Quem é Margareth Menezes, escolhida por Lula para comandar o Ministério da Cultura
Cantora e compositora com mais de 35 anos de carreira, Margareth Menezes confirmou nesta terça-feira que foi convidada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aceitou ser titular a pasta da Cultura em 2023, que voltará a ter status de ministério no terceiro mandato do petista . Soteropolitana como Gilberto Gil — nome mais célebre a ocupar o cargo, entre 2003 e 2008, também convidado por Lula —, Margareth teve sua indicação respaldada pela futura primeira-dama, a socióloga Rosângela Silva, a Janja.
— Foi uma conversa muito animadora para a gente que é da cultura. Nós conversamos e eu aceitei a missão. Recebo isso como uma missão dele. Foi uma surpresa para mim também, o meu processo até de entender essa minha representação e entendendo também a necessidade da gente fazer uma força tarefa para agente levantar o Ministério da Cultura. O presidente disse que para ele é de uma importância muito grande e que ele está querendo fazer um Ministério da Cultura forte forte para atender os anseios do povo da cultura, do povo do Brasil pelo potencial que a nossa cultura tem, pela nossa riqueza.— afirmou Menezes ao sair do hotel onde Lula está hospedado.
Antes de se tornar uma das maiores referências da música baiana, integrando a geração dos anos 1980 que consolidou o movimento que viria a ser conhecido nacional e internacionalmente como Axé Music, Margareth Menezes da Purificação começou a cantar no coral da Igreja da Congregação Mariana da Boa Viagem. Mais velha de cinco irmãos, a filha da costureira Diva e do motorista Adelício ganhou uma guitarra em 1977, aos 15 anos, e tempos mais tarde passaria a cantar em bares da capital baiana.
A estreia nos palcos, porém, foi como atriz. O primeiro contato foi no grupo teatral de sua escola, o Centro Integrado de Educação Luiz Tarquínio, na Boa Viagem. Na época, ela integrou o elenco de montagens como “Ser ou não ser gente” (1980), no Teatro Vila Velha, em Salvador, e “Máscaras” (1981), de Menotti Del Picchia, sob a direção de Reinaldo Nunes, fundador da Companhia Baiana de Comédias. Em 1983, Margareth participou da criação do Gran Circo Troca de Segredos, histórica lona montada na Praia de Ondina, nos moldes do Circo Voador, inaugurado um ano antes no Arpoador, Zona Sul do Rio.
‘Faraó – Divindade do Egito’
Após uma passagem pelo grupo Amoras Lá Em Casa, em 1985, Margareth Menezes dá início à carreira musical no ano seguinte, apresentando-se no Teatro Castro Alves pelo tradicional Projeto Pixinguinha, criado em 1977 pela Funarte. Em 1987, recebe o convite do produtor Djalma Oliveira para interpretar “Faraó – Divindade do Egito”, o primeiro samba-reggae gravado no Brasil, que vendeu mais de 100 mil cópias.
Era o momento em que o movimento superava os limites do carnaval baiano e para ganhar destaque nacional, ao som dos chamados blocos afro como o Olodum, o Ilê Aiyê e o Muzenza; de cantores como Margareth, Luiz Caldas, Gerônimo, Márcia Freire, Daniela Mercury, Alinne Rosa, e de músicos como Carlinhos Brown e Neguinho do Samba. Em 1988, a cantora assina contrato com a PolyGram e lança seu primeiro álbum, que leva seu nome, em novembro do mesmo ano, embalado por outro hit, “Elegibô – Uma história de Ifá”.
Já com renome nacional, dá início à carreira no exterior após o convite de David Byrne, então líder do grupo Talking Heads, para abrir em 1990 a turnê mundial de seu segundo disco solo, “Rei Momo” (1989). No mesmo ano, seu terceiro disco solo, “Ellegibô” foi eleito pela “Rolling Stone”, como um dos cinco melhores da world music em todo o mundo.
Nas décadas seguintes, Margareth lançou outros oito álbuns de estúdio e mais cinco ao vivo, com o reconhecimento de várias premiações nacionais e duas indicações ao Grammy e Grammy Latino, e foi eleita em 2002 uma das cem personalidades negras mais influentes do mundo pela MIPAD (Most Influential People of African Descent), instituição chancelada pela ONU.
ONG e movimento cultural
Em paralelo à carreira musical, a cantora desenvolveu um projeto de formação de jovens no campo da da arte, educação e cultura, a Fábrica Cultural. Inaugurada em 2004, a ONG atua desde 2008 no bairro da Ribeira, onde Margareth nasceu, e outras comunidades carentes da capital baiana.
Em 2005, Margareth fundou o movimento Afropop Brasileiro, voltado a destacar e festejar a cultura negra no Brasil. Seus cortejos têm a participação dos principais blocos afros e dos maiores artistas baianos. Sua história será contada em uma biografia escrita por Djamila Ribeiro e um documentário dirigido por Joelma Oliveira Gonzaga, que estão em andamento.
No ano passado, a cantora foi nomeada embaixadora da cultura popular do Brasil pela Unesco. Após a eleição de Lula em outubro, Margareth foi anunciada para o grupo técnico para a transição (GT) da Cultura, ao lado do músico e poeta Antônio Marinho, a deputada federal Áurea Carolina (PSOL-MG); o ex-ministro da pasta Juca Ferreira; a atriz Lucélia Santos; e Márcio Tavares, secretário Nacional de Cultura do PT. Seu nome foi crescendo como uma das possíveis opções para o ministério junto ao de outros artistas, como Daniela Mercury, Marieta Severo, Chico César e Emicida.