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28 November 2024
(Germando Luders/Veja)

Preço das frutas chega a ficar 35,87% mais caro em Salvador

Com o preço das frutas em alta, o jeito que o consumidor encontrou para não deixar de consumir foi não só pesquisar, mas também negociar. Preço do maracujá assustou, mas é possível encontrar uma boa promoção.

Há cerca de um mês, o suco de fruta da hora do almoço perdeu lugar na mesa da dona de casa Aline Mota, que substituiu a bebida pela mistura para refresco em pó.  “Com o dinheiro que eu ganho tenho que fazer render né? O que não pode é faltar”, conta. A economia da dona de casa tem motivo. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) medido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE), em Salvador, a alta do preço das frutas no acumulado de 12 meses em fevereiro chegou a 35,87%, número maior que a média nacional que ficou em de 23,89%.

A química Cátia Maltez (ao fundo), se juntou com as filhas Clarissa  e Joana para diminuir o custo da feira (Foto: Betto Jr.)
A química Cátia Maltez (ao fundo), se juntou com as filhas Clarissa e Joana para diminuir o custo da feira (Foto: Betto Jr.)

“É um impacto proveniente do clima. O verão diminuiu a possibilidade de oferta o que acabou encarecendo os preços das frutas”, explica o economista da Fundação Getúlio Vargas, André Braz. Até o meio do ano, o consumidor vai ter que abrir mão da fruta que no momento está mais cara e buscar as que estão em promoção, se quiser economizar. “Com aproximação do inverno e a regularidade das chuvas, o preço tende a cair”, completa Braz.

O CORREIO passou pelas Feiras de São Joaquim, Sete Portas, por banquinhas próximas às sinaleiras no bairro da Barbalho e mais quatro supermercados e mercadinhos do Alto das Pombas, Engenho Velho da Federação, Nazaré e Engenho Velho de Brotas em busca de onde o preço das frutas está mais em conta. Ao todo, a reportagem esteve em dez estabelecimentos e viu que entre as frutas que registraram uma alta maior no preço, o maracujá ganha disparado a disputa. O quilo da fruta – que deveria acalmar os ânimos em tempos de crise – ficou por R$ 11,99, no Supermercado G Barbosa do bairro de Brotas.

RTEmagicC_pesodainflacao.jpgAinda assim, não vai ser preciso abrir mão do mousse de maracujá na hora da sobremesa. Na Casa das Frutas São Felipe, no Engenho Velho de Brotas, a reportagem achou o quilo da fruta por R$ 4,99.  O valor chega a ser 226,6% mais barato do que os quase R$ 12 cobrados pelo local mais caro. Segundo o proprietário da venda, Jovemário Marinho, até a “quebra” entra no jogo de negociação para  que o cliente não deixe de comprar. “A gente faz o possível para não deixar ele sair de mão vazia”.

Também dá para achar fruta em promoção em supermercados. O quilo da maçã nacional no Extra Vasco da Gama está custando R$ 4,28. Em outros lugares, o preço é quase o dobro, chegando a R$ 8,95.

Mesmo com outras frutas em oferta, foi a laranja que ficou no “precinho”. O quilo saiu por R$ 1,60 na Casa Laranja e Cia, no bairro de Nazaré. O preço mais salgado foi encontrado na banca de frutas em uma sinaleira em frente ao Colégio Iceia, no Barbalho, onde o “sacolão” com doze laranjas custava R$ 3,00.

Feira compartilhada

O jeito que a química Cátia Maltez encontrou para reduzir a despesa com as frutas foi dividir a feira com as filhas, Joana e Clarissa. Juntas, elas conseguiram economizar, cada uma, cerca de 71,4% com a feira da semana. Cada uma delas gastava em média R$ 60 por semana, ou seja, uma feira de R$ 180. Com a divisão, a feira passou a ser de R$ 104, ficando R$ 35 para cada. “Além de economizar, evitamos o desperdício”, conta Cátia.

A ideia surgiu quando Clarissa descobriu, por meio das redes sociais, um serviço delivery de entrega de frutas e legumes orgânicos, com preços bem abaixo do que encontraria no supermercado. “Conseguimos comprar produtos orgânicos por um preço muito próximo de frutas e legumes que não são orgânicas. Valeu a pena comprar em quantidade e dividir ”.

