Preço da carne sobe quase 18% em dezembro e puxa ‘prévia da inflação’, que tem maior alta em 4 anos
RIO — Fazer churrasco neste fim de ano ficou mais caro para os brasileiros. Em dezembro, o preço da carne subiu 17,7%, segundo dados do IPCA-15, considerado a prévia da inflação, divulgado pelo IBGE nesta sexta-feira. O preço da proteína puxou o índice para 1,04% no mês, na comparação com novembro deste ano, gerando a maior inflação para dezembro dos últimos quatro anos. Também é a maior para um mês desde junho de 2018.
A alta da carne, observada pelo consumidor desde outubro, decorre de uma combinação de fatores. O principal é o aumento das exportações brasileiras para China, cujos rebanhos de porcos foram reduzidos à metade pela febre suína.
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Com a menor oferta no mercado, chineses se viram obrigados a importar outros tipos de carne do exterior, como a bovina e a de aves, afetando o Brasil. Nos restaurantes, o buffet já tem preço diferenciado.
Como os chineses pagam mais e o dólar em alta aumenta os ganhos, os produtores brasileiros preferiram aumentar a exportação para o país asiático, o que reduziu a oferta interna e elevou os preços por aqui. Desde outubro, o preço da proteína bovina subiu mais de 20% no IPCA-15.
Em 2020, carne deve parar de subir
Analistas explicam que o resultado de dezembro foi influenciado pelo aumento de mais de 50% no preço da carne no atacado em novembro, e que foi sentido de modo mais intenso por conta da demora ao chegar no varejo por conta dos estoques.
Eles afirmam que, em 2020, o preço deve parar de subir, uma vez que o preço da proteína já está cerca de 10% abaixo pico registrado nas últimas semanas, gerando a expectativa de efeitos inflacionários menores para os próximos meses.
— Quando olhamos pra frente, temos que olhar o preço do atacado, subiu muito e só agora chegou ao consumidor do varejo. Tinha-se dúvidas com contágio para outras carnes, mas o preço de frango e outras proteínas vieram abaixo das projeções. É algo concentrado nesse tipo de proteína (bovina)— afirma Julia Passabom, economista do Itaú.
Para Felipe Sichel, estrategista do Modalmais, os preços se transmitiram parcialmente para o grupo de alimentação fora do domicílio (0,79%), mas não com uma disparada elevada, como era esperado por conta do aumento de custo do insumos.
— Há pouca capacidade de repasses. O consumo está fortalecendo na margem, mas isso ainda não está sendo sentido nos estabelecimentos — afirma.
Pesquisadores do Ipea afirmaram, em estudo publicado na quinta-feira, que o preço deve parar de subir 2020, e não cair nos próximos meses. Eles acreditam que o efeito tende a aumentar a inflação no curto prazo, mas deve declinar à medida que o equilíbrio do mercado, com ampliação da oferta, se restabeleça
No ano, o indicador ficou em 3,91%, acima dos 2,67% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. O índice ficou abaixo da meta estabelecida pelo Banco Central para 2019, de 4,5%.
Os dados para o IPCA, considerado índice oficial de inflação do país, serão divulgados pelo IBGE no dia 10 de janeiro.