingo. Se nada for feito logo, vai voltar como era antes. Os poucos turistas que vêm aqui ficam deslumbrados com a beleza da praia à noite, mas a gente informa os riscos. No entanto, alguns ignoram e aí já sabe né?”, complementou o comerciante.