Prisão de Odebrecht não interrompeu as propinas, diz MP
A Operação Lava Jato chegou definitivamente ao caixa dois do Grupo Odebrecht. Os mandados de busca e apreensão cumpridos nesta terça-feira (22) na 26ª fase da operação jogam por terra a linha de defesa do empreiteiro e herdeiro Marcelo Odebrecht, que sempre argumentou na Operação Lava Jato que ele não detinha conhecimento de todas as estruturas da companhia e que tampouco adentrava no dia a dia das empresas do grupo.
A nova etapa das investigações, batizada de Xepa, desvendou um esquema estruturado de pagamento de vantagens indevidas pelo Grupo Odebrecht e mostra que pelo menos até novembro de 2015 há registros de tratativas de pagamentos de dinheiro sujo feitas por executivos.
A nova fase da Lava Jato deve evidenciar ainda que o próprio marqueteiro João Santana, responsável pelas últimas campanhas publicitárias do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, foi beneficiário direto de um esquema paralelo de pagamentos da Odebrecht. Os repasses foram feitos por uma estrutura específica no Setor de Operações Estruturadas da companhia. Nele, um sistema informatizado próprio processava o pagamento de propinas e permitia a comunicação sigilosa entre executivos e funcionários envolvidos nas tarefas ilícitas. Nos papéis coletados pela PF, os beneficiários estão registrados por codinomes. Ao lado, valores elevados relacionados a contratos em todo o país. De todos os codinomes, um dos mais vistosos é “Feira”, em referência a Santana e à esposa dele, Mônica Moura.
São pelo menos 14 executivos de diversos setores do Grupo Odebrecht que davam ordens para os pagamentos paralelos do conglomerado. “Essas evidências abrem toda uma nova linha de apuração de pagamento de propinas em função de variadas obras públicas”, disse o Ministério Público. Para os investigadores, as evidências de pagamento de propina em escala mostram que repasses de dinheiro sujo eram um “modelo de negócios” da Odebrecht. “Obtiveram-se mais evidências contundentes de que [Marcelo Odebrecht] não apenas tinha conhecimento e anuía com os pagamentos ilícitos, mas também comandava diretamente o pagamento de algumas vantagens indevidas, como, por exemplo, as vantagens indevidas repassadas aos publicitários e também investigados Monica Moura e João Santana”, diz o MP.
Em nota divulgada à imprensa nesta terça-feira, a Odebrecht confirma que a Polícia Federal cumpriu hoje mandados de prisão, condução coercitiva e busca e apreensão em escritórios e residências de integrantes em algumas cidades no Brasil. “A empresa tem prestado todo o auxílio nas investigações em curso, colaborando com os esclarecimentos necessários”, diz a nota.
Mandados judiciais
28 mandados de condução coercitiva
(Alvos com múltiplos endereços)
11 mandados de prisão temporária
(Alvos com múltiplos endereços)
04 mandados de prisão preventiva
(Alvos com múltiplos endereços)
Os 67 mandados de busca e apreensão estão divididos da seguinte forma:
São Paulo: Guarujá (1), Guarulhos (1), Jundiaí (2), Valinhos (1) e São Paulo (25)
Rio de Janeiro: Angra dos Reis (1), Rio de Janeiro (17)
Bahia: Salvador (7), Mata de São João (1)
Distrito Federal: Brasília (4)
Pernambuco: Recife (4)
Minas Gerais: Belo Horizonte (2), Nossa Fazenda (1)
Rio Grande do Sul: Porto Alegre (1)
Com informações da revista Veja