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1 October 2024
Foto: Reprodução

Por modificação genética, cientistas permitem que algas transportem medicamento capaz de matar células do câncer

O estudo, feito por pesquisadores australianos, foi publicado na Nature Communications.

A aplicação de nanopartículas de grafeno (forma cristalina do carbono, resistente e biodegradável), aumentou muito nos últimos 10 anos, por conta de sua capacidade de armazenar medicamentos contra o câncer em seu interior, facilitando o transporte através da corrente sanguínea. Algumas delas podem, inclusive, aquecer quando acionadas, acarretando em uma desintegração ao atingir a célula cancerígena alvo.

Este novo estudo utiliza o método de entrega de nanopartículas de forma um pouco diferente. Em vez de usar nanopartículas à base de carbono, os pesquisadores optaram pelo silício. Neste caso, eles usaram as diatomáceas, um tipo comum de algas que fazem fotossíntese. Estes organismos minúsculos são compostos por sílica que, embora sejam resistentes à erosão, são totalmente biodegradáveis, assim como grafeno.

Os cientistas reforçaram a Thalassiosira pseudonana, uma diatomácea comum, com uma concha “extra”, criando uma conexão eficaz a um certo tipo de anticorpo. Assim, os pesquisadores conseguiram um ponto de fixação para os anticorpos de direcionamento celular ao câncer.

Os alvos da pesquisa foram os neuroblastomas, uma forma rara de câncer normalmente encontrada na glândula adrenal de crianças; e tumores de linfoma de células B. As conchas de algas geneticamente modificadas foram revestidas com anticorpos que, especificamente, tinham estas células como alvo.

As drogas de quimioterapia foram ministradas à concha, com testes feitos em laboratório e em ratos vivos. Em ambos os casos, a eficácia foi comprovada. Pequenas doses mataram até 90% das células cancerígenas em uma Placa de Petri, e uma dose dada a ratos diminuiu significativamente os seus tumores. O estudo afirma que a biosílica de algas com doses da droga anticâncer parecem ser eficazes para uma futura administração orientada.

Anteriormente, nanopartículas de sílica tinham implicações negativas por uso de produtos químicos tóxicos. Porém, as algas podem ser cultivadas de forma rápida e barata usando apenas água e luz, além de serem perfeitamente biodegradáveis. Além disso, este método deixaria as células-alvo saudáveis e ​​intactas, diferente da quimioterapia tradicional.

“Embora ainda seja cedo, este sistema de entrega pode ser adaptado e possui um grande potencial para o tratamento de tumores sólidos, incluindo tumores cerebrais atualmente incuráveis”, disse o professor Nico Voelcker, especialista em nanomedicina na Universidade da Austrália do Sul, e principal autor do estudo.

Por Bruno Rizzato/Jornal Ciência