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1 October 2024

Por que este slogan do governo Temer deu errado? Professor explica

O Brasil voltou, 20 anos em 2.” Diogo Arrais, professor de língua portuguesa, explica por que foi uma escolha lexical infeliz

Um lema ordinário, produzido pela assessoria do Governo Temer, espalhou-se na semana passada: “O Brasil voltou, 20 anos em 2.”

À visão dos críticos sobre Política, a frase dúbia reflete quão falha vem sendo a comunicação presidencial.

Sem as revisões semântica (sobre o sentido) e gramatical, uma sentença solta nem sempre revelará a intenção comunicativa. O verbo “voltar” pode referir-se a “ressurgir” ou “reaparecer”, mas nessa específica situação expõe mais o sentido de “retroceder”. Foi uma escolha lexical infeliz.

Na escrita, a vírgula daquela forma tem o mesmo papel de dois-pontos ou do próprio travessão. Na fala, na pronúncia, está ali o grande problema: “regressar 20 anos em 2” interrompe a intenção do governo, gerando a ambiguidade, a dupla compreensão (algo jamais bem-vindo neste momento de tanta turbulência no cenário brasileiro).

Quando questionei, em uma mídia social, sobre o porquê de determinados assessores, um defensor de Temer cravou a seguinte redação:

“Assessoria para o quê? Assessoria para a comunicação política, oras!”

Nos tempos do Novo Acordo Ortográfico (com a retirada do acento gráfico diferencial em “para”), não me pude conter, retruquei e apontei uma dubiedade:

Essa assessoria temerária sim: para, trava, interrompe, não vai além.

Ironia à parte, a intenção do defensor foi usar “para” como elemento prepositivo, a fim de indicar a finalidade.

Um “para” já estampou uma placa terrível na cidade de São Paulo:

“Mais uma obra PARA o trânsito.”

Por esses e outros motivos, diversos estudiosos de nossa Língua Portuguesa defendem o retorno do diferencial em “PARA (preposição) e PÁRA (verbo)”, com o intuito da extinção de possíveis dubiedades ou compreensão indevidas.

As revisões semântica e gramatical devem ser um exercício diário: ler em voz alta; refletir sobre a seleção de palavras; revisar a norma antes da divulgação; reescrever, se houver necessidade.

Conclusão: a transmissão de mensagem com descuido tem como consequência a recepção com o mesmo descuido.

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