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1 October 2024

Rotas do medo: onde motoristas de Uber e outros apps não entram no DF

 

“Qual o local de destino?” A mensagem de texto do motorista Victor*, 35 anos, é logo enviada ao passageiro que solicita seu serviço por meio de aplicativo. Sanar essa dúvida se tornou rotina para ele quando o relógio começa a marcar as horas mais tardes da noite. A depender da resposta, o condutor pode cancelar o trajeto antes mesmo do início da viagem. O motivo? Preservar a própria segurança, explica. Sem saber quem transporta até um ponto de pouco policiamento, sente-se vulnerável.

“Tem lugares que só deixo passageiro, nunca busco. Taguatinga, Samambaia, Recanto das Emas e Riacho Fundo são alguns”, diz o motorista. “Tentaram roubar meu carro em mais de uma ocasião. Tive que acelerar o máximo antes de me abordarem, fugindo com o passageiro dentro do veículo.”

Victor está há dois anos no ramo. Ele não sabe precisar quantas corridas realiza por dia. O expediente puxado de quem roda o Distrito Federal de 4h da manhã até 22h, como é o caso, torna necessárias algumas cautelas. Os relatos de colegas dele que ficaram em situações de risco e, principalmente a própria experiência, fizeram com que o motorista deixasse de percorrer todas as rotas assinaladas pelo GPS.

As estatísticas oficiais dão razão a Victor. Neste ano, ao menos 50 motoristas de aplicativo foram vítimas de roubo até esta terça-feira (14/05/2019), segundo a Polícia Civil do Distrito Federal.

Metrópoles mostrou, em novembro, que os principais motivos para as viagens negadas, canceladas ou interrompidas são: falta de infraestrutura, como em Vicente Pires e Sol Nascente; e medo da violência, a exemplo da Estrutural, Ceilândia, Samambaia e Sobradinho II. Agora, exclusivamente por questões de insegurança, novas localidades se somam à lista.

Taguatinga, Samambaia, Ceilândia e Plano Piloto. Juntas, essas regiões administrativas concentram 75,7% dos registros de assalto contra trabalhadores da categoria. Os dados são da pesquisa realizada pela PCDF entre 2017 e os quatro primeiros meses de 2019.

Casos de roubo ao veículo são maioria expressiva, representando cerca de metade das 152 ocorrências até abril. A amostra inclui ainda assalto a transeuntes e diversos, além de roubos de celulares e dinheiro dos motoristas.

Já outras naturezas criminais se destacam não pela frequência, mas pela brutalidade. Uma tentativa de latrocínio em maio – data posterior à pesquisa da PCDF – agrava esse quadro. Quatro criminosos, sendo três adolescentes e um adulto, acionaram um aplicativo em Ceilândia, durante a madrugada, com destino a Samambaia. O grupo anunciou o assalto apenas no final da viagem. Eles espancaram o motorista e o jogaram em uma ribanceira.

“Aqui não é lugar de pegar corridas”
Em uma manhã de maio, Matheus*, 40, motorista de aplicativo, acabava de deixar um passageiro no Recanto das Emas. No entanto, um pouco antes do término da viagem, ele foi acionado para buscar uma outra pessoa na Quadra 510 da região. Ele havia esquecido de informar ao sistema que não desejava corridas pela área, mas acabou aceitando.

Ao se aproximar do ponto de encontro, o homem tomou a precaução de costume: manteve afastado, resguardado, por conta de outros incidentes anteriores. De onde estava, pôde observar três rapazes agachados exatamente no local marcado. Um outro jovem parado ao lado de uma moto estava próximo ao grupo.