Segundo Joana, que vai a supermercados várias vezes por semana, o preço da laranja orgânica, que saiu por R$ 3 a dúzia, foi o mais em conta. “Se  a gente comprasse no supermercado o que compramos para as três, seria (no valor) de feira de uma só”, garante.

Variação das frutas mais caras

Maracujá de R$ 4,99 (Casa das Frutas São Felipe, no Engenho Velho de Brotas) até R$ 11,99 (G Barbosa de Brotas)

Uva de R$ 7,99 (Mercado Central, no Alto das Pombas) até R$ 19,16 (Bom Preço da Vasco da Gama)

Manga de R$ 2,99 (Laranja e Cia, em Nazaré) até R$ 6,29 (Supermercado Extra da Vasco da Gama)

Clima diminui a oferta e aumenta os preços

No cenário econômico atual, a perda do poder de compra do consumidor seria um dos principais motivos para a diminuição do consumo de frutas, já que uma menor demanda tenderia a levar à baixa de preço. No entanto, a interferência do fenômeno climático El Niño – que provoca o superaquecimento das águas do Oceano Pacífico – no desempenho da agricultura é responsável pelo encarecimento do preço das frutas no Brasil.

“Entre novembro do ano passado e meados de janeiro deste ano, a forte insolação da baixa umidade relativa do ar provocada pelo El Niño abortou as flores desses produtos e o envelhecimento precoce das folhas. Tudo isso ocasionou a baixa produtividade e a baixa qualidade das frutas”, explica o presidente do Instituto da Fruta do Vale do São Francisco, Ivan Pinto.

O Vale do São Francisco é a maior região produtora de frutas da Bahia. Para completar, do meio de janeiro para o início de fevereiro, choveu mais do que o esperado em todo o ano na região, mais um fator a interferir na produção. “O que tinha sobrado da situação anterior não resistiu e tornou o cenário ainda pior”.

As lavouras de uva, manga, melão e maracujá foram as que mais sofreram. “A baixa oferta no período fez com que o preço das frutas se elevasse”, acrescenta o presidente do Instituto da Fruta. Segundo ele, a previsão é que até o meio do ano a situação climática esteja normalizada e os preços das frutas comecem a cair. “A complicação no final do ano e o excesso de chuva logo após dificultou muito a produtividade da lavoura de frutas. Mas isso começa a melhorar agora com a regularização das chuvas”.

Polpa caseira é uma boa alternativa

Segundo a nutricionista e gastrônoma Mariana Andrade, uma boa opção para quem quiser aproveitar o preço mais em conta de uma determinada fruta sem ter que abrir mão das suas propriedades nutricionais está no congelamento ou na preparação de polpas caseiras. “Este tipo de alternativa possibilita que as frutas possam ser aproveitadas sem que haja perda de nutrientes”, diz.

Para a a polpa caseira, a receita é muito fácil. Basta bater com pouca água e sem açúcar uma determinada quantidade de fruta, armazená-las em cubas ou saquinhos para “geladinho” e deixa-las no congelador. “É ideal para quem não abre mão de tomar suco”, reforça a nutricionista. Frutas como acerola e manga podem ser aproveitadas desta maneira. Assim como banana e abacate, explica Mariana. “A fruta pode ir para o congelador em pequenas porções, sem bater, para depois ser utilizada na preparação de vitaminas”, ensina a nutricionista.

Se a preferência é pela comodidade das polpas vendidas prontas, a nutricionista recomenda que o consumidor observe no rótulo se há na composição do produto algum tipo de componente além da fruta. “Vale a pena ter esse cuidado para saber o que está levando para casa”.

Vale também otimizar o consumo para equilibrar a quantidade de nutrientes, como acrescenta Mariana. “Quando fica caro manter o consumo daquela fruta, nada impede que se reduza a quantidade e aumente o consumo de vegetais ou verduras que possuem a mesma quantidade de nutrientes. Não deu para levar mamão? Leva mais cenoura, que tem o mesmo betacaroteno”, afirma.

Dica da semana: economize na Feira

1) Fruta do momento:  prefira as frutas de época. As frutas que não são do período sempre estão mais caras.

2) Pesquise bastante:  Na hora de comprar aproveite os dias de promoção. A variação do preço da mesma fruta de um lugar para o outro pode fazer a diferença.

3) Evite o desperdício:  Se não a economia não vai valer a pena. Leve só o necessário.

Por Correio